"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 13 de março de 2014

Chávez: Um Gigante sob a Lua


Uma homenagem
Por Eva Golinger 


Um ano se passou desde o desaparecimento físico de nosso amigo Hugo Chávez e ainda é impossível aceitar isso. Sua voz era uma constante na Venezuela revolucionária, suas leituras e ensinamentos uma escola em desenvolvimento permanente. Homem humilde de alma nobre, Chávez tinha a valentia de guerreiros e o pulso de pátria em seu coração. Desafiava aos mais poderosos e imponentes interesses, sem subtrair-se. Nunca lhe tremia a mão, jamais se ajoelhava, estava sempre firme com serenidade e convicção para enfrentar grandes ameaças. Sua coragem era imensa, um soldado do povo, um guerreiro de paz, um gigante de séculos. Conhecê-lo foi um privilégio, um tesouro sem preço.


Chávez impactou ao mundo, deixando sua marca em lutas e sonhos pela justiça social desde o norte até o sul. Seu legado é transcontinental, sem fronteiras. Chávez se traduz a todos os idiomas como o símbolo da dignidade.


Tive o privilégio de acompanhá-lo em vários de seus giros internacionais. Pude presenciar a multitudinária recepção de apoio e alegria que recebia em quase todos os continentes. Sua simples presença inspirava a milhões [de pessoas]. Ele representava os sonhos de tantas lutas, tantos compromissos à humanidade, e comprovou, contundentemente, que outro mundo, sim, era possível.


De todas as partes do planeta corria gente para vê-lo de perto. Só esperavam escutar suas palavras plenas de esperança, simples e ao mesmo tempo repletas de uma íntima profundidade. Chávez respirava amor e, ainda que milhões o recebessem com braços abertos, sempre haviam perigosas ameaças contra ele. Os mais poderosos interesses lhe temiam. Era imprevisível, sempre um passo adiante. Washington o chamava um sábio competidor, e vindo do governo estadunidense, isso era não somente um cumprido, como também demonstrava o grande que era Chávez. Nem o império podia controlá-lo.


Em maio de 2006 me encontrava em giro pela Europa com o lançamento das edições em alemão e italiano do meu primeiro livro, El Código Chávez. Quando já havia percorrido grande parte da Alemanha, por sorte coincidi com o giro do Presidente Chávez no marco da Cúpula América Latina-União Europeia em Viena, Áustria.


Cheguei ao hotel onde se encontrava a delegação presidencial que, algumas horas antes, havia chegado à terra vienense. Depois de saudar a caras conhecidas no lobby, meus compatriotas, fui para o meu quarto para descansar. Uma hora depois, baixei para ver o movimento e para saber qual era a agenda do Presidente. Ao chegar ao lobby, o simpático jovem de protocolo presidencial se aproximou de mim e me disse que já íamos saindo. Me pediu para acompanhá-los na caravana. Não havia visto ainda ao Presidente, porém supus que íamos adiante a alguma atividade, e subi no carro com a delegação. Me lembro que estavam muitas caras conhecidas, amigos de luta: Nicolás, Barreto, Giordani, Navarro.


Nos levaram a um lugar no centro de Viena. Ao chegar, pude presenciar uma quantidade enorme de gente, principalmente jovens, que estavam dentro e fora do local. Que lugar é este?, perguntei ao amigo de protocolo. É um centro cultural muito popular aqui. Se chama a Areia, me respondeu.


Baixamos do carro e vimos milhares de pessoas aproximando-se do lugar. Havia um evento nessa noite com nada mais nada menos que o Comandante Presidente Hugo Chávez, líder da Revolução Bolivariana. Um momento depois, quando já havíamos entrado para presenciar a impressionante quantidade de pessoas que se encontrava no lugar, se aproximaram de mim para avisar que eu estava escalada para falar no evento dessa noite, ali, frente à multidão europeia. Que honra, pensava, participar em Viena num ato de massas com o Presidente.


