"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sábado, 29 de maio de 2010

FARC-EP CONVOCA O POVO A SE ABSTER NESTE DOMINGO


ANNCOL

Neste 46º aniversário das FARC-EP coincide com o fim do mandato do governo da “segurança democrática”. Um documento para o estudo do povo colombiano e do mundo.


Comunicado:

46 ANOS DE LUTA PELA NOVA COLÔMBIA

Faz quarenta e seis anos que a oligarquia mais reacionária, sanguinária, terrorista e subserviente à estratégia imperialista dos Estados Unidos na Colômbia, decidiu empurrar o país pelo pavoroso caminho da guerra, fazendo-se de surdos para os milhares de vozes que clamavam pelo imperativo do diálogo e de soluções políticas por cima das agressões militares contra os camponeses de Marquetalia. E o poder da violência e do terror, agitados em cólera e provocadora palavra do Senador Álvaro Gómez Hurtado de que nunca iriam à guerra, e que ofuscado pelo terror das falanges franquistas na Espanha, preparou, sobre a mentira, a nova justificativa para o novo ciclo da violência como método para arrasar a oposição política.

A demência do poder decretou poucas semanas para arrasar a resistência liderada pelo maior e mais firma comandante guerrilheiro de todos os tempos, Manuel Marulanda Vélez e o seu nascente Estado Maior, com Jacobo Arenas, Isaías Pardo, Hernando Gonzales, Jóselo Lozada, Ciro Trujillo, Miguel Pascuas, Fernando Bustos e Jaime Guaracas que, juntos com demais bravos camponeses, que não eram mais do que 46 vontades, enfrentaram o terror bipartidarista representado no excludente pacto da Frente Nacional, que gerou esta guerra que já leva meio século.

Desde o início da campanha oligárquica e militarista, patrocinada e planejada pelo imperialismo para justificar o terror contra o movimento agrário e Marquetalia e Riochiquito até o dia em que começaram a agressão, a nossa voz, junto com a de muitas organizações e personalidades nacionais e internacionais, vibrou propondo soluções pacificas e construtoras de democracia, de desenvolvimento humano, de fortalecimento da produção de alimentos, de equilíbrio ambiental, de reconhecimento da visão de mundo das comunidades indígenas e negras, de participação igualitária na produção e distribuição da riqueza. Mas a cegueira do poder e a postura genuflexa da oligarquia nativa diante das migalhas do mestre imperial, desqualificaram e silenciaram estas vozes. Sua história tem sido o enriquecimento a qualquer preço, com base no terror e saque.

As FARC-EP, nascidas impulsionadas pela intolerância, exclusão e perseguição violenta pelas castas que estão no poder e estabelecem os governos, “temos sido vítimas da fúria latifundiária e militar, porque aqui nesta parte da Colômbia, predominam os interesses dos grandes senhores das terras e os interesses dos reacionários mais obscurantistas do país. Por isso, tivemos de sofrer na carne e no espírito, todos as bestialidades de um regime podre que brota da dominação dos monopólios financeiros ligação ao imperialismo”, como manifestamos no nosso Programa Agrária. Nós não inventamos esta guerra, nem fomos a ela como aventura para homologar epopéias redentoras da pobreza, assumimos com dignidade e seriedade o destino político que o abominável poder oligárquico impôs para a nação, como destacávamos naquela época no Programa Agrário: “Somos revolucionários que lutam por uma mudança de regime”. Mas nós queríamos e lutávamos por essa mudança usando a via menos dolorosa para nosso povo: a via pacífica, a via democrática de massas. Essa via nos foi fechada violentamente com o pretexto fascista oficial de combater supostas “Repúblicas Independentes” e, como somos revolucionários que de uma forma ou outra assumiremos o papel histórico que cabe a nós, tivemos que procurar outra via: “a via revolucionária armada para a luta pelo poder”.

