"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 18 de março de 2013

Venezuela: De ética na política, sucessões e desafios


- - - Servicio Informativo "Alai-amlatina" - - -
Por Irene León
Tradução: Joaquim Lisboa Neto

ALAI AMLATINA, 11/03/2013.- Ponto obrigado em 8 de março passado, dia da posse de Nicolás Maduro, como Presidente interino da República Bolivariana de Venezuela, foi a dignidade, tal como ensinou Hugo Chávez, a quem jurou lealdade absoluta por ser povo e por estar ali em nome deste. Esta faixa – a presidencial – pertence a ele, disse, ao mesmo tempo em que fez um balanço de sua história militante e de seu compromisso com o processo popular em marcha.
A palavra-chave foi lealdade, ao processo e ao líder, lealdade que as figuras da Revolução Bolivariana têm cultivado cuidadosamente nestes anos, a ponto de convertê-la no argumento que explica fatos históricos-chave, tais como a libertação e a restituição do poder ao Presidente, depois do golpe em abril de 2002.
A lealdade, qualidade preferida de Chávez, semeada em grande escala, é sem dúvida uma das explicações da monumental “maré vermelha”, nacional e internacional, que convocou a uns quatro milhões, desde há vários dias, às ruas de Caracas, para agradecer, para render homenagem e, mais ainda, para ratificar compromissos.
A segunda palavra-chave nisto é o exemplo, ou melhor, a coerência entre palavra e feitos, virtude que Chávez praticava e destacava ao rememorar o exemplo do Che. O cumprimento da palavra dada, com um sentido de urgência no encaminhamento do compromisso com o povo, entendido como “compromisso com”, encerra uma dinâmica relacional inerente à participação popular protagônica, que estimula, sem dúvida, o sentido de reciprocidade que o povo expressa agora.
Por sua parte, o povo, ator central do processo revolucionário, se assume como corresponsável deste, reconhece e se reconhece nos valores semeados por seu líder, por isso, enquanto agradece materialidades [moradia, alimentação, saúde], enfatiza no amor e na dignidade recobrada, no sentido do coletivo conceituado como pátria. O povo reconhece e se reconhece nas lideranças que se forjaram no processo revolucionário, os postula e defende como próprios, porque, sim, são próprios, são saídos de suas fileiras.
Nasci em casa de palma com piso de terra... Meu pai era negro e minha mamãe sarará... cresci com as estórias indígenas dos planos...”, dizia um Chávez orgulhoso de sua origem, e mais, “Se alguém pudesse voltar a nascer e pedir aonde, eu diria ao papai deus: manda-me ao mesmo lugar”, enfatizava, prezando sua Sabaneta rural. Também Maduro reivindica sua origem operária, “digo com muito orgulho: fui condutor do metrô de Caracas, fui dirigente sindical, aqui estão meus companheiros e minhas companheiras”, disse, quando replicava as zombarias classistas que a direita fazia sobre sua origem e aquela do Presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, chamando-os de “o chofer e o soldadinho”.
Com igual estatura, Cabello, que foi parte da epopeia do 4 de fevereiro de [19]92, personagem-chave na restituição do Presidente Chávez no poder em 2002 e que, como camarada, o conheceu de perto, coloca um desafio maior “...agora que temos dito que todos e todas somos Chávez, temos por diante o desafio de sê-lo”, diz, sabedor do tamanho da visão humana, política e intelectual a que se propõe lutar.
O projeto de “ser Chávez” num contexto onde – como assinala a vice-presidenta do Parlamento Latino-Americano, Ana Elisa Osorio – a democracia participativa e protagônica é projeto e se exerce, implica uma superação humana que compromete por igual ao povo e aos líderes. Isso marca uns critérios éticos e políticos que definem a liderança sob princípios que distam anos-luz do classismo burguês.
A burguesia terá, então, que adaptar-se, ou melhor, deixar de ser tal, pois, a mais do poder já constituído, começam a surgir as figuras de uma nova camada “feita em revolução”, cujos referentes éticos já estão marcados tanto pelos valores que Chávez expôs como pelas mostras de coerência entre discurso e prática, tangíveis nos avanços significativos de uma proposta de igualdade, soberania, visão de pátria grande, entre outros.
