"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 9 de junho de 2014

Uma Nova Colômbia, sim, é possível


Neste ciclo curto de conversações desenvolvido em Havana, delineamos a rota dos debates próximos em torno de um tema decisivo para a paz, que é o das vítimas do conflito social e armado, pelo qual dolorosamente a Colômbia transitou nas últimas décadas.

Na prática, estamos dando os primeiros passos num terreno empestado de dificuldades, de enormes incompreensões nascidas da ignorância da história, da origem, das causas, desenvolvimentos e atores envolvidos no mais longo conflito interno do continente.

Temos nos compenetrado com a ideia de que na vanguarda deste nobre empenho coletivo deve tremular ao vento a bandeira da verdade. Deixemos que ela nos fale com sua própria voz e nos conduza com sua própria mão ao destino de paz, de justiça social, democracia e independência, que nos espera desde os tempos de Bolívar.

Sentimos que, cada vez [mais], estamos mais perto do cimo, do monte Everest dos direitos, que é a paz, sem a qual nenhum outro direito será possível. Por isso, a ela os colombianos devemos consagrar todos os nossos esforços para abraçá-la e fazer com que marche conosco durante os séculos futuros. Com razão dizia o Libertador que a insurreição se anuncia com o espírito de paz; resiste ao despotismo porque este destrói a paz e não toma as armas senão para obrigar os seus inimigos à paz. E já começa a ver-se uma luz no fim do túnel.

Sem verdade, não há paz. Sem que emirja o humano sentimento da compreensão e do perdão, não há paz. Há que desterrar dos corações a vingança e o ódio, a maldita exclusão e a intolerância para que haja paz. Deve-se entender que ninguém escriturou o poder do Estado a umas elites minoritárias para que defendam com violência seus indignantes privilégios. Que a única saída a este conflito é política, não exclusivamente jurídica nem militar, como pensam desde sua intransigência hirsuta os que se creem amos e senhores do poder. Necessitamos que haja democracia verdadeira, participação cidadã na articulação dos assuntos estratégicos da nação.

Se examinamos desapaixonadamente as causas e a origem do conflito social e armado, poderemos encontrar mais facilmente o caminho que conduz à superação definitiva do mesmo. Talvez a verdade produza em certos funcionários do Estado, e num punhado de oligarcas egoístas, certo tremor e medo, porque desconhecem que a reconciliação é consequência de magnanimidade.

Sim; as vítimas são vítimas do conflito, e o Estado é o máximo responsável por ação ou por omissão. Essa é a verdade e, como diz o Libertador, a verdade pura e limpa é a melhor maneira de persuadir. Ela não se oculta com artifícios nem campanhas midiáticas que encaminham a responsabilidade para a rebeldia e a inconformidade social. Porém, o indiscutível desta realidade encontra redenção no propósito de retificação. A paz está primeiro que tudo e ela sabe perdoar. Sabemos do respaldo e da disposição das vítimas e seus familiares a facilitar o acordo de paz.
As vítimas não são somente as da confrontação armada e dos erros da guerra; as políticas econômicas e sociais são as piores vitimarias porque elas têm causado a maioria das mortes na Colômbia, ao negar direitos humanos fundamentais como o direito à vida digna, à alimentação, ao emprego, à educação, à moradia, à saúde, à terra, à participação política, ao bem viver, quando se dispõe de riquezas naturais suficientes para resolver nossa problemática social.

A Colômbia não pode continuar ostentando o desonroso título de terceiro país mais desigual do mundo.
O esclarecimento da verdade da história do conflito, a identificação de seus responsáveis, a retificação e o fervoroso anseio de reconciliação nacional assinalam a via que haverá de conduzir-nos à paz com justiça social.

