"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 11 de junho de 2014

Carta aberta do Secretariado do Estado-Maior Central das FARC-EP aos candidatos à presidência


Doutor JUAN MANUEL SANTOS

Candidato pela Unidad Nacional 
Doutor OSCAR IVAN ZULUAGA
Candidato pelo Centro Democrático


Compatriotas:


No próximo dia 15 de junho, os cidadãos colombianos que decidam participar com seu voto no segundo turno das eleições à Presidência da República determinarão nas urnas qual de vocês dois haverá de ocupar a primeira magistratura da nação. É de público conhecimento que, igual a uma imensa maioria de colombianos, nós não acreditamos na legitimidade do regime político e no sistema eleitoral vigentes em nosso país, o qual não pode significar, em nenhum caso, que sejamos indiferentes aos resultados finais de uma eleição, que necessariamente há de ter transcendentais consequências no futuro da pátria.


Por isso, consideramos a importância de dirigir-nos a Vocês de maneira pública, com o objetivo de auscultar aos olhos da nação e da comunidade internacional qual é sua verdadeira posição em torno do tema da paz, da solução política ao conflito e das conversações que se adiantam atualmente em Havana. Sobre a base de considerar que por estes dias as FARC-EP, assim como o ELN, estamos celebrando o 50º aniversário de nossa fundação, e que já são, portanto, cinco as décadas de confrontação incessante entre colombianos, por causas que desde nosso próprio nascimento consideramos possíveis de solucionar por vias democráticas e pacíficas, completamente diferentes à guerra.


Partimos do critério de que nos separam profundas contradições na hora de examinar a realidade nacional, assim como posições abertamente opostas em torno das possíveis vias para superar o atraso secular da economia, as gravíssimas iniquidades sociais e, sobretudo, as enormes limitações ao exercício de uma democracia efetiva. Sempre acreditamos que, por diferentes que sejam nossas posições ideológicas e políticas, poderiam e deveriam tramitar-se por canais civilizados, alheios a qualquer forma de violência, deixando ao debate e ao proselitismo limpos todos os espaços para que nossos compatriotas possam eleger a proposta de suas preferências, sem fechar os caminhos nem obstaculizar giros em sua decisão para o futuro.


Que maravilhoso país teríamos, então. Porém, quão difícil e tormentoso se tornou lutar por materializá-lo. Primeiro, por obra de um bipartidarismo exacerbado, por conta do qual se condenou a Colômbia a quase um século de confrontações fratricidas, e depois por obra de um bipartidarismo excludente, que, ao encontrar na Frente Nacional a fórmula de pôr fim ao dessangramento por duas cores políticas, proscreveu qualquer outra alternativa política, perseguindo-a com o pretexto de ser comunista, em aliança servil com os governos norte-americanos enredados numa guerra fria que nos era absolutamente estranha. Após essas violências, sempre atuou a mão sinistra de forças econômicas ligadas ao latifúndio, ao despojo violento da terra aos campesinos e indígenas, a interesses empresariais monopólicos vinculados ao comércio internacional, entre outros, sempre à sombra de governos liberais, conservadores ou de alguma coalizão bipartidarista disfarçada.


A guerra que recentemente cumpriu dez lustros, com suas horríveis sequelas em vidas, lesões, lares despedaçados, regiões assoladas, paramilitarismo, desterrados, deslocados, projetos mutilados e demais tragédias inomináveis, não haveria tido que prorromper-se se a classe política liberal conservadora que governava na época não houvesse recorrido ao expediente de empregar a força bruta contra as comunidades agrárias. Se trata de realidades amplamente documentadas sobre as quais não é nosso objetivo agora aprofundar. Tampouco se haveria prolongado até hoje se os esforços de paz iniciados pelo Presidente Belisario Betancur, há 30 anos, não houvessem sido anulados pela mão criminal que exterminou a Unión Patriótica. Com Belisario se firmou um Acordo de cessar-fogo, trégua e paz que hoje todos querem esquecer, o qual não se materializou pela negativa da classe política a aprovar no Congresso as reformas pactuadas.


A história dos frustrados processos de paz em Colômbia não pode
fazer abstração do peso que tiveram em seus fracassos as posições abertamente hostis das forças militares oficiais. Por alguma razão, evidentemente ligada aos pactos sucessivamente firmados com o alto comando dos Estados Unidos, os generais colombianos sempre coincidiram em atravessar-se nos propósitos re reconciliação, sem que nunca tenham conseguido derrotar a insurgência no campo de batalha, e menos ainda sacar suas mãos limpas da onda de crimes e violência generalizada contra a população mais humilde. Acusar uma e outra vez os levantados em armas da responsabilidade pelos estragos da confrontação tem sido um fácil expediente para salvar suas próprias culpas. Como agora, quando, ao rechaçar qualquer grau do que se deu em chamar impunidade, se nos acusa de maneira exclusiva. Tampouco se nos oculta que, por trás do emprego do poder militar e paramilitar em Colômbia, se ocultam poderosos interesses econômicos e mafiosos.


