"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

FARC-EP declaram cessar unilateral ao fogo e às hostilidades por tempo indefinido


Cessar ao fogo
«Ódio eterno aos que desejem sangue e o derramem injustamente»
Simón Bolívar, 1820, na firma do armistício com o espanhol Pablo Morillo
Se aproxima o final de 2014 após dois anos e alguns dias de diálogos de paz adiantados em Havana, Cuba, entre plenipotenciários do governo colombiano e da Delegação de Paz das FARC-EP. Durante o tempo assinalado intercambiamos teses, propostas, e alcançamos alguns acordos parciais, mantendo-nos a todo momento em pé de igualdade e com os mesmos direitos e deveres emanados para ambas as partes do Acordo Geral de agosto de 2012. Na atualidade, nos encontramos estudando e buscando saídas a temas e problemas difíceis, em razão da natureza complexa destes últimos, ou porque em mais de cinquenta anos de conflito interno se postergaram soluções que deveriam ter sido aplicadas para benefício coletivo.
Os diálogos puseram de manifesto que a pátria colombiana requer uma profunda e honesta revisão. A desigualdade e a pobreza generalizada, a incompetência estatal para fazer prevalecer o bom governo, a justiça e a paz não permitiram semear concórdia nem construir as bases para uma reconciliação perdurável. O conflito social e armado continua vigente; originado na chamada “violência partidarista”, na injusta visão histórica sobre vitais assuntos atinentes à terra, ao manejo indigno dos dinheiros públicos, na concentração sem limite da riqueza nacional em poucas mãos, cada vez mais famintas, e numa institucionalidade pública insignificante por ter sido encurralada por inescrupulosos detentores do poder, confirma que na Mesa de Conversações o desafio que têm doravante os plenipotenciários é de uma imensidão sem precedentes.
Para os que temos o compromisso de ensamblar o cenário a partir do qual se construirá uma nova República com o concurso de todos e de cada um dos homens e mulheres que compõem o componente humano de uma mesma pátria, os meses vindouros são fundamentais. O referido cenário é único; não é [um] qualquer. Se trata, nem mais nem menos, do cenário do agora ou nunca. É o cenário desejado por todos, pelo qual lutamos e padecemos tanto: é o cenário da paz, da reconciliação, da fraternidade com justiça social.
Apelando ao sagrado e irrevogável direito à rebelião, que, por razões que sempre brotaram da inumana existência dos que tudo careciam por se lhes ter negado o mínimo vital em todos os terrenos, buscamos com as armas, como recurso último de expressão política, pelo menos colocar-nos em pé de igualdade com o impiedoso adversário de todos os tempos, para que nossa voz, que é a do povo excluído, não continuasse sendo desatendida. Por isto, não desperdiçamos a atual conjuntura que serve para expor com justos títulos um leque de reivindicações acompanhadas de dezenas de soluções. Nos encontramos em Cuba para seguir forjando Pátria. Construamos entre todos o futuro. É nosso chamado.
Ontem, durante a última audiência de vítimas do conflito, ao escutar seus relatos, evocamos, com inevitáveis sentimentos encontrados, outras vítimas que ninguém já recorda, porém que as FARC-EP sempre honram levando-as em sua memória individual e coletiva e pelas quais continuam buscando a reconciliação nacional, porém agasalhada em tudo o que possa significar a palavra “justiça”. As vítimas da inescrupulosa violência partidarista, as vítimas dos “cortes de flanela”, as vítimas da primeira geração de paramilitares das décadas dos cinquenta e sessenta do século passado, as vítimas da ingerência estrangeira tolerada por governos bipartidaristas, as vítimas dos desaparecimentos forçados, do deslocamento e das execuções extrajudiciais.
As vítimas de Marquetalia, Ríochiquito, El Pato e Guayabero; as próprias vítimas que nós, em defesa de altos alvos, houvéramos podido provocar por erro; as vítimas dos homens de Estado e da força pública; as vítimas militantes da União Patriótica; as produzidas pela nova geração de paramilitares em conivência com agentes das diversas armas oficiais. As dos fornos crematórios, dos massacres e das motosserras, as que repousam nas tumbas N.N.; ou as que cujos corpos flutuaram rio abaixo até desaparecer; e as que nunca foram registradas; e as vítimas da miséria e da fome, da desigualdade e, em geral, aquelas vítimas que somos todos os colombianos, em mãos desse, o maior e mais funesto de todos os vitimários: o Estado.
Visto o anterior, inspirados no direito de gentes, tradição constitucional colombiana e homenagem a todas as vítimas ocasionadas em razão do conflito que buscamos superar, e em consideração ao trabalho que nos compromete a cada dia mais com o espírito traçado na parte motiva da agenda de Havana, e em atenção a que cremos que iniciamos um percorrido definitivo para a paz acompanhado de um processo constituinte, resolvemos declarar um CESSAR UNILATERAL AO FOGO E ÀS HOSTILIDADES POR TEMPO INDEFINIDO, que deve transformar-se em armistício. Para a consecução de seu pleno êxito, aspiramos contar com a vedoria de UNASUL, CELAC, da CICV, e da Frente Ampla pela Paz. Este cessar de fogos unilateral, que desejamos se prolongue no tempo, se daria por terminado somente se se constata que nossas estruturas guerrilheiras tenham sido objeto de ataques por parte da força pública. É nosso anseio que o povo soberano assuma também e de maneira protagônica esta vedoria, dado que com ela se busca o benefício da pátria dilacerada e uma homenagem às vítimas de ontem e de hoje.
Seja a oportunidade para chamar a atenção de forma clara e direta ao Presidente Santos por ter mostrado, uma vez mais, seu regozijo em twitter pela morte de alguns de nossos companheiros de armas e de ideias no domingo anterior. A guerra não pode ser motivo de gozo mas sim de pena assim que se deem resultados que possam beneficiar episódica e transitoriamente a alguma das partes. Precisamente, o respeito aos caídos é um princípio universal de humanidade sem consideração do bando que eles representem. Não mais circo, não mais exibicionismo de força incontrolada, não mais cobrança de faturas com o sacrifício de vidas alheias.
Queremos contrastar. Queremos superar os episódios inúteis de sangue. Manifestamo-lo uma e outra vez sem termos sido ouvidos. Assim e tudo manifestamos que o mencionado cessar de fogos e hostilidades entrará em vigor às 00:01 horas do dia 20 de dezembro de 2014, se para a data se conta com a disposição de verificação de, pelo menos, uma das organizações mencionadas.
A presente decisão está sendo comunicada formalmente ao governo da Colômbia. A embaixadas e sedes diplomáticas ao nosso alcance. Ao secretário-geral da Organização das Nações Unidas, ONU; à União Europeia; ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha, CICV; à União de Nações Sul-Americanas, UNASUL; à CELAC; ao Papa Francisco; a outras cabeças de credos reconhecidos universalmente; ao Centro Carter, e a ONGs de reconhecimento mundial.
Estamos dispostos a convocar em Havana a todas as organizações colombianas sem sede de lucro, amigas do processo de paz, para prestar-lhes um informe sobre a iniciativa aqui apresentada e com o propósito de convidá-las a que respaldem esta iniciativa pela paz da Colômbia.
Secretariado do Estado-Maior Central das FARC-EP
Equipe ANNCOL – Brasil