"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Às lutadoras

por Lina Arregocés/Colaboradora ABP Venezuela

O que fizeram para que te consumisses desse jeito em uma semana? Tinhas os olhos abertos e parecias olhar de frente com intensidade e desafio, apesar de ter uma ferida na cabeça e terríveis inchaços na bochecha. Tinhas a roupa em farrapos, a calça rasgada até os tornozelos, o jersey enrolado sob as axilas, a cueca azul à mostra e farrapos circundando a cintura como se houvessem sido cortados por um canivete ou uma baioneta.

O peito crivado de balas e uma ferida aberta no abdome… as mãos pareciam pendurar-se nos braços de forma esquisita, como se tivessem sido quebradas nas munhecas... mas era Víctor, meu marido, meu amor. E quando o percebi também morreu uma parte de mim.

(Joan Jara referindo-se ao momento em que viu seu marido, Victor Jara, assassinado pelos militares golpistas chilenos)

Claro que não houve um ato de greve. Foi, sem dúvida, um atentado contra Aida Quilcue. Quem poderia imaginar o que significa para uma mulher o assassinato deliberado e absurdo do seu companheiro, seu esposo e pai de sua filha?

Claro que na Colômbia há pena de morte. Caso contrário, o que são as 14 mil pessoas assassinadas ou desaparecidas fora das áreas de combate por razões sociopoliticas desde meados de 2002, quando Uribe assumiu o poder? Lembremos que esses crimes foram denunciados em Genebra, na sede da ONU, pela própria Aida e outros líderes.

Certamente ansiavam assassiná-la, quebrantá-la, humilhá-la, conseguir desfigurar-lhe a orgulhosa cerviz, enfraquecê-la; o que não conseguiram no transcurso de sua vida, na sua história de luta, na longa marcha a Bogotá para reclamar seus direitos, em sua indubitável liderança, queriam alcançar com o assassinato ignóbil do seu companheiro.

Claro que com a morte de Edwin uma parte dela morreu para sempre e que agora ela precisa do dobro de forças para continuar a marcha sem o ombro amoroso e protetor do seu companheiro.

É inegável que usam a nós, mulheres, no conflito colombiano, como em outros, para expandir o terror, para humilhar, para nos converter em troféus de guerra, para vingar-se? Não é um segredo que ao romper os grilhões dos que nos submeteram historicamente nos transformamos em alvos preferenciais, o que é negado cinicamente pelo governo de Uribe, mas frisado e reiterado por Aida há poucos dias em Genebra.

Quem duvida que, nos debilitando, debilitam-se a casa e o mundo ?

"O seu marido disse que não a apóia mais desde que encontrou armas debaixo da cama de sua filha". "Seu esposo disse que não conte mais com ele". "Seu pai afirmou que não perdoará que você tenha se aliado a esses bandidos". "Seu irmão assegurou que não aceita o apoio a esse...". "Seu namorado pediu que o esquecesse", são frases patenteadas na guerra psicológica que o inimigo pratica para torturar companheiras que caíram nas suas garras, debilitando-as, enganando-as e enchendo-as de dúvidas por meio de mentiras.

Aida, Mayerlis, Mercedes, Sonia, Rosita, Magra, Lucero, e tantas outras mulheres na Colômbia tiveram suas vidas interrompidas deliberadamente. O poder escolheu a forma mais cruel de vingança, de causar-lhes dano, de puni-las pelo fato de serem mulheres, pobres e rebeldes.

Enquanto isso o pais segue atônito o desenlace cruel dos eventos: as mães de Soacha, mulheres também quebrantadas, tentam viver sem seus filhos e lutar para que se faça justiça; as mães e mulheres dos prisioneiros nas prisões do regime lutam para remendar seus corações e suas vidas sem seus filhos e companheiros; as viúvas dos assassinados, dos massacrados choram cada dia que vivem suas ausências; as mães dos que empunharam armas, dos que tiveram o valor de assumir a construção de uma Nova Colômbia, carregam o fardo pesado dessa luta.

Enquanto isso o pais anestesiado assiste passivamente a suspensão das suas liberdades individuais, das suas conquistas, entregue ao pior gestor por representantes BÊBADOS de arrogância, cinismo e estultícia, interessados apenas em seus miseráveis dividendos pessoais.

Enquanto isso a imprensa continua apoiando um regime um regime totalitário, quando não são eles mesmos "o governo".
Enquanto isso torce-se os narizes para a lei de mil formas possíveis, e, não menos grave, institucionalizam um delito de suborno sem contraparte.

Enquanto isso toma-se medidas aceleradas, mas tardias, para colocar "ordem" em um sistema econômico bandido por meio do qual o povo possa pensar que derrotou os abusos do sistema bancário e do qual lucravam, pela porta de trás, os próprios filhos do presidente.

Aida chora hoje. Lhe transpassaram o coração, mas não tiraram a coragem vigorosa e libertária de sua estirpe, que a seguirá lhe estimulando a caminhar, a caminhar sempre.

O artigo encontra-se em ABP Notícias.