"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Martín Hernández Gaviria, exemplo que iluminará nosso caminho

ABP Colômbia.

No próximo dia 14 de janeiro completará um ano do assassinato político do investigador, educador e líder social Martín Hernández Gaviria, ocorrido no bairro Castilla, Comuna 5 de Medellín em 2008. Já são doze meses de uma ausência fria e silenciosa que lacera a carne e o espírito de sua mãe, irmãos, amigos e companheiros. Mas também doze meses de constante aprendizagem, de escorres força e um alento a mais de vida das lembranças e ensinamentos.

“Sempre que se faz uma história
Fala-se de um velho, de um menino ou de si próprio,
Mas minha história é difícil:
Não vou lhes falar de um homem comum.
Farei a história de um ser de outro mundo”

(Canção do Eleito, Silvio Rodríguez).

No próximo dia 14 de janeiro completará um ano do assassinato político do investigador, educador e líder social Martín Hernández Gaviria, ocorrido no bairro Castilla, Comuna 5 de Medellín em 2008. Já são doze meses de uma ausência fria e silenciosa que lacera a carne e o espírito de sua mãe, irmãos, amigos e companheiros. Mas também doze meses de constante aprendizagem, de escorres força e um alento a mais de vida das lembranças e ensinamentos. Como um sem número de homens e mulheres antes dele, Martín entregou tudo por seu afã de justiça social, liberdade e igualdade indômita.

Apesar das adversidades impostas por esta sociedade excludente que rouba-nós os sonhos e acorrenta-nós a uma existência miserável, prevaleceram seu ímpeto rebelde diante das limitações materiais e sociais, transcendeu o simples conhecimento dos problemas sociais que o circundavam e que padecia em sua própria carne, e optou por contribuir com suas idéias e perseverança na transformação da sociedade. Seu assassinato é um ato redundante num país em que os atos terroristas do Estado cometidos contra todo aquele que pretenda contradizer os parâmetros estabelecidos, sejam em pensamento ou em ação, é o pão de cada dia. Atos que, além do mais, deixam no seu rastro silêncio e esquecimento, armas nas quais se apóiam os poderosos para evitar suas responsabilidades pelos fatos repressivos diante da história, enquanto que ao mesmo tempo usam todos os meios ao seu alcance para confundir as novas gerações e sumir os protagonistas dos protestos e descontentamentos sociais no descrédito e esquecimento. Martín Hernández foi destacado líder social de longa data. Desde sua juventude destacou-se pela participação em processos organizativos na sua comunidade e no meio estudantil.

Desempenhava função de professor num instituto técnico da cidade na área de sistemas e recentemente graduou-se em Ciência Política pela Universidade Nacional da Colômbia em Medellín. Como afirmaram seus amigos e todos os que tiveram a oportunidade – e o prazer – de conhecê-lo: “foi justamente aos setores populares, estudantis e comunitários, aos que sempre dirigiu seus esforços e trabalho, guiado pela sua grande experiência e amor ao povo. Na comunidade do seu bairro sempre esteve atento e comprometido em impulsionar suas reivindicações e projetos. No campo estudantil foi um destacado líder pela sua clareza, espírito de trabalho, solidariedade, entrega e disciplina ferrenha. Entre os que chegamos a conhecê-lo, foi uma referência de estudo e trabalho, ética e exemplo a ser seguido. Todos sabiam de suas incontáveis histórias, do seu grande sentido de humor e experiência, refletindo um jovem que sob a força de golpes transformou-se em homem”. Nos últimos anos foi parte destacada na criação da Federação Estudantil Universitária [1] (FEU) a nível nacional e regional. Pertenceu à revista Kabái, publicada pelos estudantes da Faculdade de Ciências Humanas e Econômicas da Universidade Nacional da Colômbia, sede de Medellín e, mais recentemente, idealizou e participou do projeto de revista La Ciudad, também de Medellín. Como investigador sempre demonstrou inquietude pelos problemas sociais como o êxodo forçado, e a nível urbano os referidos à cidade e suas transformações, e pelo conflito armado, no rural e urbano e sua relação com o político, social e econômico, pois entendia que o êxodo forçado não era uma simples conseqüência do confronto armado dos diversos atores, mas que estes atores são colocados e produzidos pelas relações de capital nacional e internacional. Assim o êxodo forçado era entendido por Martín como parte de uma Estratégia de Terrorismo de Estado em função dos interesses do capital internacional.