Aqueles que estão crescendo num âmbito de participação popular protagônica, com o horizonte do Socialismo do Século XXI – que implica um processo de construção desde o próprio, com pensamento próprio –, mostram já a influência dos antes mencionados referentes humanos e expõem umas novas projeções de vida. De fato, muitas meninas e muitos meninos “querem ser Chávez” quando crescerem, e mais, os entrevistados na “maré vermelha” já dizem sê-lo. Ademais, os que vivem um dia a dia de solidariedade, como a mostrada pelos milhares de médicos e médicas cubanos em seus bairros, defendem agora esse referente que, em outra escala, Fidel exemplificou quando se envolveu [intensamente] com os cuidados da doença de Hugo Chávez.
Nisso de ensinar com o exemplo, os referentes de lealdade, compromisso, perseverança, têm no processo revolucionário presença cotidiana, com figuras diversas do poder popular, tais como: Tibisay Lucena, Presidenta do Conselho Nacional Eleitoral; Luisa Estela Morales, Presidenta do Tribunal Supremo de Justiça; Blanca Eekhout, Vice-Presidenta da Assembleia Nacional e ex-ministra de Comunicação; Gabriela del Mar, Defensora do Povo; Cilia Flores, Procuradora Geral da República, ex-Presidenta da Assembleia Nacional; Elías Jaua, Chanceler e ex-Vice-Presidente; Nora Castañeda, Presidenta do Banco da Mulher; e um longo etc.
Em síntese, Hugo Chávez deixa canalizada uma mudança de valores, existe um importante entorno confluente com estes, o povo os respeita e quer reconhecer-se neles, porém sua consolidação é um dos grandes desafios para seus/as sucessores/as, pois, como diz o Presidente Maduro, “...todos e todas vimos da sociedade capitalista e estamos apenas empreendendo a transição ao socialismo” com uma visão própria, que já não se circunscreve apenas ao ‘determinismo econômico”, mas sim que projeta a criação de uma nova humanidade, de uns novos valores, da conjunção de muitas dimensões humanas numa sociedade com idiossincrasias e culturas próprias.
O sucessor de Hugo Chávez não é um burguês “... nem um filho de burguês, é um homem do povo...”, usa insistir com contundência, se conhece dele o êxito da posta em marcha de uma política exterior, que logrou posicionar as duas propostas maiores da mudança internacional levantadas por Chávez: a integração latino-americana e a construção de um mundo multipolar e anti-imperialista, que proporcionaram à Venezuela um papel relevante no contexto mundial de hoje.
Vimos ele chorar por Hugo Chávez com frequência nestes dias – assim como os fizeram os Presidentes dos países da ALBA e de outras partes – e o vimos mostrar afetos, como o fizeram militares, militantes, e homens do povo. Esses são uns sinais de que a revolução socialista e feminista impulsionada por Chávez está transformando a cultura política machista e seus rituais, que antes antepunham protocolo a emoções, que estimava mais as aparências que os sentimentos de fundo.
Em síntese, neste contexto de transição e como resultado destes primeiros 14 anos de processo revolucionário, o povo venezuelano conta com: uma Constituição que pauta o horizonte de mudanças; uma agenda estratégica definida no Programa da Pátria 2013-2019, um compêndio programático que contém cinco objetivos históricos, que definem a transição ao socialismo no contexto e tempos próprios, com um olhar nacional, regional e e planetário; e conta, sobretudo, com uma bagagem de vivências coletivas experimentadas pelo povo no processo de refundação da pátria, isto é, com uma construção histórica compartilhada que já enuncia compromissos com a transição ao socialismo, como se pôde constatar nestes dias.
São esses elementos: povo, proposta e projeto, que são Chávez, é a esse legado que o povo se refere quando diz Todas e todos somos Chávez, e Maduro o tem claro quando enfatiza em que a única forma de conseguir ser Chávez “...é que estejamos juntos e permaneçamos unidos. Todos juntos somos Chávez, separados não somos nada e podermos perder tudo...” diz, e fala do carisma, da inteligência, da força espiritual e outras virtudes combinadas que ele, sim, tinha, porém que para qualquer outra pessoa comum são uma aspiração.
A revolução tem como fim último os princípios, a felicidade, ‘a maior quantidade de felicidade possível’, dizia Chávez, e, para consegui-lo, a agenda imediata implica a unidade, solidariedade e compromisso com o projeto. São tempos desafiantes, que se desenvolverão sem a expressão cotidiana de sua sabedoria, toca, então, maximizar esse legado de sabedoria que ele espalhou no povo e dos altíssimos valores e pensamento próprio que irradiou em seu entorno político.
Digam a Fidel que ele verá uma revolução triunfante na América Latina, disse o Che em seus últimos momentos de vida, e Hugo Chávez deixou tudo rumando para que isso suceda em escala de Pátria Grande e que a Venezuela Bolivariana seja o amanhecer desse grande projeto.