"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


domingo, 29 de julho de 2012

Carta em resposta a ACIN – por Timoleón Jiménez do Secretariado das FARC-EP


Companheiros:

ASSOCIAÇÃO DE COMUNIDADES INDÍGENAS CXHABWA LA KIWE [DO NORTE DO CAUCA]
Montanhas do estado do Cauca.

Estimados compatriotas:

Tivemos conhecimento da comunicação recentemente dirigida por vocês, a qual cuidei de ler com grande respeito e atenção. Com a mesma clareza e franqueza com que sua Associação expressa seu pensamento e propósitos, procedo a responder suas inquietudes em minha condição de Comandante do Estado-Maior Central das FARC-EP, organização que, como vocês conhecem, nasceu em 1964 à vida política colombiana como expressão da resistência popular à guerra de agressão contra o povo, e se aproxima de cumprir cinquenta anos de luta indeclinável pela paz.
Que vocês expressem com tanto fervor sua aspiração pela paz, conforma nossa convicção de que as grandes maiorias colombianas clamam nos quatro cantos do país por esse prezado bem. A guerra civil colombiana não tem sido uma decisão do povo deste país, mas sim uma imposição das classes abastadas dominantes. É natural que o povo que a sofre a rechace com afinco. Nós somos os primeiros. Por isso, a combatemos em todas as formas possíveis.
É um fato reconhecido por numerosos estudiosos da realidade colombiana que a guerra em nosso país responde a um modelo de acumulação de capital. O esbulho da propriedade rural e sua concentração em, cada vez mais, poucas mãos tem coincidido de maneira assombrosa com as sucessivas agressões contra as zonas agrárias por parte das forças oficiais e paraoficiais. Pretextos para elas nunca faltaram. As FARC não estamos integradas por soldados pagos nem recrutados, mas sim por gente simples do povo da Colômbia, que se levantou à resistência. Campesinos, indígenas, negros e mestiços que decidimos enfrentar com as armas a agressão.
É absolutamente certo que o esbulho contra os indígenas americanos leva mais de cinco séculos. Razão de mais para lutar por sua justa reivindicação. Compartilhamos completamente todas as aspirações das comunidades indígenas e, de fato, as estamos apoiando com o risco de nossa própria vida. Porém, a força dos fatos históricos impõe também que os indígenas não são as únicas comunidades violentadas e perseguidas em Colômbia.
Às vezes, parece depreender-se de suas sinceras alegações que as comunidades indígenas só olham por elas mesmas, desconhecendo a sorte dos demais despossuídos e perseguidos da Colômbia, que somam pelo menos trinta milhões de compatriotas. O grave conflito colombiano não pode ser solucionado somente para as comunidades indígenas, simplesmente porque vocês fazem parte da Colômbia, habitam em territórios cobiçados pelos mesmos latifundiários e inversionistas que despojam a colonos, mineiros, trabalhadores e demais setores explorados.
Com todo o respeito e a consideração que merecem, me permito expressar-lhes que não é isolando-se do resto de colombianos que clamam fervorosamente pela paz e justiça social que vão conquistar seus velhos anseios. O Exército colombiano não só ocupa redutos indígenas, senão que cumpre seu trabalho predador por todo o território nacional. Sua missão é prestar segurança a inversionistas, empresários e terra-tenentes nacionais ou do estrangeiro, ao preço de esmagar qualquer oposição ao modelo de saqueio e empobrecimento que defendem.
Nós não só acreditamos que o Exército deve sair das comunidades indígenas, mas sim de todo o campo colombiano. Sua missão natural é guarnecer as fronteiras em defesa da soberania nacional, porém as classes dominantes o converteram numa máquina a serviço de poderosos interesses estrangeiros, dirigida diretamente por generais norte-americanos.
O reconhecimento da autonomia e autoridade das comunidades indígenas não nos fazem cegos ante a soma de interesses que chegam a elas. Se os conquistadores espanhóis se valeram da Igreja, das bajulações pessoais e até da corrupção de muitos caciques como mecanismos avançados para sua presença espoliadora, sabemos que igualmente se sucede hoje com diversas organizações de rosto humanitário, benfeitor ou clientelista. Fenômenos assim minam a credibilidade de muitas lideranças na própria base indígena e desintegram sua organização.
