"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 17 de julho de 2015

Desescalada em cifras


Por Horacio Duque Giraldo

A partir de 20 de julho o processo viverá um momento de auge devido à desescalada recíproca acordada entre o governo e as Farc para os próximos 4 meses, até novembro. A paz dispara na frente e seus inimigos ficam em evidência ante milhões de colombianos. Não mais guerra nem violência uribista parapolítica, exige a nação inteira.
O ajuste realizado ao trabalho da Mesa de Conversações de paz entre o governo do Presidente Santos e as Farc modificou substancialmente o ambiente de ceticismo dos meses recentes e assistimos a um novo círculo virtuoso em que os integrantes do diálogo [Governo e Farc] se retroalimentam e oxigenam. Em grande medida, o consenso alcançado reflete as grandes vantagens da exclusão de Pinzón, o qual foi encarregado do Ministério de Defesa, das esferas governamentais, quem operou como ficha fatal da sabotagem ultra direitista ao processo de paz, até o ponto de arriscá-lo, colocando-o à beira do abismo e da dissolução.
Em toda esta reestruturação há que entender um assunto básico. A Mesa de Havana foi conformada e organizada com um objetivo central: acabar com a guerra e estabelecer as condições fundamentais da paz, que não são diferentes dos temas da Agenda acordada e dos procedimentos de sua legitimação democrática. Atribuir outras intenções a dito instrumento é um desvio, como por exemplo pretender que da mesma se origine uma “revolução socialista” devido ao que finalmente se pactue. Claro que pactuar a paz, dadas as terríveis consequências da violência, é todo um salto revolucionário para a sociedade e a nação, e uma maneira de gerar melhores condições para lutar pela eliminação do neoliberalismo depredador. Por enquanto, é suficiente que golpeemos a camarilha violenta e sanguinária que tem feito da morte seu principal negócio, que é o ABC do protagonismo da ultra direita paramilitar uribista.
Não tenho a menor dúvida do grande salto dado com os ajustes metodológicos para agilizar os acordos temáticos, com um trabalho permanente e simultâneo, descartando o sistema de ciclos, e materializar rapidamente a desescalada do conflito. Dentro de quatro meses [em novembro], um mundo de tempo, se avaliará a marcha das negociações para determinar sua possível renovação, “sem mais indicadores que respeitar a trégua e mostrar avanços”, como assinala com bastante acerto Mario Morales em sua página web. Acrescenta o analista que se baixou a pressão na Mesa no que resta de ano, se safou do uribismo, se arejou as eleições de outubro e se salvou temporariamente o processo.
Não resta espaço à artimanha politiqueira uribista de concentrações extemporâneas e verificações falsificadas para sabotar a desescalada como propõe de maneira contumaz C. H. Trujillo em suas delirantes colunas (http://www.portafolio.co/columnistas/verificacion-verdad).
A facção ultra direitista do chefe paramilitar antioquenho resultou num sujeito energúmeno que distribui golpes aos trancos e barrancos. Querem ao país fazer crer que a desescalada é inútil. Sem embargo, basta apreciar as cifras da trégua realizada pelas Farc durante cinco meses, entre dezembro/2014 e maio/2015. São contundentes. Cito-as de maneira concisa para que tiremos as lições e procedamos em consequência. Me valho nestes dados dos importantes estudos de Ariel Ávila e Jorge Restrepo, este último do Cerac.
  • Em 2014 e nos primeiros cinco meses de 2015 ocorreu um fato fabuloso que ninguém quis difundir e apreciar. Se se compara os mortos e feridos da Força Pública de 2013 com os de 2014, se pode observar que a cifra diminuiu em mil membros das Forças Militares e de Polícia afetados em sua integridade física ou mortos. Também houve 14.000 deslocados a menos na população civil. O país poupou 15 mil vítimas. Isto sem contar as mortes de guerrilheiros revolucionários que foram evitadas.
  • Em 2015, o cessar-fogo unilateral das Farc mostrou cifras ainda mais importantes. Entre mortos e feridos, seja de membros da força pública ou membros de grupos guerrilheiros, se conseguiu evitar a morte ou lesões a cerca de 600 colombianos.
  • Em 2015, o total de feridos entre janeiro e abril foi de 620; nesse mesmo período de 2014 a cifra chegou a 706. A redução foi de 12%.
  • Ao comparar os primeiros 4 meses de 2015 com os primeiros 4 meses de 2014, se deu uma redução de 47%. Morreram 61 militares.