A respeito da cidade de Medellín, a entendia mais como uma hiperaglomeração e um espaço de confinamento, mas profundamente fragmentada e dividida espacial, territorial, populacional e simbolicamente. Uma cidade dividida também em três dimensões: centro, semi-periferia e periferia. Num dos seus textos assinalava: “Podemos verificar como uma cidade tão pequena como Medellín pode se converter na mais violenta do mundo e a razão começa onde termina, nos massacres. Melhor seria não ter sido a melhor esquina da América”.

Segundo Martín, não se poderia entender a violência de uma só ótica, ela seria múltipla, violências então seriam seu caráter. Igualmente sua gênese, em primeiro lugar como resultado do êxodo estrutural gerado pelas dinâmicas de capital e, em segunda instância, pela influência de múltiplos fatores como o narcotráfico, as classes políticas locais, os deslocamentos da periferia ao centro na busca de melhores condições de subsistência, a criação e expansão de exércitos guerrilheiros e paramilitares, e os problemas sociais e políticos propriamente urbanos gerados pela falta do Estado, a militarização crescente e o incremento do protesto cívico popular que assume cada vez mais formas superiores. Martín considerava que “deve-se criar um projeto político sério que intervenha de forma direta sobre a comunidade e que nasça dela, um projeto político sem burocracia e nascido onde se vivem as necessidades, projeto formado por pessoas de essência. Um projeto que gere identidade cultural e resgate a esperança de viver destas pessoas, que envolva todas as organizações armadas, políticas e comunitárias. Um projeto em que convirjam todos estes ingredientes para que, de uma vez, construamos uma sociedade que estava perdida”. Desde esta visão foi que assumiu sua atividade como estudante, docente e pesquisador, dirigida também a sensibilizar e mobilizar a comunidade universitária para que assumisse um papel critico e prepositivo na solução destes problemas e em prol da construção de um novo projeto político baseado na justiça social. Ele entendia que a solução real de problemas tão complexos passava pela construção de um novo poder. Foi esta a conclusão mais importante e o preço cobrado por ela foi sua vida.

Em homenagem à sua memória, durante todo o ano de 2008, realizaram-se diversas atividades nas Universidades de Antioquia e Nacional de Medellín, acompanhadas sempre por comunicados protestando por esta ausência imposta e gritando aos quatro ventos que o coração se espreme com a certeza de que no futuro somente a lembrança o salvará da morte. Estes atos foram, também, de memória e recordação, “de gritar e não chorar, de rir, de celebrar, de relembrar e não esquecer”, “não foi uma exaltação à morte, mas um canto à vida, um canto ao exemplo de entrega e dedicação do que Martín foi, é, do que representa ainda para todas e todos nós”, expressou um dos seus companheiros.

Hoje, um ano do assassinato político e, retomando as palavras de um de seus amigos, reafirmamos que “se a morte nos ensina algo do nosso dirigente, companheiro, amigo e irmão, é que não deixamos morrer esse sonho, a sua lembrança e a sua memória viverão em cada um de nós, que somos milhões, e que sua luta é e será realidade”. Hoje cai sobre ele a glória dos que morrem e vivem no povo, com seu sorriso e exemplo, como a chama em nossas consciências que iluminará nosso caminho.

Esta é a forma de lembrar o nosso companheiro Martín:

Reivindicando-o e com ele os seus sonhos para construir a Nova Colômbia, justa e digna para todos e todas, para continuar persistindo em favor desta vida e da nova, do estabelecimento de uma paz com justiça social onde a vida seja digna e os direitos humanos uma realidade.


[1] A FEU é uma das organizações gremiais que agrupa os estudantes universitários colombianos, representando seus interesses e fazendo valer seus direitos. Guiada pelo ideário bolivariano, as bandeiras da FEU são unidade, liberdade e igualdade. Tem entre seus objetivos promover o aperfeiçoamento do nível e rigor docente, dirigir os conteúdos dos programas universitários rumo à consciência social e à resolução dos problemas sociais que nos acometem, lutar contra as políticas neoliberais implementadas pelo Estado colombiano e a favor da autonomia universitária, em fim, reavaliar o papel da universidade na sociedade.


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