Sentimos sincero respeito por sua oposição ao emprego da violência como mecanismo de luta. Numa humanidade civilizada, alheia aos interesses de classe, certamente que tal pretensão será generalizada. Por isso lutamos. Porém, não é menos certo que as realidades da Colômbia, governada secularmente por uma casta violenta e agressora, terminaram por produzir a resposta digna dos de baixo. E essa também é uma forma respeitável de luta, que não pode ser condenada por princípio sem apagar de uma canetada a história e roçar os limites da utopia.
Como se conclui de sua aspiração de poder desenvolver um projeto de vida, sem que mudem as condições econômicas, políticas, sociais e culturais que dominam o resto do país. O problema de vocês não pode ser examinado à simples luz da não presença do Exército ou da guerrilha nos redutos, porque, como diz Santos, o Exército jamais vai abandonar suas bases. Porque sua presença encarna um modelo de dominação nacional, continental, de aspirações mundiais. O que há que derrotar é esse modelo, e para isso há que começar pela mudança do regime.
Essa é nossa luta e a de milhões de colombianos que, estamos certos, os apoiam neste momento, os quais veriam fortalecidas suas aspirações se vocês também apoiassem suas reivindicações. O assunto na hora é de unir forças, não separá-las. As guerras são sanguinolentas, mais [ainda] as que afrontam aos povos com regimes terroristas a serviço de potências imperiais. Toda a maquinaria militar, econômica, ideológica e política é posta em jogo por estes últimos anos em prol de sua vitória. Ela inclui a propaganda negra, as mentiras e provocações mais grosseiras. Nós, mais que ninguém, somos vítimas de tudo isso junto.
Se a nossa gente chegam rapazes indígenas sadios, desesperados pela miséria em que cresceram, ansiosos por lutar para melhorar a sorte de seu povo, não os rechaçamos. Não podemos, assim é a luta. Da mesma forma sucede com campesinos, mineiros, operários, estudantes e toda a juventude colombiana que decide unir-se à luta. As normas do Direito Humanitário que vocês citam proíbem situar bases e quartéis de guerra no meio da população. Nós jamais o fazemos, vocês sabem que a tropa sim, e de maneira permanente e pérfida.
Vocês exigem que não empreguemos nossas armas com risco para a população civil. Nós somos população civil, a qual a violência estatal e paramilitar obrigou a alçar-se. Jamais poderíamos ter na mente a ideia de afetar gente inocente. Nisso compartilhamos por completo sua reclamação com plena disposição a evitar que ocorra. Porém, que fazer com as forças terroristas de ocupação? Consideramos válidos e legítimos os heroicos esforços que vocês cumprem hoje.
Se na Colômbia cessam as operações militares, os bombardeios e metralhamentos forçados, os deslocamentos forçados, o esbulho da terra, os crimes contra o povo e a impunidade, com toda segurança que não terá sentido a existência das guerrilhas. Se o Exército, a Polícia e os paramilitares saem do Cauca, se termina sua guerra contra indígenas, campesinos, mineiros e o povo em geral, nós não teremos problemas para sair também.
Em toda a Colômbia cresce um estrondoso clamor pela paz. Por uma saída política à confrontação. Essa tem sido, entre todas, a mais velha de nossas bandeiras. É o regime o que jamais se prestou a por fim à sua predileção pela violência. É a ele que há que obrigar a abrir um diálogo. Vocês, que hoje, mais do que nunca, sofrem o estilo característico de responder na Colômbia as aspirações de paz, são bem-vindos, sem dúvida, ao trabalho por ela. Com sua presença combativa estaremos muito mais perto dela.
Recebam todos o meu afetuoso abraço, que é o de todas as FARC-EP, o de todo o povo colombiano que os admira, aplaude e respalda.
Timoleón Jiménez,
Comandante do Estado-Maior Central das FARC-EP
Montanhas de Colômbia, 20 de Julho de 2012.
Tomado de: http://www.mbsuroccidentedecolombia.org/inicio/acin.html