"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 28 de novembro de 2008

De tucanos e menganos


por Narciso Isa Conde/CCB República Dominicana

Os nove aviões Super-Tucanos, comprados no Brasil supostamente para combater o tráfico aéreo de drogas, significam um endividamento de 93 milhões de dólares e suculentas comissões para os que negociaram sua compra e aprovaram o contrato.
Os Tucanos podem perseguir os aviões de menor velocidade carregados com drogas, mas não os mais modernos e velozes – estes, aliás, são usados pelos cartéis mais organizados.

Mas o que interessa mesmo nesse espinhoso tema do negócio ilegal de drogas é que o problema não deve reduzir-se à capacidade de perseguir vôos ilegais e derrubar aviões. É ofensivo à nossa inteligência tratar a questão nesses termos depois de constatado e evidenciado o processo de conversão do Estado dominicano em um narco-Estado.

Nas condições atuais os nove "Super-Tucanos" não reduzirão o mínimo do tráfico ou do consumo de drogas no país, já que o acelerado crescimento desse setor não se deve tanto à incapacidade técnica do Estado dominicano em combatê-lo, mas ao fator humano altamente corrompido que ocupa os setores de vigilância. Também devem entrar nesse cômputo as facilitações de tráfego nos setores oficiais e todos os sistemas de controle externo e interno do país, filhos diretos da acumulação capitalista proporcionada por governos corruptos e corruptores.
Favorecido por tudo isso e pelos Tucanos, o tráfico de vários tipos de drogas continuará crescendo, pois o problema maior não é a falta de Tucanos, mas o excesso de beltranos aboletados nos aparatos e instâncias do poder estatal, os quais têm estreitos vínculos a banda mais apodrecida do setor privado. Ora, vai continuar crescendo, e muito!

Por ar, mar e terra. Pela fronteira terrestre e os aeroportos. Por todos os portos, costas, portas e janelas do país. Por todas as vielas e brechas da nação.


Com a cumplicidade de simpatizantes em todas as instituições civis e militares encarregadas de controlar a entrada e saída de pontos fronteiriços e estradas. Sim, Vai seguir crescendo formidavelmente!

Sem contar, aliás, as conexões obtidas em secretarias, no Congresso, no sistema de segurança aeroportuária, na aviação comercial, na Marinha de guerra, na Direção Nacional de Pesquisas, na Polícia Nacional, na Força Aérea, no Exército Nacional, no Poder Judiciário, entre empresários corruptos e líderes políticos pervertidos.

Aqui se trafica de tudo e por múltiplas vias, pela facilidade que o Estado e os governos carcomidos por processos infecciosos presenteiam aos narcotráfico; esses agentes estão cada vez mais colombianizados por perversos vínculos de cooperação com o regime narcotraficante-para-terrorista de Uribe.

Trafica-se drogas, mas também armas, mercadorias diversas, seres humanos, dólares lavados… Há até cobrança de tarifa para cada caso, por exemplo: por viajantes sem documentos cobra-se um pedágio migratório de 500 dólares por cabeça, aos pilotos recrutados cobra-se de 10 a 12% dos valores que traficam (sobretudo dólares, armas e pessoas); aos oficiais que ajudam ao tráfico por via marítima cobram 15% do valor das cargas… e assim por diante.


Em tais condições os Super-Tucanos poderiam até elevar a cotação do pedágio aéreo, mas não reduzir as cargas e operações ilegais. Tudo isso é negociável, e, na eventualidade de alguma falha, os que ficaram mais expostos são usados como bodes expiatórios, assim como os mais débeis na cadeia de comando.

No recente escândalo Paya-Baní, que teve a participação de vários oficiais da Marinha de Guerra, houve um "acerto de contas" resultando na morte de seis mafiosos. Foi quando se "descobriu" uma parte dos autores materiais… curiosamente, porém, não apareceram nem os mentores, nem a carga de drogas, nem os dólares da transação, nem os generais e os chefões.

A questão, portanto, não é comprar Tucanos, mas descobrir os beltranos e sicranos. O problema é que essas figuras têm posições estratégicas no aparelho de Estado, no governo, na economia privada, na partidocracia…

O presidente Leonel Fernández pode dizer com razão que é uma "vergonha" que oficiais da Marinha de Guerra tenham se associado a práticas tão vergonhosas e horrendas. Mas este seu senso de responsabilidade se cala em certas deliberações nefastas que possibilitam a continuidade dessa prática.
Eu recordo que, no seu primeiro mandato, fiz chegar a ele o livro "Confissões Amordaçadas". Então ele telefonou para minha casa, chamando-me, para dizer que tratava-se de um livro "temerário". E certamente o é, uma vez que nele há situações iguais e piores às que estão ocorrendo, inclusive com diversos autores.

Os generalitos multimilionários não fizeram fortuna com seus salários, nem com o suor de seu rosto, nem com sua "iniciativa empreendedora"; e os milhões que eles dão aos candidatos, com ou ou sem mandato, não são gratuitos: com eles compram cargos e impunidade para continuar multiplicando suas fortunas à vontade.

O mesmo se aplica aos políticos, funcionários civis e empresários inescrupulosos.

Ainda não se disse qual é a empresa da Zona Franca de Santiago que encomendou a carga de drogas do chamado Cartel-Quirino. Também não se averiguou o dinheiro lavado em edificações e negócios que crescem como espuma da noite para o dia, nem se passa a limpo o funcionamento de instituições financeiras com vocação para lavanderias.

O problema não se resolve com a compra de aviões Tucanos, mas enfrentando a situação detalhadamente, processando judicialmente a esses beltranos e sicranos. O problema é que os maiores delinqüentes praticamente dominam o Estado.

Então, o que fazer? Virar a mesa com o poder dos de baixo, substituir as instituições carcomidas e estabelecer uma democracia participativa e portadora de uma nova moral. Não há outra forma, meus amigos e amigas. Precisamos entender isso!Esse Estado apodreceu e é preciso substitui-lo. Se queremos soluções é preciso lutar por uma nova institucionalidade, uma nova democracia com participação e poder popular.
O artigo, em espanhol, encontra-se em ABP Notícias.