"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 22 de abril de 2014

“No segundo turno os colombianos vão decidir por nossas teses”



Aída Avella Esquivel, fórmula vice-presidencial da candidata à presidência da República Clara López, assegura em diálogo com La Nación que não tem pensado em fazer alianças.

Filha de mãe oriunda do município de Campo Alegre, estado do Huila, e pai do estado de Boyacá, Aída Avella Esquivel é a fórmula vice-presidencial da candidata à presidência pelo Polo Democrático, Clara López.

Após muitos anos no exílio, esta militante da Unión Patriótica voltou porque pensou que era o momento de fazê-lo. Apresentou seu nome à Presidência pela coletividade, porém, depois de muitas aproximações, suas ideias se fundiram com as de López e agora são duas mulheres aspirando a mudar o rumo do país.

Para Avella Esquivel, é claro que na Colômbia chegou a hora de tomar outro rumo em que, segundo assinala, a corrupção não tem espaço enquanto a conservação do meio ambiente, a educação e a saúde serão prioridade.
Como anda o ambiente de campanha para a esquerda?

Bem. Há muito entusiasmo em todo o país, muita gente tem nos recebido em muitas regiões do país. Causou muito impacto esta fórmula de duas mulheres que propõem uma mudança de modelo econômico. As mulheres e muitos homens também se aproximaram porque falamos outra linguagem e temos sérios compromisso para dar outro rumo e uma mudança que o país inteiro pede aos gritos.

O que vocês estão propondo?


Muitas coisas que os outros candidatos não propõem. Primeiro, a mudança de modelo econômico, porque pensamos que a democracia tem que ser participativa, na qual os cidadãos tenham opinião. Uma das coisas que se lhes deve consultar é se estão de acordo com a exploração de minerais em suas regiões, porque o que encontramos em zonas como Casanare é que o povo está se opondo às explorações. Porém não só ali, o povo deve ser consultado com seus planos de desenvolvimento, inclusive os prefeitos e governadores têm que dar a conhecer ao seu povo o que é que vão fazer com os recursos que chegam do nível central. Ninguém fala do mar e para nós é uma fonte de riqueza e de trabalho que há que conservar para reindustrializar o país como um dos mecanismos da mudança do modelo econômico.


Você tocou num tema como o da consulta que se deve fazer aos cidadãos sobre a exploração de seus recursos, que se propõe nesse caso, se aqui em Neiva seus moradores estão atravessando uma problemática com a bacia do rio Las Ceibas?


Para nosso governo, a prioridade será a água. É incrível que neste país o que se está tocando são nossas fontes hídricas, e nós proibiríamos que as fontes de água sejam tocadas para a exploração mineira, porque prioriza a saúde dos colombianos. É que não é só em Neiva, um terço do país está sendo tocado como o Páramo de Santurbán, em Bogotá já começam a fazer exploração na parte baixa do páramo de Sumapaz, e se se toca isso, se toca a Orinoquía, e isso é mudar o sistema ecológico de toda esta região. Estão secando a laguna de Tota em Boyacá porque estão explorando petróleo e isso é muito grave. Por isso, acreditamos que há que revisar as concessões mineiras que vão contra a saúde dos cidadãos, declarar zonas de reserva.


Qual é a proposta para enfrentar a mudança climática?


Os países, têm que pôr-se de acordo porque não é problema de um só. Cremos que na regulação está a selva amazônica que compartilhamos com Brasil, Equador e parte do Peru, e há que fazer muito trabalho para conservá-la. Porém, todo o tema do meio ambiente demandará o esforço de todos os colombianos, e os indígenas que estão dedicados a cuidar dessas selvas necessitam uma retribuição por parte do Estado, porém também se requer gente especializada para apoiar este trabalho.


Porém, com base nessa política mineira que vocês propõem, como fazer para que as empresas estrangeiras não se espantem ou o investimento se vá?


Nós não nos opomos ao investimento estrangeiro, ao que nos opomos é a exploração selvagem dos recursos. Neste momento, em quase todos os países da América Latina estão pagando 25 por cento pela riqueza extraída, porém aqui as empresas que estão levando o petróleo nos estão pagando entre oito e nove por cento. Com o ouro e a prata nos estão pagando entre 3.2 e cinco por cento e isso não é possível. Porém, não vão se espantar porque em toda a América Latina estão pagando no mínimo 17 por cento, e os governos colombianos fizeram péssimos negócios com os recursos públicos e muito bons com as questões pessoais. Então, isto tem que ser distribuído de uma maneira diferente, e se não lhes serve, pois, não se pode fazer porque este é um país que necessita pagar umas dívidas sociais muito grandes.


Essas propostas soam muito bonitas e alvissareiras, porém, dá para fazer tudo isso em apenas quatro anos?


Veja, neste país, o que faz falta é um pouco de autoridade para fazer as coisas. Não é possível que um estado tão rico como Casanare não tenha rodovias, que Arauca, que recebeu milhões de regalias, não tenha um só município com água potável, como na Guajira, que tem uma mina de carvão que não nos deixa quase nada. Isso se pode fazer não só em quatro anos e menos, o que passa é que esta casa há que organizá-la, porque há muito dinheiro, porém os corruptos o levaram, e esses corruptos têm que saber que se acabou sua vez. As mulheres, vamos pôr ordem neste país e não só há que arrumar a casa, como também colocá-la decente, este país tem que saber que os 46 milhões de colombianos têm direito a aceder à riqueza nacional, e não só os de sempre. Aqui há dinheiro para todos, porém, em muitas das obras que se fazem na Colômbia, 90 por cento são roubados e só 10 por cento ficam para investimento. Vamos acabar com isso.


