"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 8 de julho de 2015

Há que desescalar para preparar o cessar-fogo bilateral.


Por Horacio Duque Giraldo
A estas alturas do processo de paz e com as experiências correspondentes acumuladas, não se pode improvisar nem atuar aos trancos e barrancos. O que procede é organizar uma desescalada recíproca da guerra para criar um ambiente adequado à Mesa de Havana, que tem ainda muitas coisas pendentes a tratar, e preparar assim um cessar bilateral do fogo e das hostilidades que faça irreversível a superação do conflito armado colombiano.

A chave do momento é perceber a enorme potência política alcançada pela Mesa de Diálogos de Paz de Havana que funciona desde agosto de 2012. O processo promovido entre o governo do senhor Santos e a delegação plenipotenciária das FARC influi de múltiplas maneiras e por diferentes vias no funcionamento geral da sociedade e do Estado.
O foco do debate público está hoje centrado em dois aspectos de assinalada transcendência. Se trata da desescalada do conflito e do avanço certo para um cessar-fogo e de hostilidades bilateral e permanente. 
Nesse sentido e para evitar confusões, o pertinente é ir passo a passo. Não forçar os acontecimentos nem tramar jogadas para golpear ao adversário com a pretensão de levar vantagens. Que é o que se pode inferir da sugestão de Santos em sua hashtag [etiqueta] de hoje quando aceita a proposta dos países garantidores para desescalar o conflito adicionando-lhe ingredientes do cessar bilateral como uns eventuais compromissos [concentração, verificação e deixação das armas] perfilados prematuramente para fortalecer as assimetrias da guerra de quarta geração.
Santos deveria cair na realidade de que não há necessidade de inventar o que já está inventado e ele mesmo se encarregou de danificar recentemente.
A experiência da desescalada no atual processo de paz já existe e o que há que fazer é melhorá-la.
As Farc deram passos muito sensatos nessa direção. Ordenaram um cessar-fogo que durou quase seis meses com uma espetacular redução dos fatos de guerra, como o certifica todo o mundo; desvincularam menores; desminaram importantes zonas; e se esquivaram até o último o momento das provocações do militarismo uribista enquistado nos estamentos armados.
Santos interpretou mal todos estes gestos e embarcou num discurso de aniquilação e rendição das guerrilhas, ameaçando e bombardeando os acampamentos, ocasionando várias dúzias de mortes dos integrantes da resistência, que foram celebrados de uma maneira macabra por todo o estabelecimento.
A guerra civil retornou, nisso levamos quase dois meses, e o problema de como recuperar o rumo perdido é o que se debate com entrevistas do inefável e diletante senhor De La Calle, um jurista privilegiado do regime que foi favorecido por anos com multimilionários contratos do Estado, o mesmo que sua mulher e seu filho; com diversos painéis de politicólogos e opinadores de ocasiões [penso na tal Hora 20] que metem a colherada para dizer qualquer quantidade de “burradas” porque desconhecem a matéria e incorrem nos mais exorbitantes desatinos; e com twitters oriundos da Casa de Nariño diz-que para fazer a pedagogia da paz.
Chama a atenção de toda esta narrativa oficial a afirmação de que estamos numa crise que pode terminar com a Mesa de Conversações e imediatamente retornar à guerra que se quer superar. Tremenda contradição. Não se disse, então, até o cansaço, pelos porta-vozes oficiais que a negociação ocorre em meio à guerra, pois o que se quer é encurralar e fragilizar as Farc para que não cresça e mantenha seu objetivo de conquistar o poder? Tolices da gramática santista com a qual querem enganar a opinião [pública].
A guerra está viva pela decisão do Chefe da Casa de Nariño de impor pelo mau uma paz neoliberal e dos cemitérios, mediante o aniquilamento da resistência campesina revolucionária.
Assim que, colocados ante os fatos recentes, o que procede é construir um modelo de desescalada que implique uma rigorosa reciprocidade sem condicionamentos unilaterais que é o erro do governo. Santos quer desescalar incluindo imediatamente encurralamentos com os guerrilheiros, verificações acomodadas e deixação das armas, saltando todos os temas transcendentais que ainda estão pendentes. 
Paciência, Santos, paciência, é o que lhe sugeriram as Nações Unidas. Não pise no acelerador, porque a única coisa que isso traz é mais equívocos. Dois ou três anos mais de negociações não são nada comparados com mais de meio século de violência que o campesinato e o povo colombiano tiveram que suportar com estoicismo, vítimas do paramilitarismo e da arbitrariedade dos aparelhos armados governamentais.
Uma desescalada consistente, incluindo um armistício, é o melhor caminho para encontrar nos médio e longo prazo o cessar bilateral de fogo e de hostilidades permanente, encaminhado a pôr fim ao conflito armado nacional.
Evidentemente, chegar a esse ponto implica entender que estão pendentes de debate e consensos temas de ordem política como a depuração e reforma das Forças Armadas; as reformas gerais do Estado; as garantias para as forças guerrilheiras comprometidas no exercício político da democracia ampliada; a construção de um marco jurídico que proteja os direitos dos integrantes das Farc por parte de uma Assembleia Constituinte popular e soberana, que descarte e anule o denominado instrumento da justiça transicional que a classe politiqueira inventou para criminalizar a resistência campesina até aprisioná-la por décadas nas masmorras do regime; a erradicação do paramilitarismo e dos bandos criminais; os temas que ficaram pendentes em matéria agrária, política e de erradicação de cultivos de uso ilícito.
O regime político encarnado por Santos não pode pretender sufocar na Mesa de Conversações a luta contra hegemônica das resistências populares orientada a destruir o Estado neoliberal e a projetar um novo modelo de sociedade e de ordem política mais de acordo com os direitos fundamentais da maioria.  
Por acaso, quem disse que a paz seria feita para perpetuar o poder das oligarquias que por mais de 200 anos converteu o Estado e suas instituições num campo privado utilizado para acumular gigantescas fortunas e aberrantes privilégios?
Nota. Rechaçamos a privatização de Isagen pressionada por Santos e Vargas Lleras para conseguirem 6 bilhões de pesos que serão direcionados para as próximas campanhas eleitorais do oficialismo. Há que defender o público do depredador modelo neoliberal.
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Equipe ANNCOL - Brasil