Foi assim que os poderosos do terror, transformaram-nos em combatentes da resistência que a sabedoria do povo tem alimentado neste quase meio século de ação pela dignidade, pela paz e a soberania. Temos crescido ao calor da batalha político-militar, apegados ao legado histórico que nos deixaram as comunidades indígenas na resistência contra o invasor espanhol, as lutas contra esse mesmo poder pelos negros e escravos fugidos, o levantamento guerrilheiro dos comuneiros com José Antonio Galan, Lorenzo Alcantuz e Manuel Beltran; dos forjadores das manifestações contra o poder colonial Espanhol de duzentos anos pela primeira independência com Don Antonio Nariño; pelo fogo patriótico e soberano que irradia o pensamento e o exemplo do libertador Simon Bolivar. Evoluímos na experiência dos guerrilheiros dos Mil Dias, em novecentos, contra o “regenerador” Rafael Nuñez. Temos nos enfrentado na luta contra a barbárie, relembrando a memória dos assassinados pelo exército oficial ao serviço do imperialismo na matança das bananeiras, em 06 de dezembro de 1928 na localidade de Cienaga, no departamento de Magdalena, na comprometida recordação para com todos os lutadores vitimados pelo Estado e suas estruturas paralelas para o terror. Mas temos também crescemos com a crítica, o reconhecimento, o abraço, o amor e a ternura de uma importante multidão de compatriotas que nos encorajam, com o seu próprio sacrifício, na luta para transformar o modelo econômico e as práticas políticas em vigor.

Nestes 46 anos de dura luta, temos crescido em razões e no compromisso de luta com os cada vez mais numerosos camponeses sem terra devido ao deslocamento forçado e que já ultrapassam a infame cifra dos quatro milhões pelo terror paraestatal; com os milhões de sem teto e com mais de 20 milhões de pessoas pobres que se esforçam para quebrar o império da desigualdade; com mais de 20 milhões de desempregados condenados a perambular atrás de trabalho e com os milhões de jovens que não têm acesso à educação; com a memória de todas as vítimas do terrorismo de Estado em todos estes anos de terror e que choram diariamente por justiça, bem como os mais de 2.500 assassinados pela força pública e apresentados sob o eufemismo de “falsos positivos” neste governo de Uribe Vélez; com as mulheres que tecem as esperanças de igualdade perante a violência que as oprime e lhes nega possibilidades para uma vida digna. Temos crescido no calor do combate e na experiência organizativa a cada investida militar e diante de cada ciclo para nos desacreditar e nos exterminar. O Plano Colômbia não tem diminuído a nossa força nem nossa moral; fracassou diante das inocultáveis razões do levantamento e pelo violento autoritarismo que sustenta a política de segurança do governo que termina; foi derrubado pela mentira, o crime e a corrupção, que constituem sua verdadeira natureza.

A escalada militar imperialista no nosso país, também fracassará diante da capacidade de luta e resistência da insurgência e da mobilização do nosso povo. A defesa da soberania pátria é imperativa neste tempo de reverência oligárquica aos interesses do governo dos EUA.

A nossa disposição para construir caminhos para a paz é o compromisso de sempre; pela solução política temos lutado com seriedade, com ponderação, sem enganar as maiorias nacionais, sem politicagem, sem artimanhas em todos os cenários. Assim foi com o governo de Belisario Betancur e Virgilio Barco e Casa Verde, ou em Caracas e Tlaxcala com Cesar Gaviria, ou na última tentativa em El Caguán com Andrés Pastrana. Mas a minoria excludente de políticos, empresários, latifundiários e narcotraficantes que controlam o poder, colocaram obstáculos para posicionar seus interesses, procuraram apenas abrir espaço para recompor suas estruturas de repressão estatal sob as ordens e financiamento do império, como a implementação do fracassado Plano Colômbia para impedir qualquer avanço da paz democrática e impor a linguagem do terror e da chantagem para desacreditar os movimentos de resistência e de libertação nacional, assim como desestabilizar a região diante os ventos da mudança e da soberania que acompanham o continente.

