"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

O presídio político nos Estados Unidos [IXX] Ciberativismo, nova forma de protesto social


- - - Serviço Informativo "Alai-amlatina" - - -
Por Salvador Capote

ALAI AMLATINA, 03/12/2013.- Em 15 de novembro de 2013, o intruso informático [“hacker”] Jeremy Hammond, vinculado com Anonymous, foi sentenciado a 10 anos de prisão e mais 3 anos de liberdade supervisionada, por realizar ataques cibernéticos a várias agências governamentais e corporações, em particular a “Strategic Forcasting Inc.”, mais conhecida por “Stratfor”, companhia privada de inteligência global.


Hammond transferiu correios eletrônicos de Stratfor ao grupo anti segredos WikiLeaks. Os documentos publicados até agora se relacionam com clientes como Goldman Sachs e Coca-Cola. Seu ciberativismo foi motivado pela preocupação ante o crescente papel que desempenham firmas privadas na obtenção de inteligência tanto dentro dos Estados Unidos como no exterior.
Como resultado do ciberataque a Stratfor – declarou Hammond na corte – se conhecem agora alguns dos perigos da indústria de inteligência privada’.


Hammond, com o pseudônimo de “Anarcaos”, subtraiu, num de seus ataques a Stratfor, 200 gigabaites de informação confidencial e pôs seus computadores fora de serviço durante seis semanas. Sarah Kinster, advogada de Hammond, alegou que nada do feito por este tinha por objetivo lucros pessoais e suas ações não eram outra coisa que uma nova forma de protesto.


Os Estados Unidos são o país dos segredos de Estado. A cada ano classifica quantidades colossais de informação. Cada documento secreto que se relaciona com um trabalho sujo realizado pela CIA, pelo FBI ou outra agência
governamental gera novos documentos secretos que se referem às ações posteriores imprescindíveis para ocultar a ação ilegal primária, do mesmo modo que uma pessoa mentirosa está obrigada a seguir mentindo para evitar que descubram suas patranhas.


O fato de que nunca antes a direção política dos Estados Unidos se comportou de maneira tão distanciada da ética, tanto na esfera nacional como na internacional, e nunca, portanto, se viu em maior necessidade de ocultar tanta informação a seus cidadãos, dá origem a uma nova forma de protesto social, a de pôr em conhecimento da população o que se mantém em segredo, não porque tenha valor algum para a segurança nacional, mas sim porque, conhecidas, se colocariam a descoberto as manipulações e mentiras da administração.


Esta forma de luta começou a cobrar importância na década de 1970. Nos anos recentes, ao invadir o ciberespaço, expõe novos problemas filosóficos e éticos não resolvidos totalmente, ao tempo em que se mostra como um campo de ação de incomensuráveis possibilidades. O ciberativismo, que possui entre suas armas o ciberataque [“hack”], ainda que eu prefira o termo ciberinfiltração, pode ser uma ferramenta formidável no contraponto entre o segredo e a transparência, para inclinar a balança para esta última. Tírios e troianos, evidentemente, podem utilizar a seu favor a intromissão eletrônica, porém a vulnerabilidade está de parte do que mais e piores segredos necessite ocultar, o qual coloca o império em situação extremamente desvantajosa.


Porém, examinemos brevemente a experiência acumulada. O escândalo, em março de 1971, quando os documentos contidos na sede do FBI em Media, Pennsylvania, foram publicados, obrigou a pôr fim ao sinistro programa COINTEL, utilizado para reprimir a todos os movimentos progressistas.


Entre os mais de mil documentos que vieram à luz e demonstravam que o FBI dedicava grande parte de seu tempo, pessoal e recursos materiais não à investigação de crimes, mas sim à vigilância de grupos que se opunham à guerra ou lutavam por seus direitos civis, se publicou um memorando que instruía a todos os agentes nos procedimentos a utilizar, como checagem e assédio constantes, interceptação de comunicações telefônicas, medidas coercitivas para obrigar à delação, infiltração de agentes provocadores etc, com o objetivo de semear a paranoia entre os grupos da Nova Esquerda [“New Left”], o qual, obviamente, não é função de agências oficiais num país que se supõe democrático.


Em 1967, o secretário de Defesa Robert McNamara ordenou um estudo sobre a guerra do Vietnã, que se converteu num conjunto de 7.000 páginas de documentos “Top Secret” chamado ‘Pentagon Papers” [Papéis do Pentágono]. O trabalho terminou nos primeiros meses de 1969.


Daniel Ellsberg, que trabalhou como assessor do Departamento de Defesa durante a escalada da guerra no Vietnã e tinha acesso a documentos classificados em seu caráter de assessor da Corporação Rand [1], soube, ao ler o documento, tudo o que se havia ocultado à opinião pública norte-americana com a finalidade de escalar uma guerra injusta, desnecessária e impossível de ganhar, e decidiu produzir cópias dos documentos, com ajuda de seu colega na Rand, Anthony Russo, as quais entregou a vários senadores e, posteriormente, ao New York Times, que começou a publicá-las em junho de 1971. Se soube, então, a história de como os Estados Unidos se haviam atolado, à revelia do Congresso, numa guerra não declarada que começou com a ajuda aos colonialistas franceses entre 1940 e 1950.


Os Papéis do Pentágono não continham material algum que pudesse ser útil ao inimigo; no entanto, a administração acusou Ellsberg de conspiração para cometer espionagem e outras denúncias. A motivação, na realidade, era política. Os Papéis do Pentágono constituíam uma prova incontestável de que tanto Lyndon Johnson como Richard Nixon haviam mentido para o povo norte-americano para que [este] aceitasse a guerra e sua escalada.


