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Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 7 de maio de 2010

General del Río, chegou a hora de falar a verdade: “o Alemão”


Verdad Abierta
Fonte: Rebelion.org


Em depoimento diante dos fiscais da Unidade de Justiça e Paz realizada em Medellín, Fredy Rendón Herrera, vulgo “Alemão” (1), ex-chefe do Bloco Paramilitar Elmer Cárdenas, das Autodefesas Camponesas de Córdoba e Urabá (ACCU), disse que comunicou ao ex-general Rito Alejo del Rio que chegou a hora de falar a verdade e de expor as relações que os paramilitares tiveram na região de Urabá com diversos setores sociais, políticos e militares no tempo em que o general foi comandante da XVII Brigada.

“General, me parece que já é tempo de que o senhor diga a verdade. Num ato de franqueza e de amizade para com o General, o senhor já não tem mais como continuar escondendo a verdade que já é conhecida em partes”, disse “Alemão” na mensagem enviada ao ex-general através de um emissário de quem não foi divulgado o nome por razões de segurança nem a data dos acontecimentos.

No cruzamento de mensagens, de acordo com o relatado dado por ‘Alemão’, parece que este ex-general do Exército comunicou-lhe que certamente a ele também chegaria a hora de dizer a verdade, ao que o ex-paramilitar reagiu celebrando a decisão e mostrou-se esperançoso de que assim fosse, “em prol de que o país conheça a verdade”.

Rito Alejo del Río, que foi chamado por diversos setores sociais e políticos como o “pacificador de Urabá”, encontra-se detido desde 5 de setembro de 2008 e foi apontado de ser, supostamente, um dos apoios mais importantes do paramilitarismo na região de Urabá desde que comandou a Brigada XVII do Exército, entre 1995 e 1997, e que o ex-militar vem negando insistentemente.

Atualmente, o ex-oficial é investigado por supostos vínculos com grupos paramilitares e por supostas violações dos direitos humanos cometidas no decorrer da Operação Gênesis, realizada entre 24 e 28 de fevereiro de 1997, no departamento de Chocó.

O detalhe das mensagens foi revelado por Rendón Herrera durante uma sessão coletiva de depoimentos realizada na semana passada, em Medellín, diante de um agente da Unidade Nacional de Justiça e Paz na qual também participaram os ex-paramilitares Julio Cesar Arce Graciano, Manuel Soto Salcedo, Diego Luis Hinestroza y Luis Muentes Mendoza, que fizeram parte da chamada Operação Cacarica, realizada em fevereiro de 1997, no departamento de Chocó, justamente nos mesmos dias em que o Exército realizava a Operação Gênesis.

De acordo com o relatado pelo ex-paramilitar, a mensagem enviada ao ex-general destacou as bondades da lei 975, conhecida como Lei de Justiça e Paz, e a classificou como “perfeita”, mas acrescentou que estava chegando a um estado em que as relações que tiveram os grupos paramilitares que operavam no Urabá antioquenho com funcionários da Força Pública, assim como com setores sociais, políticos e empresariais, teriam que vir a público.

Na sua intervenção, o ex-paramilitar destacou que entre o ex-general e ele existia uma amizade e apreço mútuo, o que fez com que lhe enviasse a referida mensagem.

O “Alemão” relatou, em diversas versões, diante dos promotores da Unidade de Justiça de Paz que conheceu o general Rito Alejo Del Rio através de Mauricio García, vulgo “Doblecero” (Duplo zero), um ex-oficial do Exército que se integrou às ACCU em meados da década de noventa e que liderou o Bloco Metro. Raúl Hasbún Mendoza, ex-chefe da frente Arlex Hurtado, das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia), que está pleiteando a aplicação em seu caso da Lei de Justiça e Paz, também compareceu à guarnição militar.

Tampouco é a primeira vez que Rendón Herrera envolve o general em atividades conjuntas de contrainsurgência.