A noite estava fresca e o povo continuava chegando. Não cabiam no centro cultural. Tanto foi assim que tiveram que mudar a sede do evento da parte de dentro, onde só cabiam 500 pessoas, para a praça do lado de fora, onde cabiam milhares. Nunca antes havia passado um fenômeno assim em Viena. Milhares de jovens europeus se haviam reunido numa praça vienense para ouvir as palavras de um chefe de Estado latino-americano. A quantidade de pessoas presentes era espetacular. Chávez não somente era um líder latino-americano, mas também um gigante mundial.


Passava o tempo, e o Presidente não chegava. As pessoas estavam ansiosas, esperando, a pontualidade na Áustria era bastante estrita e não estavam acostumados a esperar muito mais além da hora prevista. Um momento depois, se acercou de mim a gente de protocolo, pedindo que subisse ao palanque junto aos outros da delegação. Tínhamos que fazer algo, me diziam, o povo estava esperando demasiado tempo para deixá-lo assim na incerteza. Fui conversar com os amigos da delegação sobre o que deveríamos fazer. O Presidente não vem, me disseram. E agora, que vamos fazer?, perguntei. Não podemos sair ali nós quando estão esperando a Chávez.


Já haviam passado mais ou menos duas horas do momento previsto para o começo do evento e o público estava muito ansioso. Fomos falar com os organizadores, um grupo muito simpático de ativistas europeus solidários. Lhes contamos sobre a possibilidade de que o Presidente não viesse. Ele estava cansado, já descansando no hotel, preparando-se para a cúpula de chefes de Estado da América Latina e Europa do dia seguinte.


A notícia caiu como uma pedra. Não era possível, nos diziam. Jamais na história tantas pessoas haviam vindo a uma praça pública para escutar a um chefe de Estado, seja de onde seja. Tínhamos que compreender a importância histórica do momento.
Entendemos bem que nós, sob nenhuma circunstância, poderíamos substituir ao Presidente Chávez ante esse público. Era Chávez ou nada, ou melhor, tinha que ser Chávez e ponto. Capturamos imagens do evento e a quantidade de pessoas presentes, e as enviamos com a Guarda Presidencial e os ajudantes do Presidente, rogando, por favor, que visse a importância do evento para que viesse.


Passaram duas horas mais e já era tarde da noite, porém ninguém se havia ido do lugar. Pelo contrário, as pessoas continuavam chegando. Se mantinham alertas cantando Uh Ah, Chávez não se vá em espanhol e em alemão, Chávez geht nicht.


Após quatro horas sob a bela lua de Viena, todos ansiosos pela chegada do Comandante do Século XXI, houve movimento. Chávez havia visto as imagens, e entendia a magnitude do momento e a importância de reunir-se com a juventude europeia. Em todo seu cansaço e tresnoitado da viagem, ali apareceu, radiante e sorridente ao ver a multidão juvenil.
A chegada do Presidente foi recebida com um aplauso impressionante do público perto das dez da noite. A luz brilhante da lua refletia o assombro e a intensidade dos olhares dos rapazes e das moças. Todos estavam completamente atentos e pendentes do discurso do líder venezuelano. E ao Presidente Chávez lhe inspirou a atenção e dedicação dos jovens vienenses e na área fora da Areia lançou uma classe magistral sobre a construção de um movimento revolucionário internacional. Dirigindo-se a essa juventude europeia, falou sobre o Triângulo da Vitória, composto por três fatores principais: objetivos políticos, estratégia e poder; e fundamentados na consciência, na vontade e na organização. Ficaram todos durante as duas horas em que falou o Presidente, ouvindo com muito cuidado os detalhes do projeto revolucionário internacional, mostrando seu apoio e aprovação em aplausos, gritos e sorrisos. A nós nos acusam de querer construir uma bomba atômica, contou Chávez aos jovens. Porém, a nós não interessa ter bombas atômicas. As bombas atômicas, as presenteamos ao império. A nós não nos faz falta um arsenal de bombas para salvar o mundo. Nós somos as bombas atômicas! E sobretudo vocês, rapazes e moças do mundo, vocês são as bombas atômicas, as bombas de amor, da paixão, das ideias, da força, da organização.


