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Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Joseph Stiglitz e uma nova política econômica

Por Aurélio Suárez Montoya

A mensagem de Joseph Stiglitz em sua recente visita à Colômbia permaneceu mais ou menos oculta. O pior, no entanto, é que seus contraditores, num exercício de malabarismo inescrupuloso, também se tornaram seus “exegetas” (manipuladores), com o objetivo de transmitir apenas o que lhes convém, tergiversando-o.

Convidado pela fundação Carlos Lieras Restrepo, expôs – pela enésima vez e ante um público numeroso e qualificado – os prejuízos causados pela política econômica neoliberal, que é essa mesma camuflada agora sob o jargão de “investimentos de confiança”.

Destacou como o desemprego, em todas as latitudes, é a expressão mais destacada da crise econômica e ainda como pouco ou nada se fez para preveni-lo quando a onda ascendente da economia se deslocava com o vento que soprava a favor. Disse que, mesmo com o crescimento econômico subindo 40% em sete anos, o emprego cresceu apenas 5%. Sem parar por aí, relacionou esse fenômeno da desocupação, que não atribui um incremento nas folhas de pagamento, como fator de violência e insegurança.

Advertiu sobre os riscos peremptórios da “enfermidade holandesa”, destruidora de empregos e de exportações com valor agregado, causada pela revalorização recorrente da moeda devido ao ingresso massivo de dólares por/para a exploração de recursos naturais e, o que é pior, não sendo reinvestidos em atividades produtivas, tecnologia, infraestrutura e educação. Questionou a forma de medição do PIB dos países que se especializam em mineração e hidrocarbonetos, que por sua vez se “reprimarizam”. Ainda por cima, recomendou desconfiar do falso progresso baseado exclusivamente nos investimentos estrangeiros, que causam permanentes déficits, tanto fiscal como de contas externas. Descartou o TLC com os Estados Unidos explicando que, na verdade, não houveram “negociações” senão um contrato de obrigações que afetarão o país tanto pelo comércio ilegitimo de bens agrícolas subsidiados, como por capítulos como os de propriedade intelectual e investimentos, entre outros, que imputarão à Colômbia mais prejuízos que benefícios.

Com grande afinidade à esta tese, apareceu recentemente um texto publicado com o apoio da fundação FESCOL sobre “Política econômica para a produtividade, emprego e distribuição de renda”, de um grupo de economistas que, com olhares distintos da cartilha oficial, coincidem em grande parte com as propostas de Stiglitz para esse período pós-crise. Se propõe que o pleno emprego seja o objetivo principal e a esse deve se subordinar a política monetária, conceber o mercado exterior como complemento ao mercado interno e com visão geoestratégica enfatizar o entrelaçamento regional, precisamente esse que está sendo descartado hoje, resultando em graves sequelas e irrecuperáveis perdas. Propõe o texto, como Stiglitz, políticas industriais ativas em setores que poderiam ter um impacto multiplicador, acompanhadas de sistemas de gestão tecnológica que incorporem a educação e a investigação inovadora. Argumentam que não é possível desenvolver o setor agrário se não houver uma distribuição equitativa da terra e demais fatores produtivos, uma asserção com a qual Stiglitz refutou aqueles que atribuem o atraso do campo à falta de “abertura comercial”, desconhecendo que os verdadeiros impeditivos têm origens estruturais. E ainda coloca que é imprescindível uma adequada proteção do mercado interno que se construa com base em um novo arranjo institucional.

Essa proposta, elaborada pelos economistas Álvaro Moreno, Germán Umaña, Carlos Martínez, Álvaro Zerda, Ricardo Bonilla e Iván Cardona, vem acompanhada de um modelo de seguridade social, desenhado por Mario Hernández, César Giraldo e Darío Restrepo, com base nos critérios universais de solidariedade entre trabalhadores e entre gerações que pode tornar-se realidade mediante o emprego digno e o controle social, direitos fundamentais dos cidadãos.

O problema econômico da Colômbia, sua maior tribulação, não se resolverá com paliativos nem com panos quentes. Enfrenta-se um colapso silencioso de setores completos da produção nacional, começando por seu principal produto agrícola, o café. Aumenta a desigualdade, a pobreza, a indigência e, tendo isso em vista, reorientar a política econômica é indispensável. Tomara que os esforços daqueles que se debruçam sobre esse problema não sejam em vão e que tampouco se descartem as acertadas observações de Stiglitz, frequentemente escamoteadas pelos “gênios” gestores da tragédia nacional.