"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

A juridicidade insurgente das FARC-EP


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Por que eles, os autores intelectuais de desaparições forçadas, fossas comuns e os mal chamados “falsos positivos”, não se submetem à nossa justiça revolucionária?
Por: Alirio Córdoba




Múltiplos comentários desatou o comunicado do Secretariado Nacional das FARC-EP a respeito dos acontecimentos de Pradera [Valle]. Surpreende aos meios que monopolizam a informação e a classe governante que haja um ator político capaz de pôr a fronte ao país e reconhecer autocriticamente os erros que se cometem no desenvolvimento de um conflito social e armado tão prolongado e carente, ademais, de qualquer tipo de regras.




Não é a primeira vez que nossos porta-vozes enfrentam com altivez temas semelhantes. Recentemente, o comandante Pablo Catatumbo, em entrevista concedida à jornalista Natalia Orozco [evidentemente, bastante editada e manipulada], aborda com sinceridade temas como a morte dos deputados do Valle do Cauca, os acontecimentos de Urrao, entre outros, enfatizando que as vítimas são do conflito colombiano e não da guerrilha, como de maneira tendenciosa quiseram cunhar desde o Estado, com o coro dos aparelhos massivos de comunicação.




No comunicado, nossa organização reconhece que, se bem que houve falta de previsão nos acontecimentos recentes de Pradera, o dito proceder não corresponde com nossa “filosofia, nem a orientação política ou militar que nos caracteriza”. Com efeito, a razão de ser de nossa luta são as reivindicações, necessidades e expectativas de nosso povo.




Também disse nossa máxima direção que haverá sanções disciplinares para os comandos guerrilheiros que ordenaram a ação, logicamente, no marco dos princípios e normas definidas no Estatuto dos guerrilheiros das FARC-EP. E, então, chegamos a outro ponto do debate: No marco de quais normas se deve julgar a conduta de homens e mulheres que por 50 anos têm combatido com armas na mão contra as políticas de um regime injusto, terrorista e apátrida?




Fruto de 50 anos de construção de nosso exército popular, sintetizando experiências de acertos e desacertos, nas FARC-EP contamos hoje com um compêndio de normas verdadeiramente revolucionárias, que se inspiram no humanismo e na justiça social. Desde nossas origens em Marquetalia, o comandante Manuel Marulanda Vélez nos inculcou que: “nós estamos obrigados a pôr em vigência todo o conteúdo de nossas normas militares, de nosso regulamento, de nossa disciplina interna, sobre a base dos princípios do movimento armado revolucionário”.




Nestas normas que nos regem se encontram as garantias do tratamento digno aos prisioneiros de guerra, tratamento respeitoso à população e a suas crenças religiosas, entre outras.




Os guerrilheiros das FARC-EP temos nossa própria juridicidade e sob nenhuma circunstância aceitaremos a submissão a uma justiça contrária a nossos fundamentos políticos e ideológicos, a nossa natureza subversiva, a nosso caráter de rebeldes. Em conclusão, o único Estado ao qual nos subordinamos é o Estado-Maior Central de nossa organização.




Seria a oportunidade de perguntar aos que, desde diversos ângulos, nos pressionam para que nos submetamos a seu marco jurídico fora de contexto e a seu engendro de justiça transicional: por que eles, os autores intelectuais de desaparições forçadas, fossas comuns e os mal chamados “falsos positivos”, os que se enriqueceram ilicitamente roubando o erário, os que, apoiados no paramilitarismo, propiciaramo o despojo de terras campesinas, os que, desde os microfones e os púlpitos e sem ir ao campo de batalha, incitam a guerra contra o povo, não se submetem à nossa justiça revolucionária?




Os acontecimentos de Pradera convidam a retomar outro debate: por que a Polícia e o Exército colombianos seguem construindo seus postos e quartéis militares no meio dos povoados e cidades, quando o país vive uma guerra interna? E que dizer do transporte de militares em veículos civis, ou a utilização de civis como guias de tropas em zonas de combate? A esse respeito, as FARC-EP temos insistido na necessidade de firmar um tratado de regularização da guerra entre as partes contendoras, um tratado que nos comprometa por igual ante a população não combatente.




Insistiremos no cessar-fogo bilateral e num tratado de regularização da guerra, como preâmbulo da assinatura de um acordo de paz estável e duradoura. Porém estamos convencidos que na Colômbia só haverá paz quando se instaure a justiça social.




Montanhas de Colômbia, 29 de janeiro de 2014.