"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 6 de julho de 2015

A lógica da guerra


Por Alexandra Nariño, da Delegação de Paz das FARC-EP
Nos pedem argumentos. Que qual é a ideologia por trás do que se passou em Tumaco e por trás de nossas ações de guerra em geral.
Qual é a ideologia por trás da guerra? Lhes pergunto.
A guerra é indefensável. As FARC-EP nunca daríamos argumentos a favor de ações de guerra, simplesmente pelo fato de que nem a pedimos, nem a queremos. Que existem argumentos que justificam nossa existência como exército guerrilheiro, é outro assunto. Que o conflito tem causas, que podem ser estudadas, compreendidas e assimiladas, está claro também, ainda que pode haver diferentes visões e graus de assimilação das mesmas.
Isto, diferentemente da extrema-direita em Colômbia, que advoga, sim, abertamente pela manutenção de uma guerra interminável, sem vencido nem vencedor depois de 51 anos. Esse grupo de cidadãos e cidadãs, relativamente pequeno porém com uma extraordinária força no espaço cibernético e na opinião pública, não se cansa de pedir cada vez mais guerra e extermínio, baseando-se no discurso do bom e do mau, do branco e do negro, do inimigo interno e do Estado amigo.
Um conflito tem consequências trágicas, isso o sabemos desde que iniciou há mais de 50 anos. Por algo, a luta armada é a forma mais radical a que podem chegar os povos para mostrar sua inconformidade. Isso só se passa quando todas as portas da democracia foram fechadas, como o denunciaram em seu tempo os primeiros guerrilheiros:
Nós outros somos revolucionários que lutamos por uma mudança de regime. Porém, queríamos e lutávamos por essa mudança usando a via menos dolorosa para o nosso povo: a via pacífica, a via democrática de massas. Essa via nos foi bloqueada violentamente com o pretexto fascista oficial de combater supostas “Repúblicas Independentes”; e como somos revolucionários que de uma outra maneira jogaremos o papel histórico que nos corresponde, decidimos buscar a outra via: a via revolucionária armada para a luta pelo poder.” (1)
Porém isso não a torna desejável, nem agradável, nem defensável. Há muitos personagens históricos, entre eles Simón Bolívar, que assim o confirmam: “Da paz se deve esperar tudo, da guerra nada mais que desastre”. Ou, quem me pode mencionar uma só guerra que não tenha produzido crises humanitárias, deslocados, danos à economia e à infraestrutura de um país? Pois, precisamente pelo fato de que a guerra é sinônimo de barbárie, existem regras e normas internacionais para restringir seus efeitos nocivos.
Num conflito tão prolongado de mais de meio século se passaram muitas coisas. A degeneração ética de um conflito é uma espiral negativa, nutrida por todas as pessoas que participam nele, sendo –em minha opinião- a criação do paramilitarismo, e não a guerrilha como muitos querem fazer crer, a detonante para tal decomposição. Assim o confirmam, uma e outra vez, os informes de organizações nacionais e internacionais de direitos humanos.
Portanto, só existem argumentos a favor da paz. No meu modo de ver, a negativa do Estabelecimento de pactuar um cessar-fogo bilateral não tem tanto a ver com o temor de que a guerrilha se rearme ou se reorganize militarmente, posto que o cessar bilateral nos anos 80 nos demonstrou que, mais que favorecer, os efeitos da inatividade bélica sobre um exército são negativos; produzem mais deserções e acomodamento da tropa. 
O que também demonstrou o cessar-fogo bilateral de La Uribe é que favorece, sim, a atividade política das FARC-EP. Porém, isso é o que se busca, ou não?
A negação ao cessar-fogo bilateral contraria a lógica que deveria reinar dentro do marco de um processo de paz, são honras que se lhes estão rendendo a essas forças da extrema-direita que, dentro de quatro anos, dentro de quinze meses, dentro de seis meses –agora sim!-, creem que acabarão com a guerrilha, demonstrando unicamente que a obsessão, o medo às forças progressistas e à perda de privilégios econômicos têm mais peso neles que o raciocínio histórico.
É uma força com suficiente poder econômico, midiático e político para continuar impondo a guerra, pelo menos até o momento. Porém carece de argumentos inteligentes, de peso ou de conteúdo: o futuro assim o demonstrará.
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Equipe ANNCOL - Brasil