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Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sábado, 5 de setembro de 2015

Colômbia: Capitão do exército afirma que Uribe ditava ordens para cometer assassinatos junto às AUC




Por El inciso.com-Las dos Orillas / Resumen Latinoamericano/

O capitão do Exército Adolfo Enrique Guevara Cantillo, conhecido como ‘101’, foi até 2004 o chefe do GAULA no departamento do Magdalena (grupo de elite do Exército Nacional contra a extorsão e o sequestro) e, ao mesmo tempo, desde 1998, teve a dupla função de substituto do chefe principal do grupo paramilitar “Jorge 40”. Ou seja, sendo militar ativo era também membro dos exércitos paramilitares. Guevara não era um infiltrado, trabalhava abertamente para os dois grupos armados, o legal e o ilegal, do que sabiam e protegiam os altos comandos, como o general Mario Montoya, que chegou a ser Comandante do Exército da Colômbia. Coordenava no norte do país a colaboração criminosa que se deu entre o grupo armado estatal e o ilícito paramilitar, principalmente durante o governo de Álvaro Uribe Vélez, de quem disse ter recebido ordens para cometer assassinatos.

Afirma que a sugestão de fazer parte dos paramilitares foi de um superior seu: “foi meu superior, que descanse em paz, Salazar Arana, que foi comandante do GAULA do Atlântico nessa época”, disse ‘101’. Em seu extenso relato, colido no vídeo que acompanha este artigo, Guevara Cantillo defende que o regime de execuções extrajudiciais, conhecidas como “falsos positivos”, foi uma implacável “política de Estado” da qual ele fez parte, e a descreve de forma incisiva e detalhada, com documentos em mãos.

Revela que, por intermédio do general Mario Montoya, recebeu do então presidente da Colômbia Alvaro Uribe Vélez ordens para cometer assassinatos e descreve uma intima e eficiente relação criminosa entre as forças armadas do Estado e dos exércitos do crime organizado de extrema direita.

A entrevista de Guevara Cantillo foi feita em setembro passado, na prisão Nacional Modelo, de Barranquilla, e somente foi revelada agora, após múltiplas comprovações e consultas a fontes militares, jurídicas, diplomáticas, civis e criminosas, feitas pelos autores deste artigo.

As execuções extrajudiciais que este paramilitar confessa em um relato franco e arrepiante, hoje fazem parte das estatísticas dos “triunfos” na guerra contra as FARC que o ex-presidente Uribe continuou reivindicando, inclusive em sua campanha eleitoral em que chegou ao Senado à frente de uma organização política de extrema direita, da qual é ideólogo principal o primo irmão do narcotraficante Pablo Escobar Gaviria, José Obdulio Gaviria.

O ex-capitão Guevara (‘101’) também acusa de cumplicidade nos falsos positivos o coronel Édgar Iván Quiñones Cárdenas, atual subcomandante da Nona Brigada do Exército, que foi chefe e superior direto do denominada ‘101’. Segundo Guevara (‘101’), o coronel Quiñones coordenava os alvos das execuções extrajudiciais com informação de seus cúmplices paramilitares, assinava as legalizações falsas daqueles que faziam passar por mortos caídos em combate, e obtinha o armamento que o capitão Guevara (‘101’) colocava junto de seus cadáveres depois de assassiná-los.

Em poucas palavras, o que o ex-capitão Guevara (‘101’) revela em seu testemunho é que o general Mario Montoya e, por vezes, o Presidente Uribe Vélez pediam os falsos positivos; o então major Quiñones (hoje coronel) se encarregava da logística e sua legalização, e o capitão Guevara (‘101’) os assassinava.

O general Mario Montoya, a quem se refere Guevara Cantillo de maneira intensa, tem inumeráveis acusações por crimes de guerra e outras atrocidades que lhes foram confiadas ao longo de sua controversa carreira militar.

Guevara Cantillo comandou as forças de “Jorge 40” nos departamentos de Cesar, Magdalena e Guajira, em estreita coordenação com o Exército e a Polícia da Colômbia. Aposentou-se de maneira voluntária, sem a menor mancha em seu currículo, apesar dos incontáveis crimes de lesa humanidade que cometeu com o beneplácito e, na maior parte das vezes, a pedido daqueles que foram seus chefes militares.

O chefe paramilitar de Guevara Cantillo, “Jorge 40”, atualmente se encontra preso nos Estados Unidos, onde cumpre uma pena por narcotráfico e se encontra próximo a regressar à Colômbia.  Ao chegar, será posto à disposição da justiça nacional, que o reclama. Deverá confessar a totalidade de seus crimes para permanecer dentro do Justiça e Paz e conseguir que em nenhum caso seja condenado a mais de 8 anos de cárcere pela totalidade dos centenas de milhares de homicídios que cometeu, assim como outros delitos de lesa humanidade.

Guevara Cantillo é sobrinho do ex-general do Exército, Antonio José Ladrón de Guevara.

Em seu testemunho, ‘101’ fala, entre outros temas, sobre:

O general Mario Montoya. Essas eram as políticas de Mario Montoya: ‘deem como baixa, deem como baixa, não me tragam capturados. E se não tiver baixas (sic), vejam para ver como fazem’. Essas eram as palavras dele”.

Os falsos positivos. Sobre a pergunta acerca das ordens recebidas do general Montoya para cometer homicídios, cumpridas por ele, ‘101’ responde: “Sim, claro, todos os falsos positivos”.

A cumplicidade do exército e dos paramilitares. “Meu comando ‘(Jorge) 40’ mandava-me as tropas dele de autodefesas, e eu as passava como tropas de Exército. Ia ao combate com a guerrilha dirigindo unidades de autodefesa. (…) Todo o mundo sabia. Nessa época, eu era tenente e um tenente não é uma roda solta”.

Ordens de assassinato dadas por Álvaro Uribe Vélez. “O Tijera matou o prefeito da Zona Bananera, um senhor Avendaño. A partir desse momento, [o Presidente Álvaro] Uribe deu a ordem. Era preciso matar Tijera, tínhamos que matar Tijera. A ordem foi dada ao [general Mario] Montoya. Montoya a deu à [Édgar Iván] Quiñónez: tem que matar Tijera. Montoya estava desesperado com isso”.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)