Bem, também se necessita mais acesso à educação...


Claro, se necessita, antes que repressão, mais professores, construir escolas aos montões. Nossas crianças devem estar todo o dia na escola, aprendendo. Propomos aula durante todo o dia, reforço em determinadas áreas como a científica, as matemáticas, sem descuidar das humanidades, as belas artes e os idiomas. A ideia é que, ao terminar o nível médio, nossas crianças e nossos jovens saiam falando outro idioma, no mínimo. E o dinheiro para a educação, vamos tirá-lo das regalias que estão se perdendo, todo esse dinheiro que o Estado deixou escapar de forma irresponsável. E que, entre outras coisas, deveriam ser julgados por isso, porque não pode ser que sigam dando dinheiro às transnacionais. Quatro anos seria mais que suficientes para entregar um país diferente em saúde e educação que são direitos, não ofertas.


Porém, uma vez no poder, vocês não gostariam de se candidatar à reeleição?


Isso depende. Se este país crê que fomos bons, e nos dizem vamos reelegê-los, pois, vamos para a reeleição. É que aqui há que acostumar as pessoas a serem decentes, este é um país afundado na corrupção e em que se consegue dinheiro não importa como. Temos que reverter estes valores, porque esses valores são outros como a honestidade, pensar nos demais, fazer a paz porque, se chegamos nós [à presidência], a paz será um fato. O Fundo Monetário Internacional nos exige que não subsidiemos nossos campesinos, porém faz apenas três semanas que nos Estados Unidos duplicaram os subsídios de seus campesinos. Eles podem exportar trigo e cevada a uns preços que aqui não são compatíveis. Por isso, primeiro nós temos que resgatar nosso trabalho nacional, o de nossos operários e campesinos. Temos que reindustrializar o país com todo o trabalho que não só nos dá o mar, como em outras regiões. É que não entendo como Arauca ou o Meta não têm refinarias quando têm que despachar entre 1.700 e 2.000 carretas com petróleo cru até Barrancabermeja. É uma responsabilidade histórica que nos demonstra que este país não tem tido governantes.


E que lhes faz pensar que o país está preparado para eleger um governo de esquerda?


O mundo mudou. Este país leva dominado mais de dois séculos pelos partidos tradicionais, ponham-se o rótulo que ponham: Cambio Radical, Centro Democrático... todos são os mesmos. Porém, nós sabemos que o povo está inconformado, está cansado de tanta corrupção, porém não somente isso, de tanta ingovernabilidade, não se sabe governar e, ademais, isto está repleto de corrupção. Neste país todo mundo rouba, aqui chegam prefeitos pobres e saem milionários. E não se necessita ser inteligente para saber que ninguém se enriquece com um salário de prefeito ou de governador, inclusive de congressista. Essas coisas, o país tem que vê-las. Não estamos dizendo que o modelo que estamos propondo é o super eficiente, porém, sim, lhe garanto que será mais eficiente que outros. É fundamental que os cidadãos comecem a dar-se conta de que podem ser atores e beneficiários também. As estradas e as vias têm que ser feitas pela gente de cada povoado, é um dos requisitos para que não comecem a roubar outra vez as coisas. Antes, nos municípios se contratava a gente do povo, a maquinaria e as ruas ficavam asfaltadas, como sucedeu em alguns lugarejos em Arauca onde, hoje em dia, depois de 25 anos, as ruas estão perfeitas. Isso sucede porque não se dá a “contratitis” dos grandes senhores que passeiam por todo o país oferecendo dinheiro aos políticos para que continuem comprando votos. E isso é o que queremos acabar na Colômbia.


Num eventual governo de vocês, o processo de paz continuaria em Havana?


Haveria paz. Pela simples razão de que não somente se continuariam os diálogos em Havana como também que se incluiria o ELN nas conversações. E vamos até onde seja possível porque, veja, o problema da terra não é um problema difícil de resolver. Temos uma lei que não aplicamos e é a das Reservas Campesinas. É que este Congresso é especializado em fazer leis para que não se regulamentem como sucede com muitas outras.


Vocês insistem em revisar os Tratados de Livre Comércio?


Já o disse Clara López, o primeiro que faríamos no dia sete de agosto será instalar a comissão que revise os Tratados de Livre Comércio [TLCs], porque isso tem impedido que este país se desenvolva e tem feito com que muitos colombianos fiquem sem trabalho.


Têm pensado em fazer alianças para um segundo turno?


Não temos pensado em alianças. Pensamos que chegamos a um segundo
turno, e nesse segundo turno muitos colombianos vão se decidir por nossas teses porque são simples, fáceis de executar, desde que haja vontade política. Isso é o que tem faltado neste país para muitas coisas, como para fechar as veias da corrupção ligadas à “contratitis” e isso vai ter que se acabar.


...[Nós], As mulheres, vamos pôr ordem neste país e não só há que arrumar a casa, como também colocá-la decente, este país tem que saber que os 46 milhões de colombianos têm direito a aceder à riqueza nacional, e não só os de sempre. Aqui há dinheiro para todos, porém, em muitas das obras que se fazem na Colômbia, 90 por cento são roubados e só 10 por cento ficam para investimento. Vamos acabar com isso”.


...Neste país todo mundo rouba, aqui chegam prefeitos pobres e saem milionários. E não se necessita ser inteligente para saber que ninguém se enriquece com um salário de prefeito ou de governador, inclusive de congressista. Essas coisas, o país tem que vê-las. Não estamos dizendo que o modelo que estamos propondo é o super eficiente, porém, sim, lhe garanto que será mais eficiente que outros”.

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