Um dos exemplos históricos mais ilustrativos dos abusos do grande júri foi o assédio dos investigadores federais a Daniel Ellsberg, a seus familiares e a todas as pessoas relacionadas com ele. As “sub penas” ou ordens de comparecimento obrigatório foram utilizadas como instrumento de repressão e castigo, inclusive contra o filho de Ellsberg, de 15 anos de idade.


A 11 de maio de 1973, a sólida defesa dos advogados de Ellsberg, por uma parte, e a grosseira atuação do governo com seus métodos coercitivos ou ilegais para a obtenção de evidências, por outra, determinaram que o juiz de distrito William Byrne rechaçasse todas as acusações contra Ellsberg e Russo.


O desespero da administração Nixon por impedir novos filtros e por obter informação que desacreditasse a Ellsberg conduziu à criação dos “plumbers” [chumbeiros] da Casa Branca e a muitos dos abusos que ficaram conhecidos posteriormente ao produzir-se o escândalo de Watergate. Depois da exoneração de Ellsberg, o fiscal William Merrill revelou a este que existiu um complô para “incapacitá-lo totalmente”, que na linguagem da máfia significava assassiná-lo. Esta ação seria executada pelo próprio pessoal do Watergate, incluindo a um grupo de terroristas cubano-americanos de Miami a serviço da CIA. [2]


A etapa cibernética na difusão de informações secretas é iniciada pelo jornalista australiano Julián Assange, fundador e editor de WikiLeaks, que adquire notoriedade internacional a partir de 2010. A difamação e a perseguição não tardaram em chegar e Assange teve que refugiar-se, desde 19 de junho de 2012, na Embaixada do Equador em Londres para evitar a extradição para a Suécia e a subsequente extradição para os Estados Unidos, onde seria processado por divulgar centenas de milhares de documentos classificados diplomáticos e militares.


Assange e o grupo musical porto-riquenho Calle 13 lançaram no dia 13 de novembro o tema “Multi_Viral”, sobre a manipulação informática dos meios de comunicação. “Querem deter o incêndio que se propaga, porém há fogos que com água não se apagam”, diz a letra do rap.


Chelsea Elizabeth Manning [Bradley Edward anteriormente], soldado do Exército dos Estados Unidos, foi escalado como analista de inteligência de uma unidade militar destacada no Iraque, onde teve acesso a bases de dados classificados. Nos inícios de 2010, filtrou para WikiLeaks um grande volume de material secreto, que incluía vídeos do genocida ataque aéreo do 12 de julho de 2007 sobre Bagdá, do massacre de Granai de 4 de maio de 2009 no Afeganistão, 250.000 cabogramas diplomáticos estadunidenses e 500.000 informes do Exército conhecidos como “Iraq War log” e “Afgan War log”. Grande parte deste material foi publicado por WikiLeaks ou seus meios afins.


Em julho de 2013 Manning foi condenado, por violação da Lei de Espionagem e outras acusações, a 35 anos de prisão, com possibilidade de liberdade condicional [“parole”] em oito anos. Manning cumprirá sua sentença na instalação penitenciária de máxima segurança conhecida como “U. S. Disciplinary Barracks”, em Fort Leavenworth.


Edward Snowden, ex-empregado da CIA e da NSA, entregou ao Washington Post, a The Guardian e outras publicações uns 200.000 documentos classificados, os quais puseram a descoberto o programa de vigilância massiva da NSA e, em menor grau, das agências homólogas em Grã-Bretanha [GCHQ], Israel [ISNU], Canadá [CSE] e Noruega [NIS]. Em maio de 2013 saíram à luz pública os programas de vigilância na Internet, como PRISM, XKeyscore e Tempora, e nas comunicações telefônicas. Acusado de espionagem e de roubo de propriedade governamental, Snowden é considerado um fugitivo pelas autoridades norte-americanas e vive atualmente na Rússia, na qualidade de asilado temporário.


Apesar da repressão e das cada vez mais rigorosas medidas de controle dos fluxos de informação, não será possível deter os filtros. Isto se deve a uma contradição insolúvel do sistema. Se um governo atua à margem das normas de convivência internacional, terá necessariamente que guardar o segredo de suas atividades e, quanto maior e mais abrangente seja a quantidade de informação classificada, maior número de pessoas terá que ser autorizado para o acesso a ela, pois, de outro modo, a maquinaria burocrática do Estado não poderia funcionar e, por conseguinte, maior será o número de pessoas que terão conhecimento dos maus manejos da administração e que estarão dispostas a denunciá-los.


Os ciberativistas, incluindo seus guerreiros clandestinos, os ciberinfiltrados, têm a possibilidade e a vantagem de não atuar sós, mas sim formando parte de redes mundiais que não estão limitadas por distâncias nem fronteiras e nas quais os participantes se comunicam entre si de maneira instantânea. Estes cibergladiadores nutrirão certamente as fileiras dos prisioneiros políticos, principalmente nos Estados Unidos, porém os vampiros da política e da guerra perecerão ou terão que aprender a viver à luz do dia.


Ellsberg como precursor e, mais tarde, Assange, Manning, Snowden, Hammond e muitos outros converteram em obsoletas as regras de jogo dos serviços de inteligência e apagaram o sonho imperial de uma Internet global, a rede única abaixo de Deus e do Tio Sam, pois todo mundo já sabe que os Estados Unidos buscam o controle da Internet para obter o domínio total da informação, e é um axioma consagrado pelo tempo que quem tem a informação tem o poder.


tradução: Joaquim Lisboa Neto

Notas:
(1) Rand (Research And Development) Corporation. Tanque de pensar que en
 sus orígenes tuvo como función principal ofrecer a las fuerzas armadas de Estados Unidos los resultados de sus investigaciones y análisis en política global.
(2) Democracy Now: Entrevista a John Dean y a Daniel Ellsberg, 27 de
 abril de 2006.

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