"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

As libertações são positivas, mas...

Os que voltam atrás nesse esforço de libertações, o suposto retorno à política de guerrilha para a era - chamada por eles de Era CANO - equivocam-se: a insurgência jamais deixou de fazer política.

Johnson Bastidas

Os analistas começaram a fazer suas apostas sobre o conteúdo e o significado das libertações unilaterais das FARC-EP. As análises pecam pela incapacidade de fazer sínteses racionais e têm como ponto de partida a vitória da “segurança democrática” uribista. Como ponto de chegada prevêem a derrota iminente da insurgência, cujo destino final e indicador visível - como na estirpe dos Buendía - seria a rendição e entrega ao bondoso e maternal coração do governo paramilitar. Os analistas parecem prisioneiros de suas próprias tautologias, o que, aliás, não parece incomodá-los, já que são os mercenários do pensamento dominante.


Tudo isso ocorre em meio a certos esforços sociais louváveis em prol da paz, como, por exemplo, os COLOMBIANOS PELA PAZ encabeçados pela senadora Piedad Córdoba, e outros intelectuais que têm o apoio da insurgência. Prova disso é o comunicado do COCE, liderança do ELN, que manifesta a sua vontade de participar do intercâmbio epistolar da mesma forma que fazem as FARC-EP.

Há outros esforços, como as comissões que se reúnem em Paris e em Washington, entre as quais há alguns indivíduos que não gozam de muito boa reputação entre a insurgência, e outros cujo compromisso se restringe à dimensão de projetos pessoais. Enfim, há várias comissões que se formam para discutir a paz, mas a posição da insurgência não é levada em consideração e quando é mencionada baseia-se nos dois pressupostos anteriormente mencionados: a suposta derrota militar da insurgência e o seu fim próximo. Muitos que se dizem mensageiros da paz são na verdade promotores do neoliberalismo econômico, dali o seu empenho em dar segurança aos investimentos estrangeiros, “paix romaine” ao extremo e toda a segurança para o capital, tudo isso sem evocar sequer as especificidades e as mudanças em curso na estrutura da sociedade colombiana. São verdadeiras festas de aniversário sem o aniversariante, uma vez que a insurgência está completamente ausente.

Todo negociador, para levar a sua missão a um bom desfecho, deve contar como princípio básico o reconhecimento das partes envolvidas, principalmente a parte da insurgência, uma vez que esta sempre ressaltou as suas preocupações com a segurança dos porta-vozes e dos prisioneiros de guerra. Se o governo, como vem anunciando, impede as elogiáveis atitudes dos COLOMBIANOS PELA PAZ, as libertações podem inclusive ser suspensas, já que a Cruz Vermelha perdeu a sua credibilidade na operação JAQUE, onde o governo utilizou de forma arbitrária o seu símbolo, sem que esse organismo rejeitasse de forma taxativa esse fato violador de todas as convenções e acordos internacionais dos quais a Colômbia é signatária.

Sem sombra de dúvidas, qualquer libertação unilateral de prisioneiros de guerra pela insurgência é um passo adiante na abertura da comunicação entre as partes, um triunfo da insurgência. Provas disso são todas as operações que buscam boicotá-las e reduzir a sua importância para que a insurgência fique perante o mundo como uma organização de fachada e devedora de seus compromissos adquiridos com os colombianos em prol da paz. O pior é que há provas de todas as tentativas do governo para pôr em perigo as vidas dos libertados e negociadores.

Nesse cenário o governo colombiano é responsável pela segurança e a vida da senadora Piedad Córdoba e de todos os membros da comissão que parte em busca dos libertados. Uma desautorização, como a que veio anunciar o governo uribista, pode jogar no lixo todos os esforços até agora conseguidos, uma vez que, como já anunciamos a atitude pusilânime da Cruz Vermelha perante a violação flagrante de seu símbolo a deixou com uma má imagem perante a insurgência. A atitude do governo uribista o deixa péssimo perante a opinião pública internacional, uma vez que ele não só nada tem feito para facilitar o intercâmbio humanitário como também agora ataca uma operação digna e eficiente como esta se mostrou diante à opinião pública internacional. Uribe, com seu livreto de guerra, tem problemas para conduzir ações onde imperem a civilidade e saídas humanitárias. A desautorização dos bons trabalhos desempenhados pelos COLOMBIANOS PELA PAZ, encabeçada pela senadora Piedad Córdoba, parecem deixar claro que Uribe quer libertações sem testemunhas para jogar sujo, como sempre foi o seu costume desde os tempos do seu governo em Antioquia.

Os que voltam atrás nesse esforço de libertações, o suposto retorno à política de guerrilha para a era - chamada por eles de Era CANO - equivocam-se: a insurgência jamais deixou de fazer política. Dizer que as libertações são um prelúdio ao processo eleitoral que se avizinha é simplista e não corresponde à realidade. A conclusão que se deriva desse sofisma é que os insurgentes das FARC-EP fazem política durante as eleições regionais e durante a eleição presidencial. Basta ler alguns documentos: proposta das FARC-EP para a redução do conflito (2002), Mesa redonda sobre a distribuição do ingresso e desenvolvimento social (2001), Apontamentos ecológicos da mesa temática das FARC-EP (2000), A reforma agrária (2002), A audiência Juventude e Emprego (2002), As FARC-EP, o desemprego e o setor solidário (2000), Acordo dos poços (2000), Sobre o processo de paz (1999), Agenda comum pela mudança e a Nova Colômbia (1999), Planejamento para a substituição de cultivos ilícitos (2000) etc. A lista é longa, mas em cada item se pode entrever como o país concebe a insurgência e a maneira de levá-la a um bom destino. O único ingrediente ausente nessa contabilidade é interlocutor ou interlocutores comprometidos com a paz.

Até o momento tem faltado algo a todas as propostas que circulam e pululam: colocar na mesa a questão dos prisioneiros políticos, pois eles também são colombianos e não merecem ser deixados à mercê do esquecimento. Seria importante que uma comissão internacional, com credibilidade, elaborasse um balanço da situação atual dos prisioneiros políticos para saber quantos são, a situação dos processos e a situação humanitária de cada um. Os prisioneiros políticos colombianos sofrem, desde que foram capturados, violações constantes dos seus direitos básicos. Aliás, seus direitos não existem e ninguém os faz cumprir. Estas práticas incluem desde as violações do direito constitucional, com a falta de processos, incluem transferências para longe de sua família, falta de qualquer acompanhamento de saúde, ausência de direito à intimidade, ameaças diárias, situações inimagináveis de superlotação e condições aberrantes de insalubridade.

A alegria que nos trazem as libertações unilaterais da insurgência contrasta com o olhar que nos lançam desde seus pavilhões os homens e mulheres que ousaram se levantar em armas contra o regime corrupto e paramilitar que nos governa. Eles também fazem parte da luta pela paz.

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