Em depoimentos dados no fim do ano passado, o “Alemão” esclareceu que na Operação Gênesis, realizada entre 24 e 28 de fevereiro de 1997, foram incluídos doze guias paramilitares, todos integrantes do Bloco Chocó, com o objetivo de atacar posições de vários destacamentos da Frente 57, das FARC-EP, assentadas nesses territórios. A ordem de incluir os guias veio do chefe paramilitar Carlos Castaño Gil e foi autorizada pelo general Rito Alejo Del Rio.

O pedido feito por Rendón Herrera ao ex-general e a resposta que este deu, ao que parece positiva, contrasta com a defesa do alto oficial feita publicamente por diversas personalidades do país, que têm demonstrado gratidão em diversas ocasiões.

A mais conhecida ocorreu em 29 de abril de 1999, no Hotel Tequendama, em Bogotá, na qual participaram cerca de 1.500 pessoas, quando se fez uma homenagem a ele em resposta à sua destituição por decisão do então presidente Andrés Pastrana.
O ex-oficial foi chamado a prestar declarações quando desempenhava o cargo de comandante da Brigada XIII de Bogotá, para onde foi transferido no dia 16 de dezembro de 1997, justamente como prêmio por seus serviços em Urabá.

Durante a homenagem, o então governador de Antioquia, Álvaro Uribe Vélez, disse que: “ninguém melhor do que o general del Rio compreendeu que, para Urabá, havia chegado a hora da paz, do Estado, da Cidadania e da fé que avançou notadamente”. Uribe ainda relembrou que, ao intervir na sub-região de Urabá como governador de Antioquia, “em todas as partes estava presente o acompanhamento discreto e eficaz do General”; e, por último, o qualificou como “um bom exemplo para os soldados e policiais da Colômbia”.

Familiares das vitimas e advogados que as representam e que estiveram presentes nas audiências, tanto em Medellín como em Turbo e Riosucio (Chocó), esperam que nos próximos depoimentos para os procuradores da Unidade de Justiça e Paz, “Alemão” cumpra o prometido e conte ao país quem foram os que estiveram por trás do projeto paramilitar que se desenvolveu em Urabá antioquenho e que o ex-general Rito Alejo del Rio faça sua parte e comece a falar, para poder estabelecer as responsabilidades jurídicas daqueles que hoje estão nas sombras e respondam perante a justiça por sua cumplicidade nas centenas de crimes que foram cometidos nessa região de Antioquia.

NOTAS DE REBELION:

(1) A Corte Suprema de Justiça, acaba de negar a extradição de Fredy Rendón Herrera, vulgo ‘O Alemão’, um chefe paramilitar detido, mantendo assim sua nova linha na qual diz que rechaça a entrega aos EUA de prisioneiros envolvidos com o narcotráfico e prioriza os crimes de lesa-humanidade cometidos na Colômbia.
A Promotoria colombiana imputou a Rendón, de 36 anos, por homicídio, sequestro, tortura, recrutamento de menores de idade, porte ilegal de armas, munições e uniformes de uso exclusivo das forças armadas em, pelo menos, 11 diferentes crimes que deixaram mais de 400 vitima, entre mortos e pessoas deslocadas.
“O Alemão” e seu irmão, o chefe narcoparamilitar Daniel Rendón Herrera, vulgo “Dom Mario”, também detido, desmobilizaram-se em 2006 como parte de um processo de negociação iniciado pelo governo do presidente Álvaro Uribe com os grupos paramilitares.

(2) Ver: "Alguns crimes do General Rito Alejo del Río" pela Rede de Defensores de Direitos Humanos não institucionalizados.

(3) Ver: "Doze paramilitares foram guias do Exército na Operação Gênesis" http://www.verdadabierta.com/justicia-y-paz/2129-doce-paramilitares-fueron-guias-del-ejercito-en-la-operacion-genesis