"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Existem marchas de marchas sim, a do dia 28

As marchas ou mobilizações, para serem verdadeiras, devem expressar os problemas fundamentais do povo, ou então não são marchas nem mobilizações, nem nada, apenas expressões do oportunismo político, manipulações para desviar a atenção dos verdadeiros problemas nacionais. Isto é o que pretendem com sua famosa marcha do dia 28 de novembro, convocada por Ingrid Betancourt e aplaudida pelo regime, cujo lema principal é “contra o seqüestro”, à qual se somaram alguns despistados.

ANNCOL

A oligarquia colombiana –sem nenhuma exceção- sentem um desprezo exacerbado pelas marchas e, em geral, pelas mobilizações coletivas, sobretudo quando estas expressam interesses sensíveis da coletividade.

A oligarquia, com seus diferentes aparatos pseudo-democráticos, institucionalizou a idéia de que a rua e o povo expressando-se nela são sinônimos de tumulto, desordem e subversão. Implicitamente, a idéia veiculada pelo regime é que o cenário natural para se discutir os problemas nacionais é o parlamento colombiano (senado/câmara). Todos sabemos do putrefato e fétido odor que exala desta instituição, permeada por toda a forma de delinqüência institucional, começando pela estatura de imoralidade que reina no próprio executivo; um regime do concerto para delinqüir. Há pouquíssimas exceções que confirmam a regra.

Diante dessa putrefação, a rua se impõe como um cenário natural de rebeldia e uma conquista primária de exercício democrático.

A marcha indígena, que é uma marcha gigante, pelo número de pessoas que participaram direta e indiretamente dela, e gigante moralmente, pois não esteve permeada por nenhum dinheiro escuso, gigante por sua dignidade e porque nos lembra que a solidariedade dos excluídos não se decreta, que é uma construção cotidiana da luta reivindicativa. A marcha indígena deu a volta ao mundo. Todas as agências internacionais, sem exceção, falaram dela em todas as línguas e idiomas. Ficará difícil para Uribe, e o regime em geral, seguir invisibilizando as comunidades indígenas em resistência. A minga é uma verdadeira marcha.

Do outro lado do mundo, na Tailândia, sua capital Bangcock está completamente sitiada pela resistência do povo tailandês, que se expressa contra a corrupção do regime. O povo notificou ao regime o dia e a hora que estariam nas ruas, e assim o fizeram, disciplinados, organizados (com seu próprio serviço de ordem, uma minga tailandesa) e dispostos a chegar até as últimas conseqüências. O povo tomou os lugares mais estratégicos da capital e ontem tomaram o aeroporto. Perante sua disposição de luta, o exército e a polícia oficial retrocedem impotentes. Esta é uma verdadeira mobilização popular, uma marcha triunfal do povo tailandês.

As marchas ou mobilizações, para serem verdadeiras, devem expressar os problemas fundamentais do povo, ou então não são marchas nem mobilizações, nem nada, apenas expressões do oportunismo político, manipulações para desviar a atenção dos verdadeiros problemas nacionais. Isto é o que pretendem com sua famosa marcha do dia 28 de novembro, convocada por Ingrid Betancourt e aplaudida pelo regime, cujo lema principal é “contra o seqüestro”, à qual se somaram alguns despistados.

Os meios de comunicação converteram Ingrid Betancourt em um símbolo-mártir da tragédia colombiana. Rodada após rodada em imprensa, Sarkozy e a oligarquia francesa têm chamado-a de a heroína da França atual, com a mesma estatura moral de Joana D´Arc. A Joana tropical, a mesma que proibiu os seus antigos “comitês Ingrid Betancourt” de utilizarem seu nome, pois pensa em criar uma Fundação internacional que lutará, não sabemos contra oque. Quer patentear seu nome para “fins de caridade”. Agora, a partir de seu círculo exclusivo de Paris, chamou aos colombianos para se mobilizarem contra o sequestro e não contra o intercâmbio humanitário, como deveria ser. Assistimos a uma operação cirúrgica de marketing político. A Joana D´Arc, made in Bogotá, quer medir seu poder de convocatória, o qual a permitirá avaliar se continua ou não na vida política nacional. É o que veremos.

Ninguém, nem mesmo o pior dos delinqüentes, aceitaria, de bom grado, ser privado da liberdade. Quem, senão a oligarquia colombiana, que com suas práticas corruptas, próprias da ação política, contribuem para a reprodução do regime paramilitar e mafioso que governo o país há décadas, deveria estar detida? Mas, como a justiça é para os da rua, a justiça poopular criadora inventa suas próprias formas.

Os que promovem o paramilitarismo, os corruptos, os lacaios, os que legislam em favor da banca internacional, os que com seu silêncio cúmplice das câmaras calam as barbaridades do fascista Uribe Vélez, os que apóiam a assinatura do TLC, os que praticam o nepotismo, os que violam a soberanoa dos países irmãos e outros criminosos, não são simples civis, como o carteiro da quadra ou o padeiro do bairro, como os meios de comunicação os apresentam. Não. São sujeitos políticos, são políticos de profissão, membros de uma institucionalidade corrompida que deixou o país órfão, como o vemos hoje. Os políticos do regime e os membros das Forças Armadas são prisioneiros de guerra, como também o são os insurgentes, hoje presos nas masmorras do regime.

À luz dos acontecimentos que rodeiam o conflito social, político e armado na Colômbia, e frente à magnitude do mesmo, chamar a uma mobilização somente contra “o seqüestro” não apenas é um ato de omissão voluntária das condições do próprio conflito, mas um simples ato de oportunismo político. Por isso não marcharemos no dia 28 de novembro. É uma marcha de marchas.


Marcharemos quando a marcha convoque a saída política para o conflito, quando convoque ao intercâmbio humanitário dos prisioneiros do conflito armado. Marcharemos quando nos convoquem a rechaçar os massacres de milhares de jovens que foram mortos pela “segurança democrática”. Marcharemos para fazer respeitar os direitos ancestrais das populações indígenas, contra o racismo e os direitos das populações afro-descendentes. Marcharemos pelos direitos das minorias, lésbicas e homossexuais. Marcharemos contra as privatizações da riqueza e a socialização das perdas do modelo neoliberal. Marcharemos para exgir a devolução do dinheiro que muitos pequenos agricultores perderam por conta das famosas pirâmides. Marcharemos por um salário digno para os milhares de trabalhadoras e trabalhadores que diariamente produzem a riqueza do país.

Marcharemos por uma Colômbia com justiça social, o resto é uma mentira ou simplesmente oportunismo político.

A notícia, em espanhol, encontra-se em Anncol.eu.