O governo que agoniza prometeu a aniquilação das FARC-EP, como uma irrefutável estratégia de manipulação mediática da opinião pública, para se exceder em as todas as formas no poder. E, com seu autoritarismo extravagante, ocultar seus crimes, suas ligações com o narcotráfico e o paramilitarismo, assim como a corrupção que borbulha por todos os cantos do palácio presidencial. Este período obscuro e letal do vaidoso potentado, que termina seu governo com uma profunda crise estrutural e com mais de cem membros de sua bancada parlamentaria comprometidos com a parapolítica, a Yidis-política e a feira dos cartórios, nunca será apagado da história da Colômbia. E os dolosos escândalos como Carimagua, Agroingreso Seguro, os decretos de emergência social, as zonas francas para incrementar a riqueza da sua família, as perseguições e grampos do DAS contra seus opositores, sindicalistas e ativistas dos direitos humanos, a perseguição aos tribunais, as reuniões palacianas com narcotraficantes, a obcecação de impor um procurador de bolso, a agressão ao território dos países irmãos, violando todas as normas do direito internacional, a ameaça aos jornalistas independentes, os “falsos positivos” e entrega do território nacional para as operações de forças militares de ocupação estadunidenses.

O debate eleitoral, cuja primeira rodada termina em maio 30, esta marcado pela intolerância e enfrentamento imposto pela autocracia uribista. As propostas, programas e compromissos com a nação foram substituídos pelo ataque grotesco e vulgar, pela propaganda negra em esforço desapiedado para apresentar os candidatos como opção mais reacionária e autoritária do que do que a que encarnou o Presidente que está de saída. Todos se esforçam para mostrar submissão ao Império, tomando posições chauvinistas contra os paises vizinhos e ajoelhados perante o amo do norte, como disse Gaitán. Nenhum deles tem levantado questões que são vitais que colocaram a nação no profundo abismo das desigualdades e do terror. Todos, em uníssono, prometem mais gastos militares e mais guerra. O horizonte delineado por estes aspirantes é obscuro e por estas razões estamos convocando à abstenção, convencidos de que só a força da mobilização de todos os colombianos poderá impor um destino certo de paz e de justiça que mande os prisioneiros de guerra de volta para seus lares, liberte guerrilheiros e os milhares de presos políticos que apodrecem nas masmorras do Estado e reconcilie e reconstrua a Colômbia. Só a luta organizada das maiorias levantadas, como ocorreu há duzentos anos, para lançar o segundo grito de nossa definitiva independência, devolverá a terra para a produção camponesa, resolverá a crise ambiental que gera constantes catástrofes naturais a cada mudança de estação e a crise alimentícia que mata a nação. E solucionará definitivamente o drama dos deslocados pela força; garantirá o acesso à educação em todos os níveis, a assistência integral à saúde, à habitação digna, ao trabalho bem remunerado e assegurará o exercício pleno e integral dos direitos humanos. Apenas a unidade de todos os revolucionários e democratas da pátria, mobilizados junto com as grandes maiorias, vai permitir-nos tirá-la da horrível noite em que foi deixada abatida pelo Uribismo e redimir a geração do bicentenário.

Neste 46 º aniversário, reafirmamos nosso compromisso com a Pátria Grande e o Socialismo, com a paz democrática como condição essencial para a reconstrução e reconciliação de todos os colombianos. Com a memória viva de todos os combatentes por uma Nova Colômbia, com a força moral do pensamento de Bolívar, Manuel Marulanda V, Jacobo Arenas, Raúl Reyes, Ivan Ríos, Efraín Guzmán, as FARC-EP, colocamos todos os nossos recursos humanos pelo acordo humanitário e pela paz na Colômbia.


Compatriotas,
Secretariado do Estado Maior das FARC-EP
Montanhas da Colômbia, maio de 2010.