"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Devolução de terras roubadas aos camponeses colombianos enxotados de suas terras

Por Cristina Fontenele -Adital-



Em novo relatório, denominado "Um título não é suficiente: por uma restauração sustentável de terras na Colômbia”, a organização Anistia Internacional examina como está aplicação da Lei de Vítimas e Restituição de Terras (Lei 1448, de 2011), que foi aprovada para ajudar o governo a devolver as terras roubadas no marco dos conflitos armados na país. São quase 6 milhões de pessoas, entre camponeses, indígenas, afrodescententes, expulsos de suas terras desde 1985 e que temem retornar por causa do contexto de violência enfrentado no país.



A luta pelo controle do território, motivada por interesses econômicos, militares e políticos, juntamente com os altos níveis de pobreza rural e a elevada concentração da terra nas mãos de poucos proprietários, são as principais causas do conflito armado que, há mais de 50 anos, assola a Colômbia. Segundo o pesquisador da Anistia Internacional no país sul-americano, Marcelo Pollack, "não basta entregar às pessoas o título de propriedade e dizer a elas que já está lá. As autoridades colombianas têm que acelerar os trâmites burocráticos e garantir a segurança física e econômica de quem regressa. As pessoas responsáveis pelo deslocamento forçado têm que ser submetidas a julgamento”.



A ameaça de homicídios, somada à falta de rigor na aplicação da lei, torna lento o cumprimento da promessa do governo colombiano de devolução das terras à comunidade. Dados revelam que, no fim de agosto deste ano, a Procuradoria Geral estava investigando cerca de 35 homicídios vinculados ao processo de devolução das terras, e é provável que o número seja muito maior. De acordo com Pollack, a "Colômbia tem um dos níveis mais altos de deslocamento forçado do mundo e é mais do que evidente que as autoridades não fazem o suficiente para garantirem a devolução efetiva das terras roubadas a seus legítimos donos”.


O relatório da Anistia Internacional aponta ainda que 13% da população colombiana fugiram de suas terras; só em 2013, quase 220 mil pessoas foram obrigadas a abandonarem suas terras. A maior causa dos deslocamentos ocorre pela atuação das forças paramilitares e pelas forças de segurança, que agem tanto em separado como em conjunto. São em torno de 8 milhões de hectares de terras (14% do território) adquiridos ilegalmente, devido a interesses políticos e econômicos, incluindo poderosos grupos empresariais nacionais e internacionais.


Outro problema preocupante é a condição das mulheres e meninas. 45% das famílias que são vítimas têm como "cabeça” uma mulher, que é mais vulnerável aos abusos sexuais, sendo, em alguns casos, forçada a se prostituir.


A impunidade é um dos fatores determinantes para o fracasso da lei. A informalidade da propriedade da terra também facilita a expulsão das pessoas de seus territórios e, quando somada ao conflito armado, torna-se difícil determinar o valor da terra em termos monetários.
Menos de 30 mil hectares foram devolvidos aos respectivos donos. Somente um pequeno percentual se comparado aos 8 milhões de terras roubadas. A maioria dos casos de restituição é de pessoas que já retornaram às terras e esperam apenas uma formalização da posse.


O informe da Anistia revela que a concentração de terra na Colômbia é uma das mais altas do mundo. Cerca de 1% dos proprietários possuem mais da metade das terras agrícolas do país, enquanto que os pequenos proprietários, a maioria de camponeses pobres equivalente a três quartos de todos os proprietários de terras, ocupam somente 10% das áreas agrícolas. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Colômbia registra uma das taxas mais altas de desigualdade na propriedade rural na América Latina e no mundo, consequência histórica das políticas públicas, do narcotráfico e de grupos armados fora da lei.
Entre as diversas recomendações, o relatório destaca que seja ampliado em 10 anos o prazo de aplicação da Lei nº 1448 para garantir que se respeite o direito de restituição a todos os reclamantes de terras.Sugere ainda que seja implementado um programa de proteção para os reclamantes e ativistas, baseado em um modelo coletivo e de direitos humanos. Reforça também que sejam assegurados recursos adequados para que os órgãos estatais possam garantir, de maneira efetiva, o direito de reparação integral às vítimas do conflito.