"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 20 de junho de 2014

É possível a atração de setores militares para o campo popular?

Por Ricardo Téllez
Integrante do Secretariado Nacional das FARC-EP
Uma das discussões mais antigas no seio da esquerda, nos acadêmicos e no movimento democrático e popular se dá sobre o papel das Forças Militares em momentos nos quais a crise geral se aprofunda a tal ponto que as coisas não podem seguir sendo como estavam. Para lá ruma a Colômbia, sem importar o resultado eleitoral, por isso o tema volta à tona.


As experiências conhecidas nesse campo são variadas, algumas positivas, outras desastrosas. O irrefutável é que as classes dominantes aperfeiçoam os mecanismos de controle sobre as Forças Militares porque sabem que elas constituem o pilar fundamental na dominação de classe e são as garantidoras da preservação de seus centenários privilégios.


Não só as burguesias nativas se preocupam pelo controle delas. Conhecedores da importância dos exércitos como fatores determinantes do poder real, os governantes dos Estados Unidos desenvolvem um trabalho de longo alcance para os militares de nossas nações.


Vários são os métodos empregados: bolsas para estudos em academias militares, colégios ou universidades; convites para conhecer o país do norte, intercâmbios, cursos na Escola das Américas, manobras militares conjuntas, assessoria permanente, convivências, doações, canonicatos, manejo de egos e até a chantagem, em caso necessário.


O acima exposto permite aos estadunidenses monitorar a formação acadêmica, política e ideológica de alunos dos exércitos dos países latino-americanos e caribenhos, para fazer-se a informação classificada por eles, a qual pode ser utilizada convenientemente, em momentos oportunos.


Isso explica, em grande medida, a facilidade que possuem para organizar, promover e executar golpes militares reacionários, como os realizados em quase todos os países de nosso continente nas décadas dos anos 60 e 70. As recentes intentonas de golpes em Venezuela, Bolívia, Equador e o relativo êxito obtido em Honduras e Paraguai nos mostram que tais práticas não foram abandonadas pelo império.


Em Colômbia a situação com os militares tem sido muito complicada. Em aplicação da Doutrina da Segurança Nacional, o Exército tem sido utilizado em tarefas que não lhe são próprias. A função de proteger as fronteiras pátrias foi modificada a instâncias do Pentágono pela de voltar suas armas contra seu próprio povo em busca de um inexistente “inimigo interno”.


Essa grosseira distorção do quefazer propiciou que alguns oficiais, suboficiais e soldados se convertessem em violadores sistemáticos dos Direitos Humanos.


Hoje, estão respondendo por casos de desaparição forçada de pessoas, tortura, execuções extrajudiciais [falsos positivos], abuso sexual e corrupção, entre outros delitos.


O problema é de tal magnitude que vão quatro mil sentenças condenatórias e existem quatorze mil investigações em curso contra pessoal das Forças Armadas. Recentemente, o Tribunal Superior de Cundinamarca ratificou a sentença de 37 anos de prisão para o General Jaime Uzcátegui pelo massacre de Mapiripán.


Outro caso repudiável é o do Coronel Robinson González del Río, quem reconhece sua participação direta em mais de 190 falsos positivos, vínculos com o paramilitarismo, negociatas e corrupção. Esse sujeito cometeu suas arbitrariedades com a anuência de empoleirados Generais e a cumplicidade de personagens como Santiago Uribe, irmão do ex-presidente.


Apesar do acima exposto, é possível a atração de militares para o campo popular?


Sem dúvida alguma, sim; porque a grande maioria deles provém dos setores populares e porque existem militares honestos, oficiais de valor que, ao mesmo tempo em que propendem pela solução política do conflito, repudiam o fato de que alguns generais utilizem seus altos cargos na comandância do Exército para enriquecer-se através de negociatas e práticas corruptas. Estou certo de que muitos militares honestos veem claro que há um nexo entre essa corrupção e o interesse por prolongar o conflito.


A nova oficialidade deveria inspirar-se nos exemplos de honestidade e patriotismo de generais latino-americanos como Juan José Torres, da Bolívia; Velasco Alvarado, do Peru; Omar Torrijos, do Panamá, e Hugo Chávez, de Venezuela, que trabalharam denodadamente por melhorar as condições de vida de seus povos e reforçar a soberania frente às pretensões neocoloniais do império. Têm em suas mãos o exemplo de Bolívar e o arsenal de seu pensamento libertador. Aos militares colombianos, chamamos-lhes a fundir sua prática e ação com os sonhos das maiorias nacionais que, desde há muito tempo, reclamam um novo país em democracia plena, paz com justiça social e soberania.



--Equipe ANNCOL - Brasil