Senhores candidatos: cremos chegado o momento de pôr fim ao longo conflito colombiano. Apostamos o melhor de nossas vontades para isso. Desde logo que, expondo nossa posição em torno ao que denominamos paz com justiça social e democracia, que, tal e como podem corroborá-lo os porta-vozes do governo nacional na Mesa de Havana, não confundimos em nenhum caso com a aspiração de subscrever uma revolução por contrato. Pactuemos uma ampliação efetiva das liberdades e garantias democráticas no país, que permitam um exercício aberto da oposição política, ponhamo-nos de acordo numas fórmulas mínimas de solução às iniquidades econômicas e sociais, vejamos a possibilidade de conseguir do alto comando militar e policial, assim como de seus inspiradores e incitadores, uma colaboração real aos esforços de paz e reconciliação. Sigamos explorando caminhos e fórmulas que nos conduzam a encontrar de modo combinado e bilateral soluções que incluam a verdade do conflito e deem satisfação às partes, às vítimas e à comunidade internacional.


Não esquecemos que o próprio doutor Álvaro Uribe Vélez gestionou para o final de seu segundo governo a possibilidade de entabular conversações de paz conosco. Nem que o Presidente Santos se valeu desses contatos para fazer-nos chegar suas propostas. Por isso, avaliamos em sua justa medida que o candidato Oscar Iván Zuluaga tenha se pronunciado a favor da solução política e da continuação da Mesa de Havana. Entendemos, porque assim é a política, que procure diferenciar-se do candidato Juan Manuel Santos, na medida em que este pode invocar, com justa razão, um bom trecho de vantagem no caminho para a concretização de um acordo de paz. Depois de tudo, não se pode negar que reconheceu a existência do conflito e que há acordos parciais firmados em três pontos da Agenda acordada. No entanto, nos enche de ânimos e esperança o fato de que um e outro expressem seu interesse pela via dos diálogos. Poderíamos afirmar que nenhum está falando abertamente de guerra total, submissões ou rendições. Expressar-se nesses termos na Colômbia de hoje poderia acarretar custos muito altos em termos políticos.


Porém, o que, sim, acreditamos, com independência do franco otimismo pela paz que nos acompanha nestas horas, é que o candidato ganhador será aquele que consiga despertar na maioria dos votantes a certeza de que, com ele na Presidência, se chegará á firma de um acordo de paz definitivo. E essa certeza só pode nascer de posições claras, de compromissos definidos. Por grande que seja o ceticismo dos setores dominantes no país acerca de nosso capital político, as FARC-EP sabemos de nossa incidência na política do país, na tomada de decisões por parte do povo colombiano. Daí nosso projeto de uma Assembleia Nacional Constituinte que ratifique os acordos firmados.


Em inícios do passado mês de maio, os comandos militares anunciaram a possível morte do Comandante Carlos Antonio Lozada, membro do Secretariado Nacional das FARC, num bombardeio no Guaviare. Ainda que frustrado, o ataque se produziu, com saldo de várias baixas nossas. Do mesmo modo, no final do mês, também terminou frustrado um ataque similar contra o Comandante pastor Alape, integrante de nosso Secretariado Nacional, com várias baixas em nossa força. Não cabe dúvida que isso fala mais de uma política de submissão e rendição que da solução civilizada e dialogada com a qual o candidato Santos afirma jogar-se com tudo. Igualmente, pode se pensar da série de condicionamentos à Mesa expostos pelo candidato Zuluaga, ou de sua não esclarecida vinculação com os fascistas confessos, autores da espionagem e sabotagem informática ao processo que se cumpre em Havana.


Cremos que os candidatos à Presidência da República devem definir claramente ante o país se o que pretendem com uma mesa de conversações é o cenário para uma entrega submissa, ou se realmente propendem por um cenário para a reconciliação efetiva da família colombiana. Se seu interesse manifesto por alcançar a ansiada paz vai mais além dos prazos peremptórios, ou desde já começa uma contagem regressiva urgente. Se sua aspiração de conseguir a paz vai até garantir a democratização da vida nacional, ou, pelo contrário, implica a agudização da confrontação e o indetenível crescimento do aparato bélico. As FARC-EP, qualquer que seja sua resposta ou atitude, jamais recuaremos na busca da paz com justiça social e democracia porque temos a confiança absoluta em que as grandes maiorias do país também a desejam e terminarão conquistando-a. Nosso compromisso é com elas e nos devemos a elas.


SECRETARIADO DO ESTADO-MAIOR CENTRAL DAS FARC-EP
Montanhas da Colômbia, 6 de junho de 2014.