Sessenta e quatro meios de comunicação europeus cobriram esse evento histórico em Viena. O Che Guevara do século XXI, chamaram-no, todos fascinados com o que sucedeu nessa noite em Viena sob a lua cheia. Nunca um chefe de Estado havia saído às ruas para falar com as massas. Nunca se haviam reunido milhares de pessoas de maneira espontânea ao ar livre em Viena para ouvir um discurso de um mandatário, muito menos da América Latina. Chávez trouxe o amor e a sinceridade venezuelana a Áustria e o povo de Viena o recebeu com os braços abertos.


Jovens, vocês vão salvar o mundo. Saibam que não estão sozinhos aqui. Saibam que os jovens do mundo, que falam outros idiomas, que estão banhados de outras cores, têm a mesma chama que vocês... Na América Latina, na África, na Ásia... desperta a juventude do mundo, despertam os trabalhadores do mundo, despertam as mulheres do mundo, despertam os estudantes do mundo. Vamos unidos pelos caminhos da Revolução.


Ao terminar seu discurso, Chávez olhou a gloriosa lua cheia que iluminava o evento. Ah..., exclamou. Com essa lua cheia, tão linda, provoca agarrar um violão e ir com todos vocês, jovens, ao rio Danúbio para cantar uma bela noite até o amanhecer. O brilho em seus olhos revelava sua sinceridade. Foi um momento especial, desses que só ocorrem uma vez na vida. Parecia um encontro íntimo, entre amigos, ainda que a maioria das milhares de pessoas ali não nos conhecêssemos. No entanto, todos compartilhávamos um amor pela justiça e um sonho por um mundo melhor. Chávez era um irmão a mais na luta por esse sonho.


Anos depois, o impacto mundial de Chávez o converteu no inimigo número um de Washington e seus poderosos aliados. Alguém de sua humildade, sinceridade, valentia e convicção não era comum, e menos ainda quando era o líder do país com as maiores reservas petroleiras do mundo, e, ademais, alçava em alto a bandeira de justiça social. As ameaças contra Chávez eram constantes, os atentados contra sua vida jamais cessavam. Houve uma sistemática agressão contra seu governo desde os mais poderosos interesses do mundo, apoiados por seus agentes dentro de Venezuela. Arremetiam com tudo contra Chávez. Alguém de sua estatura, de sua influência, firmeza e dignidade, e com essa imensa capacidade de amor, representava um grande perigo para a agenda imperial. Fizeram o que puderam para neutralizá-lo.


Talvez nunca saberemos se seu desaparecimento físico foi provocado ou não, ainda que existam bastante evidências e pistas para investigá-lo. O que, sim, sabemos é que sua saída mortal não foi sua despedida. Homens como Chávez não podem desaparecer, ainda que muitos gostariam que fosse assim. O legado de Chávez hoje vive e cresce mais além da Revolução Bolivariana e suas extraordinárias conquistas. Sua voz está presente em cada grito pela liberdade, seu olhar se vê nos valentes jovens que enfrentam grandes e perigosas potências para revelar verdades. Seu amor está presente na solidariedade e no compromisso de coração que milhões sentem pela Venezuela revolucionária. Sua força e dignidade guiam para a defesa da pátria, hoje de novo agredida pelos que quiseram apagar-nos da humanidade.


Chávez jamais desaparecerá. Sua presença seguirá crescendo e multiplicando em cada novo soldado da paz, em cada guerreira da justiça. Sorridente com coração de ouro, Chávez sempre será nosso Gigante sob a lua.


Tradução: Joaquim Lisboa Neto