"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Ricardo Téllez, FARC-EP: “Ao contrário de processos anteriores, hoje conhecemos com nome próprio os inimigos da paz”


Sobre o fim do ciclo 16 nas conversações de paz em Havana e o acordo parcial alcançado em torno do ponto dois da agenda sobre participação política, se escreveram inumeráveis artigos na “grande” imprensa e gerado declarações por parte de todos os atores políticos, empresariais, sociais e populares de nosso país.



Nesta entrevista, o comandante Ricardo Téllez, integrante do Secretariado do E.M.C. das FARC-EP, analisa desde a perspectiva da insurgência o real alcance do acordado. Com otimismo, porém com comedimento e responsabilidade, afirma: “É um avanço substancial, porém falta muito caminho para percorrer”.


1. Com o acordo alcançado em torno do ponto 2 da agenda sobre Participação Política, se pode afirmar que este é um processo irreversível? Quanto se avançou e o que falta?
Ricardo Téllez: O acordo parcial sobre o segundo ponto da agenda significa um avanço substancial que anima as partes a continuar adiante, porém ainda falta muito caminho para percorrer. As FARC-EP jamais pensaram em abandonar a Mesa. Somos conscientes da responsabilidade histórica que assumimos para trabalhar para uma saída política do conflito social e armado que o país vive, e entendemos que o governo colombiano, por fim, entendeu que a derrota militar da guerrilha é uma quimera. A parte que abandone a Mesa deve estar disposta a pagar um alto custo político e carregar com a responsabilidade de ter falhado com o povo da Colômbia e com os amigos da paz em escala internacional.


2. Ao otimismo dos colombianos pelo avanço do processo em Havana se soma uma ascensão da luta popular. Que relação existe entre a mobilização popular e a possibilidade de um acordo de paz?
Ricardo Téllez: O movimento popular na Colômbia foi submetido nas últimas décadas a uma repressão de proporções desconhecidas em outras partes do continente. Não pôde ser derrotado. Pagou um alo custo em vidas humanas, deslocamento, tortura, cárcere, exílio. Hoje, ressurge como a ave fênix para exigir seus direitos violados e se torna num ator político de primeira ordem. As multidões intuem que é possível derrotar definitivamente o terrorismo de Estado, conquistar a democracia e conseguir profundas mudanças estruturais para recompor o país. Passou da expectativa à ação, vê que na Mesa de diálogos de Havana há uma guerrilha que assume a defesa das propostas que tradicionalmente vem movendo o setor popular e isso anima a luta, ao mesmo tempo em que retroalimenta e proporciona contundência à Delegação de Paz da Insurgência; isso explica que algumas palavras de ordem sejam coincidentes e se exponham com igual força tanto na Colômbia como em Havana.
3. Que podem esperar as mulheres, os indígenas, os afrodescendentes, os jovens deste acordo?
Ricardo Téllez: A maior parte de suas reivindicações têm sido levadas em conta pela guerrilha. As têm lutado com particular interesse para vê-las plasmadas não só no acordo como também na realidade. Há que defendê-las no terreno e obrigar a seu imediato cumprimento. É uma dívida histórica que não dá demora em ser cancelada por parte do Estado. Desde logo, a luta não termina. Começa sob outros parâmetros. Bem tem entendido nosso povo que é a hora da unidade, da organização, da elevação da consciência de classe para conquistar as mudanças pelas quais vimos combatendo. As diversas ações de massas se colocam na ordem do dia, para fazer avançar as mudanças e conquistar a democracia.


4. Os inimigos da paz são poucos, porém muito poderosos. Estão isolados estes setores ou ainda têm a capacidade de sabotar o processo?
Ricardo Téllez: Para nada minimizamos o poder da extrema-direita fascista. A diferença com processos anteriores é que hoje se conhecem nomes próprios e os fins que buscam. Atuam abertamente. Antes, o faziam na sombra. Ninguém os denunciava e gozavam de plena impunidade. Hoje, atuam abertamente contra o processo, têm candidato presidencial e continuam manejando grupos paramilitares sem pudor algum; isto conhecem-no bem as autoridades que estão em atraso de atuar com contundência. Mais de duzentas investigações tem o ex-presidente Uribe. Muitas delas por paramilitarismo. Seu irmão Santiago foi citado pela promotoria para que responda pela criação do aparelho de morte que, sob o sugestivo nome de “OS DOZE APÓSTOLOS”, semeou de morte e desolação o norte de Antioquia.


Não descartamos tampouco que, em qualquer momento, realizem operações encobertas, nas quais são expertos, para imputá-las à guerrilha e pretender sabotar as possibilidades reais de uma saída política ao conflito colombiano.


Tradução: Joaquim Lisboa Neto