A atual corrida eleitoral pela Presidência da República tem sido uma das mais vergonhosas da história do país porque o guerreirismo quer impor-se a todo custo, com trapaças e mentiras, e com uma taciturna guerra suja que põe a ênfase no falatório e no boato e não na solução dos graves problemas nacionais que atiçam o conflito.
Por obra e graça de sua campanha infernal, estão movendo o sentimento de alguns militares ingênuos, aos quais lhes têm feito crer que em Havana já se negociou ou combinou em torno do papel das forças militares e de polícia num cenário de pós conflito. Em honra à verdade, a esse ponto não chegamos. O que ocorre é que alguns intransigentes se incomodam quando falamos de nossa visão de país contida nos lineamentos gerais para um processo constituinte aberto para a transição para a Nova Colômbia, nos quais, a propósito das Forças Armadas, propomos a reconversão das Forças Militares para uma força para a construção da paz, da reconciliação e da proteção da soberania nacional.

Que de mal tem isto? Na proposta só há paz e patriotismo. Não entendemos por que alguns saem com bravatas e a falar de entrega de armas, sem ter chegado ainda à discussão do ponto 3 de Agenda.

E por ali andam outros personagens que considerávamos bem informados replicando falsidades como aquela de que o ex-ministro Álvaro Leyva Durán, um homem que dedicou grande parte de sua vida à busca da paz para a Colômbia, transita por Havana promovendo as loucuras que se lhe ocorrem a uma campanha. E o mais grave e decepcionante é que acreditam e protestem, como acaba de fazê-lo o presidente do Congresso. O senhor Leyva não tem feito outra coisa diferente nas agitações dos últimos dias de campanha do que gerar ideias para blindar este processo de paz e nos consta que sua preocupação é que a marcha da Colômbia para a paz se torne irreversível.

É hora de pôr fim a essa fanfarronice manipuladora de um suposto “castro-chavismo” inventado por uns loucos que não querem a reconciliação nem a paz de Colômbia e que sonham em converter-se em sipaios da desestabilização da região, quando Nuestra América tem que ser um território de paz.

A paz é mais poderosa que a guerra e tem que vencer. Permitam-nos agradecer o clamoroso apoio mundial à paz da Colômbia. Estimula os esforços de solução política do conflito o respaldo ao processo de paz de organismos multilaterais como Nações Unidas, a União Europeia, a CELAC, UNASUL, OEA, o respaldo solidário de parlamentos de Europa, América do Norte e Reino Unido, o Vaticano, e muitas organizações sociais de todo o mundo, governos, prêmios Nobel, poetas, acadêmicos, artistas, e uma longa lista de militantes da paz e jornais como The Economist e The Guardian. Muito obrigado a Cuba e Noruega, países garantidores. Muito obrigado a Venezuela e Chile, países acompanhantes. Muito obrigado, compatriotas. Com o respaldo do mundo e o concurso cidadão, a paz terá que ser uma realidade na Colômbia.

A nossos compatriotas, lhes convidamos a construir, mediante a unidade, e a convergência multitudinária da esperança, uma alternativa de poder que, mediante a ação política das maiorias excluídas, do povo e suas organizações, se trace a tarefa de chegar a ser governo. Um novo país é possível se somamos vontades em torno dos seguintes propósitos:

Ø  Democratização real e participação na vida social.
Ø  Reestruturação democrática do Estado.
Ø  Desmilitarização da vida social.
Ø  Desmonte dos poderes mafiosos e das estruturas narco-paramilitares.
Ø  Justiça para a paz e a materialização dos direitos das vítimas do conflito.
Ø  Desprivatização e desmercantilização das relações econômico-sociais.
Ø  Recuperação da riqueza natural e reapropriação social dos bens comuns.
Ø  Reorganização democrática dos territórios urbanos e rurais.
Ø  Novo modelo econômico e instrumentos da direção da economia para o bem-estar e o bem viver.
Ø  Restabelecimento da soberania e integración em Nuestra América.
 A Colômbia reclama paz com justiça social, democracia verdadeira e soberania. E isto não é terrorismo, como equivocadamente, certamente influenciado pela Doutrina da Segurança Nacional, pensa o Brigadeiro General Canal Albán.

Se algo deve ficar claro nesta conjuntura, é que as FARC não têm candidato e que a alternativa que apresentou ao país é a do processo constituinte aberto para a transição para a Nova Colômbia. A unidade do movimento social e popular vai mais além de qualquer conjuntura eleitoral.

DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP