"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Os comandantes não aplaudiram no ato de homenagem a Goulart



Desdém dos militares a Dilma

Há um mal-estar castrense a partir da exumação dos restos do ex-presidente Goulart, ademais de sua restituição no cargo como fato simbólico e político.


Por Darío Pignotti
Na quinta-feira passada [19.dez] se realizou a cerimônia onde se restituiu o cargo a Goulart.

De Brasília

São incorrigíveis. O general, o almirante e o brigadeiro que comandam as forças armadas do Brasil desafiaram a presidenta Dilma Rousseff e aos parlamentares reunidos no Senado ao permanecer impassíveis, sem aplaudir, como o fazia o restante dos presentes, durante a cerimônia na qual se restituiu simbolicamente o cargo ao ex-mandatário João [Jango] Goulart, derrocado pelo golpe de Estado de 1964.

Enzo Martins Peri, Julio Soares de Moura Neto e Junii Saito, chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, observaram, sem gesticular, o momento em que Rousseff abraçou João Vicente Goulart, filho do presidente destituído, depois de receber a resolução parlamentar, votada por todos os partidos, em que se decretou nula a sessão de 1964 que legitimou o aval à ditadura civil-militar.

Os três comandantes, que estão em seus cargos desde o governo de Luiz Inácio Lula da Silva [contra quem também montaram um princípio de insubordinação quando se tocou na agenda de direitos humanos], repetiram na semana passada, na solenidade realizada no palácio semiesférico do Poder Legislativo de Brasília, o mesmo desplante de 2011, quando permaneceram de mãos cruzadas enquanto Dilma, dezenas de familiares de desaparecidos e uma delegação argentina, encabeçada pelo falecido secretário de Direitos Humanos Eduardo Luis Duhalde, aplaudiam a criação da Comissão da Verdade.

Creio que o sucedido na última quinta-feira no Congresso foi algo mais que um gesto de insolência, me parece que esse comportamento dos comandos militares esteve à beira da insubordinação à presidenta e aos poderes da República”, argumenta o jornalista Luiz Claudio Cunha em entrevista com
Página/12.

Cunha é autor do livro mais exaustivo e melhor documentado sobre o Plano Condor no Brasil [O sequestro dos uruguaios], ademais de contar com informações fidedignas do interior castrense.
Se diz que há um mal-estar militar, pelo menos entre os altos oficiais. Parece ser que eles não estão nada conformados com a exumação do ex-presidente Goulart, com as honras com que foram recebidos seus restos em Brasília, o estudo dos restos [mortais] para saber se foi envenenado pelo [Plano] Condor e a restituição no cargo, que é um fato simbólico sem deixar de ser político”.

Ante a suspeita de que a coordenação repressiva Condor tenha envenenado a Goulart, falecido a 6 de dezembro de 1976 em Corrientes [Argentina], a Comissão da Verdade motorizou sua exumação no cemitério municipal de São Borja e o translado de seus restos a Brasília, onde foram recebidos com honras de Estado e se lhe extraíram mostras para serem analisadas em laboratórios estrangeiros.

Para Luiz Claudio Cunha, a corporação militar recrudesceu seus instintos revanchistas depois da chegada ao governo da “ex-guerrilheira e hoje comandante-chefe das forças armadas Dilma”.
Até há algum tempo, os generais se mostravam incômodos com algumas tentativas revisionistas da ditadura, porém agora se os vê ostensivamente irritados contra a reivindicação de verdade e justiça, como revela a atitude do comandante do Exército Peri com sua omissão durante os aplausos no Congresso. E antes se viu essa mesma irritação na postura prepotente do general Carlos Bolívar Goellner, quando participou do enterro definitivo do presidente Goulart, neste 6 de dezembro em São Borja”.

Chefe do Comando Militar do Sul, com jurisdição sobre as fronteiras com Argentina, Uruguai e Paraguai, o general Bolívar Goellner declarou em São Borja sua plena reivindicação da sedição que derrubou Jango Goulart em 1964. “Não há nada de que retratar-se, não há nenhum erro histórico, a história não comete erros, a história é a história”, provocou o general ante a consulta da imprensa no dia em que se realizava o segundo e definitivo enterro de Goulart, a 37 anos de seu falecimento no exílio argentino.

Não é um fato menor que ninguém em Brasília tenha enquadrado o verborrágico e rechonchudo general Bolívar Goellner. Houve um silêncio vergonhoso de parte de seu chefe imediato, o comandante do Exército Peri, e também do chefe de ambos, o ministro de Defesa Celso Amorim”, assinala Cunha. E acrescenta um dado inquietante, o boquirroto Bolívar Goellner, de 63 anos, “tem uma ficha limpa em matéria de violação dos direitos humanos, já que, quando chegou a ditadura, ele tinha 14 anos e esta terminou quando havia cumprido 35”, porém, apesar disso, está “entrincheirado na defesa do regime”. Corolário: não há depuração ideológica entre os quadros militares brasileiros unidos na reivindicação do terrorismo de Estado e contra as tentativas por reconstruir a memória.

Tradução: Joaquim Lisboa Neto

Extraído de Resumen Latinoamericano – Argentina.