De que Colômbia falamos?

Por MOISES SOLANA.

É bom assinalar que chama poderosamente a atenção o giro que tomou o discurso e a crítica dos meios de comunicação nacionais em relação com nosso vizinho país.

Para qualquer venezuelano de minha idade, torna-se fácil relembrar como nos anos sessenta e setenta se estigmatizava aos habitantes da Colômbia, “...se não o fazem na entrada, o fazem na saída...”. Se chegou quase a uma confrontação bélica, a propósito do incidente como o das fragatas CALDAS. As compras militares. Certamente, tinham a nosso mentor mundial [USA] como suporte fundamental a uma possível confrontação com nosso vizinho. Hoje, no entanto, os mesmos setores que estimulavam esta predisposição para nossos vizinhos, Oh surpresa!, redescobrem a Colômbia e, como por arte de magia, esta passa a ser um modelo de DEMOCRACIA E DESENVOLVIMENTO na região.

Colômbia é um país de 46 milhões de habitantes. Ao chegarmos a ela através de seus meios de comunicação, pelo menos os mais importantes, encontramos:

·         Tem 1.120 municípios. Em 800 deles se consome água de alto risco para a saúde e para 324 é fornecida água que não deve ser consumida nem utilizada para o asseio pessoal.

·         33% dos municípios não têm eletricidade.

·         Há 4 milhões de minas antipessoais semeadas no campo colombiano.

·         Os campesinos foram despojados de 5 milhões de hectares.

·         Colômbia produz 70% da cocaína que se consome nos EUA.

·         Nas áreas urbanas e suburbanas, a atividade comercial e o transporte público devem pagar propina às quadrilhas criminosas para poderem ser desenvolvidas.

·         A educação é pública, porém não gratuita, e a saúde pública é levada a cabo pelas empresas privadas.

·         De seus 46 milhões de habitantes, apenas um milhão de trabalhadores são aposentados e pensionistas, e recebem a proteção social do estado.

·         O salário mínimo é de 56.800 pesos, 305 dólares USA.

·         O galão de gasolina vale 2300 pesos, 1,30 dólares USA.

·         Óbvio que, como país amigo dos USA, tem 8 bases militares deste país em seu território e seus membros têm status legal especial, não podem ser julgados por tribunais colombianos, independentemente da falta que cometam.

·         Dois de cada três colombianos [66%] estão na economia informal.

·         Ao redor de 12 milhões de colombianos emigraram para o exterior [em Venezuela se estima a presença de 5 milhões deles] por razões econômicas.

·         Mais de três mil dirigentes políticos, sociais, indígenas, jornalistas tiveram que sair do país por receber ameaças de morte. [relembre-se o triste caso do humorista Garzon, assassinado em Bogotá.]

·         A violência produz ao ano mais de 40.000 vítimas, 20% delas produto da violência política e o resto produto da violência social.

·         Cinco milhões de pessoas foram deslocadas internamente pela violência [só no ano 2012 foram deslocadas 265.000].

·         Mais de 200.000 desaparecidos nos últimos vinte anos.

·         Mais de três mil dirigentes do movimento político União Patriótica, que quis fazer vida política legal nos anos oitenta, foram assassinados quando os setores dirigentes do país se aperceberam de sua influência política nos setores populares. [é possível desenvolver vida política legal na Colômbia, sendo opositor aos setores dominantes?].

·         Um país que tem 700.000 homens em armas

- 400.000 no exército, marinha e aviação

- 180.000 na polícia nacional

- 120.000 no que se conhece como trabalhos de inteligência

·         Tem 80.000 homens nas chamadas forças irregulares, isto é, paramilitares, cartéis da droga, bancrim [bandos criminosos] e guerrilhas.

·         Há 120.000 presos, dos quais 8.000 são presos políticos.

 

Então, quando CNN, El País, ABC, La Nación de Espanha, El Nacional, El Universal, 2001 etc. de Venezuela, El Mercurio, de Chile, Clarín de Argentina, O Globo do Brasil, nos falam da Colômbia como um paraíso, de um país para se morar, de qual Colômbia me falam, será acaso da Colômbia paraíso para os investimento do capital internacional, o qual leva 90% dos lucros obtidos, graças a mão de obra barata e as facilidades para o investimento, ou da Colômbia das grandes maiorias, a Colômbia que padece dos falsos positivos, a Colômbia dos deslocados, a dos pivetes de Bogotá. Será, por acaso, que há várias Colômbias?