"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Na Bolívia, a morte de um único índio vale mais que a de dezenas de oligarcas

por: Radio Centenario Uruguay/Colaborador ABP Uruguay

Na Bolívia, a morte de um único índio vale mais que a de uma dúzia de oligarcas que algum dia deverão verter seu sangue.

Entrevista com o sociólogo norte-americano, James Petras, para refletir sobre os fatos na Bolívia e a Venezuela. “Estou muito preocupado com os eventos que se sucedem tanto na Bolívia como na Venezuela, assim como outros indicadores do que se está sendo preparado para o Paraguai, nesse novo avanço, nessa agressão do governo de Bush que nos últimos tempos lançou uma nova ofensiva nos conflitos dos lugares onde sofreu as piores derrotas”.

Chury [Apresentador]: Audiência de Radio Centenario, hoje vamos mudar a ordem da informação em Puesta al Día para falar da situação que vive o povo irmão boliviano e também da firme atitude do presidente venezuelano Hugo Chávez.

A ingerência norte-americana atinge toda a América do Sul e é por isso que hoje entramos em contato com alguém que a cada segunda-feira, direto dos Estados Unidos, analisa a realidade internacional.

Bem-vindo James Petras. Como você está?

Estou bem, mesmo que muito preocupado pelos eventos que se sucedem tanto na Bolívia como na Venezuela, assim como outros indicadores do que se está preparando para o Paraguai, neste novo avanço, esta agressão do governo de Bush, que nos últimos tempos largou uma nova ofensiva nos conflitos nos lugares onde sofreu as piores derrotas.

O que você acha da situação na Bolívia, com essa expulsão do embaixador norte-americano, o apoio do Itamaraty - que ocorreu horas depois - e a expulsão do embaixador em Caracas por Hugo Chávez?

Bom, em primeiro lugar é preciso ter claro que o embaixador norte-americano, o senhor Philip Goldberg, é um golpista. É um homem que trabalha mais como agente de Inteligência que como diplomata. Tem uma longa história de intervenção, particularmente na Iugoslávia, onde foi o principal agente do separatismo de Kosovo. E com a experiência que teve em outros lugares se mostra como um expert em atividades clandestinas vinculadas com grupos da ultra-direita, isto é, os separatistas.


Agora, há quase três anos (trinta e três meses) a Embaixada norte-americana – tanto com o embaixador anterior como com Goldberg - gastaram mais de 120 milhões de dólares anuais para financiar grupos opositores que se apresentam na Bolívia como ONG's, Cívicos e outros grupos neofascistas.


Ultimamente o fato é que ele atua publicamente consultando e canalizando os aportes financeiros tão deliberadamente que inclusive o governo de Evo Morales, que é bastante prudente, e se pretende conciliador, não teve mais opção que expulsá-lo, mas sem romper relações com os Estados Unidos. Ou seja, o governo dos Estados Unidos vai substitui-lo com outro operador de confiança.


Enfim, o fato é que já há uma guerra civil na Bolívia, com a presença ativa dos Estados Unidos como principal agenciador externo e internamente com aportes financeiros e a assessoria de Goldberg.


Esta guerra civil deixou quase a metade do país nas mãos dos fascistas, e digo fascistas porque operam com o uso de força, de violência, com grupos extra-parlamentares típico de fascistas, com o apoio de uma classe média acomodada, ações de tomada de edifícios públicos de todo tipo, de paralisação de gasodutos, violando inclusive esses gasodutos, tomando o controle de escritórios policiais, de alfândegas etc. É um golpe. Por isso, falar que se aproxima uma guerra civil ou um golpe é falso porque já há uma guerra civil, há uma tomada de poder nas províncias dos que chamam a Media Luna (Santa Cruz, Tarija, Pando, Beni) onde a direita fascista já manda, apesar de que há oposição interna de camponeses etc.


O que resta é o Planalto onde fica Evo Morales, enclausurado, impotente, incapaz de manter a ordem constitucional e a integridade do país. Enquanto isso as massas populares começam a organizar sua própria ação, independente do Presidente que até agora segue defendendo o diálogo. Mas enquanto isso os fascistas assassinam dúzias de camponeses a sangue frio e desaparecem com outras dúzias, ao que se somam mais de 200 feridos de bala que estão nos hospitais.


