"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


domingo, 16 de agosto de 2009

O império contra-ataca

Por: Carlos Fazio

Diante da irrupção de processos políticos e sociais de novo tipo que desafiam a hegemonia e o mito da invencibilidade do domínio dos EUA na América Latina, a administração Obama/Clinton vem aprofundando as estratégias herdadas de George W. Bush, com ênfase na intervenção político-militar aberta e encoberta em áreas consideradas de vital importância para o império.


Fonte: Anncol


Trata-se da tradicional política do porrete e da cenoura, agora com a novidade – nas palavras de Pablo González Casanova – de que opera em redes. Quer dizer, Washington conta com uma força-tarefa integrada por governos clientelistas, como os de Álvaro Uribe, da Colômbia e de Felipe Calderón, no México.

A atual estratégia regional foi desenhada pelo Departamento de Defesa durante o mandato de William Clinton. Sua primeira fase começou em 1999, quando o Comando Sul do Pentágono teve que desmontar a base Howard, na zona do Canal do Panamá e transferir suas principais funções para a Florida e Porto Rico. Isso obrigou mudanças profundas na presença do Pentágono na América Latina e Caribe. O novo modelo alternativo foi a instalação de uma rede de bases militares denominadas Centros Operacionais Avançados (FOL, em inglês), e a seleção da Colômbia como plataforma para tentar uma vietnamização da América do Sul.

Desenhadas como plataformas portáteis de inteligência com conexão imediata com o Centro Espacial de Guerra na Base da Força Aérea Schriever, em Colorado Springs – EUA, as bases FOL de Manta, sobre o Pacifico equatoriano; Comapala, em El Salvador; Rainha Beatriz, em Aruba e Hato Rey, em Curaçao, no Caribe, vêm funcionando como infraestrutura de apoio em rota para as forças expedicionárias do Pentágono encarregadas da guerra de contrainsurgência na região. Washington complementou sua nova estrutura militar com uma rede de 17 radares de longo alcance, como o que opera na base de Três Esquinas (Caquetá, Colômbia), e duas bases de terra: Guantanamo em Cuba e Soto Cano ou Palmerola, em Honduras, onde opera a Força Conjunta Bravo, a única do Comando Sul fora do território dos EUA, vinculada com as unidades secretas de Cerro La Mole e Swan Island, indispensáveis para o funcionamento da inteligência militar norteamericana na região.

Com Clinton foi diluindo-se a diferença conceitual entre a luta contra as drogas e a guerra contrainsurgente. O conflito interno colombiano foi alimentado com denominações tais como narcoguerrilha e narcoterrorismo. Logo, a administração de Bush converteu o protótipo colombiano, baseado no paramilitarismo e no terrorismo de Estado, num produto de exportação. As bases FOL do Plano Colômbia serviram de modelo para a instalação de pequenas bases nos países vizinhos de Afeganistão, e hoje a democracia do esquadrão da morte de Uribe aterroriza no México de Calderón , via Iniciativa Mérida, financiada pelos EUA, que, entre outros propósitos, busca consolidar um bloco de contenção militarizado diante os processo de transformação social que vem ocorrendo na Nicarágua, Honduras e El Salvador.

O anterior foi complementado com operações encobertas do Pentágono e a Agência Central de Inteligência, e as chamadas guerras por intermediários que, baseadas no laboratório da ex-Federação Iugoslava, fomentam a sedição e o separatismo na Bolívia, Venezuela e Equador. As ações clandestinas incluem técnicas de penetração como captação de aliados internos mediante corrupção, o suborno ou a afinidade ideológica, que são logo utilizados como agentes provocadores, e que, como no caso das atividades divisionistas na Meia Lua boliviana, pode incluir ações de caráter paramilitar e campanhas de propaganda negra e intoxicação (dês)informativa, que contam com o apoio de grandes meios sob o controle monopolista privado, alimentados pela USAID e a USIA.

Em 2008, o arcabouço militar de Washington foi reforçado com o relançamento da IV Frota da Marinha de Guerra, que agora atua nos oceanos Pacífico e Atlântico e nas águas marrons do interior da América Latina, em aberta provocação ao vacilante Conselho de Defesa da União das Nações Sul-americanas (Unasul), integrada por 12 países da região.

Na sua fase atual, a estratégia de reversão Obama/Clinton recorreu ao golpe de Estado em Honduras, diante da intenção de Manuel Zelaya de converter a base militar de Soto Cano em aeroporto comercial. O presidente deposto pretendia seguir os passos do seu homologo do Equador, Rafael Correa, que não renovou o contrato para a permanência dos EUA em Manta. Se somado a Manta, a eventual perda de Soto Cano debilitaria a rede de bases FOL do Pentágono. Daí o golpe militar. Entretanto, Washington adiantava negociações secretas com Álvaro Uribe para converter a Colômbia no seu grande enclave militar no coração da América do Sul, com a mira apontando para os hidrocarbonetos da Venezuela, Equador e Bolívia, e os recursos da Amazônia.

No contexto da doutrina de Guerra Irregular, o Comando Sul substituirá as funções de Manta com a base de Palanquero, que será apoiada por outros dos bastiões da Força Aérea Colombiana em Apiay e Malambo, e as bases navais de Bahia de Málaga e Cartagena. Um novo contrato permitirá que soldados, aviões e navios de guerra dos EUA participem legalmente em operações contra a guerrilha das FARC e do ELN. Por sua vez, a Venezuela ficará isolada num triãngulo de ferro entre a Colômbia, a IV Frota, Aruba, Curaçao e Soto Cano. E em breve, o papel do México, incorporado de fato à guerra contrainsurgente regional dos EUA, poderia cobrar maior visibilidade.