  • As cifras também mostram uma redução de guerrilheiros mortos. Entre janeiro e abril de 2014 morreram 107 guerrilheiros; em 2015 foram 51, isto é, uma redução de 52%.
  • Antes da negociação, as Farc e as Forças Militares faziam entre 180 e 200 ações/mês. Durante a trégua se baixou para uma média de 20. O avanço foi espetacular.
  • Segundo cifras consolidadas por Ávila, durante os seis meses do cessar-fogo unilateral das FARC, as ações armadas se reduziram em 90%. Passaram de 1.200 a 180.
  • Se passou de possíveis 895 ações armadas, realizadas em média nos primeiros cinco meses de 2011, para 91 ações nos cinco meses de trégua entre fins de 2014 e 2015. Quer dizer, se apresentou uma redução próxima dos 90%.
  • Quanto ao deslocamento forçado, a melhoria foi importante. Em 2012 foram deslocadas 89.100 pessoas; em 2013, 89.200; em 2014, 66.100; e em 2015, 2.841.
Assim as coisas, os dados anteriores permitem a vários expertos tirarem 4 conclusões.
A primeira é que a trégua funcionou, sim; reduziu a intensidade da confrontação em cerca de 90%. A segunda conclusão é que a força pública continuou operando, isto é, cai aquela versão sobre um cessar bilateral por baixo da mesa. A terceira conclusão que se saca da análise da trégua é que, apesar das 12 ações violadoras, se comprova que as FARC não só cumpriram a trégua numa alta porcentagem, como também, ademais, não se encontrou um parâmetro sistemático de desobediência por parte das frentes das FARC. Quer dizer, não existe indício que indique que as FARC estejam desunidas ou que algumas frentes estariam contra o processo. E uma última conclusão, a mais importante, é que a desescalada da confrontação tem uma repercussão direta na vida humana, que diminui as vítimas e alivia a situação nas regiões do conflito.
No entanto, a ruptura da trégua por parte das Farc foi muito má, já que o cessar-fogo durante cinco meses permitiu que o país vivesse seu momento mais pacífico nos últimos trinta anos.
Muitas vezes, e é o que facilita a manipulação uribista, a partir das cidades não se estima realmente o alívio que a trégua produziu, porém os setores rurais que vivem em carne própria o conflito, sabem, sim, o significativo que foram estes últimos meses, em centenas de municípios e veredas.
O mais importante, o mais transcendental, das tréguas e da redução do conflito, é a diminuição de mortos e feridos da força pública ou dos guerrilheiros e sobretudo da população civil inerme. A diminuição dos deslocados. Enfim, a diminuição das vítimas. Ninguém calcula isto. Ninguém põe atenção à vida, que é o mais importante. Os opositores ultra direitistas às negociações de paz sempre põem o olho em qualquer ação violadora da trégua e os que defendem as negociações e a desescalada, raras vezes, fazem uma ponderação da poupança em vidas humanas.
As negociações de paz e a desescalada do conflito têm dado seus frutos. O custo de voltar à confrontação é grande e desastroso para a vida humana.
Com estas importantes cifras e tendências, deve a Mesa de Havana promover uma grande campanha pedagógica da paz por toda a sociedade e com o apoio dos meios de comunicação.
Há que converter num fato a iniciativa de depositar um voto de apoio à paz nas eleições de 25 de outubro. É uma excelente oportunidade para demonstrar a legitimação do processo e o rechaço aos opositores dos diálogos e das negociações que se promovem em Cuba.


Nota. Raios e centelhas caíram sobre o senador Horacio Serpa por seu apoio ao candidato Didier Tavera ao governo do estado de Santander. Os donos do jornal Vanguardia Liberal, Alejandro Galvis e seu irmão Virgilio Galvis, saíram a rasgar-se as vestes com conclamações moralistas que pretendem desviar a atenção a respeito de suas camaradagens com a máfia do coronel Aguilar e seu filho, o atual governador desse estado, com quem pactuaram multimilionários negócios na contratação pública. Os Galvis são uma poderosa camarilha regional que recorre à fraude desenfreada para potencializar seus negócios imobiliários com o POT e a saúde mediante a privatização do sistema regional de salubridade pública. São uns patifes da mesma laia da parapolítica uribista. Recomendo esta coluna para entender o que se passa ali em Bucaramanga (http://www.elespectador.com/opinion/vanguardia-versus-serpa-pelea-tan-arrecha).

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Equipe ANNCOL - Brasil