Esse é o cretinismo do Presidente diante da clara intervenção norte-americana, do golpe de Estado que já está ocorrendo e da tomada de poder pela ultra-direita.


O resultado é que isso é a ponta-de-lança da ofensiva contra o presidente Hugo Chávez, na qual, com almirantes da reserva e coronéis e generais em serviço já planejam o assassinato do presidente e a tomada de poder.


Graças à Inteligência da Venezuela alguns conspiradores já foram presos, mas as ações não podem se restringir apenas à cúpula. Há conspirações em tropas nas forças Armadas. Na Guarda Nacional e particularmente em alguns setores da Força Aérea os vínculos com os conspiradores seguem sendo um perigo real.


O lançamento de um blog no Paraguai que denunciou o próprio presidente Fernando Lugo é outra indicação que para Washington é intolerável não só os nacionalistas revolucionários, como Chávez, mas também moderados progressistas liberais como Lugo e Evo.


O governo de Bush quer sair da Presidência com pelo menos uma vitória político-militar. Por isso lançou essa ofensiva de última hora. É um ato de desespero, estão dispostos a fazer tudo: a violência, um golpe, a tomada de poder massacrando povoações, inclusive aliando-se com os piores racistas e fascistas desde a época do nazismo.


Falar de Santa Cruz e das principais cúpulas é falar de um movimento nazista, com ideologia racista, com um movimento extra-parlamentar com organizações cívicas cuja base é uma classe média enfurecida.

Quase no final, surgem duas ou três questões. O que você acha do Mercosul e da OEA?

Bem, todo o Mercosul aprova as resoluções de apoio a Evo Morales contra a violência, mas é justamente essa política interna que quebra o diálogo e a pacificação. Por por um lado apóiam a Evo Morales, mas por outro a saída que sugerem é desastrosa. O que é necessário, de fato, é a aplicação máxima da força, a violência legítima do povo, a mobilização, armar as milícias para enfrentar a ameaça ao lado dos setores constitucionalistas do Exército, achatar aos fascistas que estão tomando o controle do país e querem impor uma ditadura racista e fascista.


No Mercosul, particularmente o senhor Lula está muito incomodado depois que eliminaram 10% do gás que a Bolívia passa a Brasil. Não sei se Lula oferecerá a Evo tropas brasileiras para proteger e reconstruir o gasoduto. Lula está muito zangado com os fascistas que violaram o gasoduto, porque prejudica o gás que é muito necessário para as indústrias de São Paulo.


O único presidente que ofereceu uma ajuda concreta foi Hugo Chávez, que já expulsou o embaixador dos EUA e ofereceu apoio militar e auxílio à luta armada das massas populares da Venezuela.


É preciso lembrar que há três meses o próprio Hugo Chávez dizia que não era necessária a luta armada e hoje deve reconhecer que, frente a esta ameaça fascista, a única opção é o povo em armas ao lado dos soldados constitucionalistas.


É o único Presidente latino-americano que ofereceu algo além de resoluções de apoio diplomático. E por isso devemos tomá-lo como aliado estratégico. O apoio concreto de Chávez merece nosso apoio e devemos pressionar os governos da região para que ofereçam algo além de apoio diplomático. É preciso apoio financeiro e armas para que o governo de Evo Morales deixe de tocar o violão de conciliação e atue como um verdadeiro governo à altura dos povos para esmagar esse levante fascista.


Evo Morales deve reconhecer que o povo reclama armas. Eu recebi comunicações de setores fabris dizendo que a COB está farta com a conciliação de Evo e já está organizando suas próprias milícias, sítios, bloqueios, contra a direita e o fascismo; pela sua própria iniciativa frente à impotência do governo central.


Ou seja, o movimento de vanguarda se está levantando para encabeçar a resistência.



Muito obrigado James Petras.


Obrigado a vocês. Para encerrar, desejo que o governo boliviano tome alguma medida para evitar mais massacres dos camponeses indígenas, pois a vida de um indígena vale mais que uma dúzia de latifundiários.