"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 11 de agosto de 2014

FARC: “Apesar de tudo, persistiremos”


“Se aborrecem sobremaneira quando não expressamos o que sonham ouvir de nós”, escreve Timoleón Jiménez, Comandante-Chefe das FARC, polemizando com a grande imprensa e o poder político.
Já havíamos comentado sobre o discurso do Presidente Santos, que volta a a pôr-se de manifesto em sua recente posse. Também assinalamos o alinhamento total dos grandes meios [de comunicação] com o sentir da classe dominante. Os dois, incluindo ao Centro Uribe, se aborrecem sobremaneira quando não expressamos o que sonham ouvir de nós.
A grande imprensa se corresponde em realidade com poderosos consórcios de capital dedicados ao trabalho específico de difundir sua própria maneira de pensar no resto da sociedade. Todos os acontecimentos que para chegar ao conhecimento público passam por seu canal são deliberadamente apresentados do modo que resulte mais conveniente a seus interesses.
Assim sucede no campo internacional, onde o povo palestino, perseguido e violentado durante setenta anos, resulta como o verdadeiro agressor, carece de direito à defesa e não tem outra alternativa que submeter-se ao extermínio decretado pelo capital sionista. São considerados malfeitores Cuba e Venezuela, enquanto se aplaude por justo aos Estados Unidos.
E assim sucede também no cenário nacional. As guerrilhas são as responsáveis de terem iniciado a longa confrontação, e são as verdadeiras e únicas responsáveis de todos os horrores sucedidos no curso dela. Enquanto isso, se santificam os monstros civis e militares, que, por gozar de enormes bens, têm assegurada sua respeitabilidade.
A humanidade inteira é testemunha da imposição de uma maneira de pensar segundo a qual todo aquele que apela para as armas é um bárbaro sem escrúpulos. Sem importar as razões pelas quais o faça. O qual se difunde tornando invisível o fato protuberante de que os mais ricos e poderosos fabricam as armas, têm os maiores exércitos e fazem as maiores guerras.
A ninguém se lhe ocorre que George Bush deva responder pelos mais de um milhão de civis mortos no Iraque como consequência da invasão ordenada por ele em prol do interesse das grandes petroleiras. Assim como resulta inconcebível que Álvaro Uribe deva responder aqui por seus crimes massivos em interesse do latifúndio mafioso e das transnacionais.
A ideologia dominante, alimentada diariamente pelos grandes meios da informação ou da manipulação, exige, por outro lado, que os de baixo, os rebeldes, os que se opõem à invasão ao despojo de sua pátria por Israel, os que combateram os gringos no Iraque, ou os guerrilheiros que enfrentam a máquina do horror em Colômbia sejam condenados sem piedade.
Para eles, não cabe outra oportunidade que a mais cruel das advertências. Assim o exigem o grande capital e os terra-tenentes, assim proclama a mídia. Expertos graduados em suas melhores universidades põem seu talento imediatamente a seu serviço, todo aspirante a ocupar um lugar sob o guarda-sol dos grandes se alista para ocupar seu posto na cruzada.
Nós não chegamos a uma mesa de diálogos porque estivéssemos vencidos ou desencantados, senão porque sempre acreditamos nas vias civilizadas, porque cremos que, apesar de tudo, é possível alcançar, com o apoio das grandes maiorias colombianas, uns acordos dignos que se fundamentem, por uma razão elementar, na proscrição bilateral da violência.
Rechaçamos de forma contundente, por ser contrária à realidade histórica, a ideia de que a classe dominante colombiana, seus partidos políticos tradicionais ou suas mesclas de hoje, seus governos, o Estado como tal, os grupos econômicos, a grande imprensa e muitos outros setores à sombra do poder têm as mãos limpas de sangue do povo colombiano.
Todos eles, estimulados pela vulgar obsessão de lucro, em coordenação plena ou de joelhos ante os governos norte-americanos da pós-guerra têm violentado em todas as formas, repetida e sistematicamente, a campesinos, operários, estudantes, intelectuais, partidos de oposição revolucionária e demais setores populares em luta. Não podem seguir negando-o.
Até o ponto de gerar esta guerra de resposta a suas atrocidades e a sua impunidade. Não nos surpreende, por isso, o manto de silêncio com o qual a grande imprensa tem tratado os diferentes fóruns sobre vítimas celebrados até o momento. Em todos eles saiu a reluzir essa grande verdade. Os verdadeiros autores e responsáveis pelos horrores deste longo conflito são eles.
Se decidiram ensaiar a via dos diálogos foi com o propósito de obter na Mesa de Conversações a vitória que lhes foi negada durante meio século nos campos de batalha. Para os setores dominantes em nosso país a saída política só têm sentido se garantir seu reinado absoluto por mil anos mais, só se condenar os levantados [em armas] ao inferno.
E é isso, na realidade, o que se oculta depois da nova enxurrada retórica e midiática. Seus escribas na grande imprensa berram que o Estado reconheceu as vítimas e expediu uma lei para repará-las, que pediu perdão um par de vezes. Como se isso bastasse para mudar as coisas, como se não estivessem empenhados em deixar intacta a máquina do crime.
Atribuir a nós todos os males é o tema de moda. Sempre foi. Perverter o quanto dizemos, manipulá-lo, demonizá-lo. Nossa melhor disposição, que existe sem dúvida, de explicar quanto seja necessário e assumir as correspondentes consequências, sabemos que se enfrenta com a maldade e a perfídia dos que aspirassem com desespero a triturar-nos.
Porém, estamos nisto. Convencidos de sair adiante, certos de que após um acordo de paz a Colômbia não continuará sendo a mesma. Precisamente nisso nos diferenciamos de nossos adversários, eles só aspiram a arrancar-nos do meio para não mudar nada, para que tudo siga igual. Grunhem e ameaçam enquanto se lhes complica, porém, tudo bem, somos diferentes deles.
Montanhas de Colômbia, 8 de agosto de 2014