"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 31 de março de 2014

Assinemos um cessar-fogo, Sr Santos



Com relação ao mais recente comunicado do Secretariado Nacional das FARC-EP e aos fatos que o motivaram, expressaram-se um sem número de afirmações. Embora o que tenhamos tomado conhecimento de primeira mão chega sempre via grandes meios de comunicação, campeões universais da falsificação e da argúcia, não nos deixa de causar impressão a notícia sobre a nova avalanche mal intencionada contra nós.

Tratamos de explicar a situação que resultou na morte do major e patrulheiro da polícia na zona rural do município de Tumaco. E advertimos de antemão quão grande seria a reação de certos setores interessados na ruptura do processo de paz que desenvolvemos com o governo nacional. O general Palomino, da mesma forma que o candidato presidencial Uribe, entre outros, encabeçaram outra vez a cruzada contra as FARC, invocando com uivos ferozes a guerra total.

Chamam-nos de cínicos porque expressamos nossas condolências aos familiares e companheiros das vítimas, como se compreender a dor alheia e solidarizar-se com ele fosse uma atitude mesquinha. É doloroso para nós a vida de cada colombiano ou estrangeiro que morre em conseqüência desta guerra que nunca quisemos que fosse desencadeada. Que primeiro os matemos e em seguida enviemos nossos pêsames, como sugerem os nossos detratores, não é exatamente um modo objetivo de ver as coisas.

Todo o país e o mundo é testemunha de como o Presidente Santos chorou de felicidade após a morte de nosso comandante Alfonso Cano, e nenhum membro do establishment ou dos meios de comunicação pensou em repudiá-lo por isso. Nem sequer quando um bispo católico expressou seu desconcerto pelo fato de que ao invés de tê-lo feito prisioneiro, tivessem preferido assassiná-lo ao encontrá-lo só de noite, quase cego e inerme com seus mais de sessenta anos de idade.

Nem privadamente, durante os necessários intercâmbios que levaram ao início dos diálogos de paz em Havana, recebemos do senhor Presidente a menor mostra de pesar, apesar de os primeiros contatos de seu governo ocorreram exatamente com o Comandante que ordenou matar. Nunca teríamos considerado um gesto de cinismo se ele tivesse feito esse gesto, talvez tivéssemos interpretado como a sincera generosidade de quem se prepara para falar de paz e reconciliação. A atitude costuma ser diferente de acordo com o lado em que se esteja do conflito sangrento.

Após o rompimento do processo de diálogos de San Vicente del Caguán (1998-2002), uma conseqüência da implementação do Plano Colômbia definido pelos Presidentes Bill Clinton e Andrés Pastrana, e levado à prática muito antes de 20 de fevereiro de 2002, militares norte-americanos e colombianos desencadearam todas as formas possíveis de violência contra as FARC e a população das zonas onde era exercida nossa influência. Hoje se fala do conflito como se nada disso tivesse acontecido.

Nem os horrores do paramilitarismo descontrolado e reconhecido social e politicamente no governo de Andrés Pastrana, e intensificados até o extremo do terror do Estado durante a primeira gestão de Álvaro Uribe, nem os milhões de refugiados internos durante essa etapa, nem a repressão generalizada, nem os crimes e a perseguição judicial, nem as milhares de execuções batizadas de ‘falsos positivos’, nem a morte de centenas de moças e rapazes das guerrilhas em mãos de soldados profissionais que, em troca, ganhavam um frango no almoço ou uma folga, guarda, segundo nossos críticos a menor relação com o conflito de hoje.
Sendo assim, nenhuma análise pode ser séria. As forças militares executam um plano de guerra chamado de Espada de Honra II, continuidade do Espada de Honra I, que fracassou tanto como o Plano Patriota ou o Plano Vitória que os precederam com a intenção de aniquilar a insurreição guerrilheira e a dissidência. Desde os tempos de Marquetalia e do Plano Laso, todos estes planos contra-guerrilheiros combinaram a ofensiva militar com uma suposta ação social marginal e precária, que lhes serve ao mesmo tempo para reduzir a influência das guerrilhas e construir redes de informação para a guerra.

O major e o patrulheiro, no exercício de suas tarefas oficiais, vestiam trajes civis, o que inclusive poderia ser interpretado como mais perigoso ainda em uma zona de guerra. Ao detê-los, os milicianos pensaram em conduzi-los até um comando responsável para que decidisse o que fazer com eles, ou comunicasse isso a uma instância superior. Só atuaram contra eles ao se sentirem rodeados por uma agressiva operação de forças inimigas.

O que se passou em suas mentes nesses momentos difíceis não é um mistério. O inimigo vinha arrebatar-lhes os prisioneiros pela força. Como agiriam os militares, policiais ou guardas em uma hipotética situação semelhante? Por que não se considera selvagem matar com uma rajada de fuzil, como fizeram com Alfonso Cano, e, ao contrário, se considera assim se não se emprega armas de fogo, em um momento em que ao empregá-las se coloca em risco a própria vida?

Seja qual for a resposta, se os milicianos tivessem que responder pela comissão de um delito, teriam que fazer isso perante a juridicidade guerrilheira, de acordo com nossos regulamentos. Em nenhum caso se faria sua entrega a autoridades inimigas. É assim que nós vemos as coisas, de acordo com as próprias normas do direito de guerra. Muitos especialistas nos dariam razão. O problema, na verdade, é de outra natureza, é político, corresponde a interesses de momento.

No fim de semana passado morreram oito policiais no helicóptero afetado pelo terreno minado ativado por guerrilheiros da Frente 33 das FARC em Sardinata, estado Norte de Santander. O fato sequer mereceu uma manchete de imprensa simplesmente porque o Ministério da Defesa sabe que não pode usar contra nós uma ação militar que desprestigia a Força de Tarefa Vulcano e coloca em sobressalto a arrogante presença militar na região do Catatumbo.

Foi isso que aconteceu também com os militares que morreram no helicóptero derrubado em 22 de fevereiro na região de La Uribe, estado do Meta. Eles não são mortos atribuídos à suposta vileza gratuita das FARC, mas são sim considerados mortos de menor categoria, daqueles que não merecem sequer que a população colombiana e mundial seja informada. Apesar de tudo, a propaganda oficial mostra um Exército que está ganhando a guerra, enquanto esses fatos colocam isso em dúvida, sendo melhor omiti-los.

Quando graças a um bombardeio aéreo a uma unidade guerrilheira surpreendida a altas horas da noite na escuridão da selva, ocorre a morte de uma ou duas dezenas de combatentes, o ministro da defesa lança fogo pelas fossas nasais ao comunicar exultante o resultado. Mesmo que se trate de colombianos, de gente pobre do povo. Não falemos de não permitir impunidades por fatos de guerra. Assinemos um cessar-fogo, senhor Santos, e tornemos a paz possível.

TIMOLEÓN JIMÉNEZ

CHEFE DO ESTADO MAIOR CENTRAL DAS FARC-EP

Montanhas da Colômbia, março de 2014