"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 18 de setembro de 2008

EUA: economia sem leme e a cambalear

por Craig Roberts [*]

Haviam-nos prometido uma "Nova economia" de serviços de alta tecnologia comerciáveis que substituiria a economia manufactureira deslocalizada no estrangeiro. Desejando saber o que aconteceu à "Nova economia", a Research Offshoring Network da Duke University investigou-a e localizou-a no offshore. Sim, as actividades da dita "Nova Economia" também foram deslocalizadas no estrangeiro.
Call centers , operações de TI, operações de back-office e a manufactura foram há muito removidas para o exterior. Agora actividades de alto valor acrescentado tais como investigação e desenvolvimento, engineering, desenvolvimento de produto e serviços analíticos estão a ser enviadas offshore. Tudo o que foi deixado são as finanças, e elas estão a desintegrar-se diante dos nossos olhos.
Corretores independentes (broker-dealers) estão a desaparecer: Merrill Lynch, Bear Stearns, Lehman Brothers. Estas veneráveis instituições estavam demasiado pouco capitalizadas para os riscos que assumiram. A Merrill Lynch agora faz parte do Bank of América, e a Lehman Brothers é história.
Desregulamentações financeiras imprudentes levaram à concentração financeira e não a mercados mais eficientes. Bancos locais independentes, os quais focavam-se no financiamento de negócios locais, e Associações de Caixas Económicas (Saving and Loan), que conheciam o mercado da habitação local, foram substituídas por grandes instituições que empacotavam riscos não analisados e vendiam-nos por todo o mundo.
A regulamentação foi demasiado ambiciosa. O pêndulo inclinou-se. A desregulamentação tornou-se uma ideologia e uma facilitadora da ganância.
A desregulamentação da energia eléctrica deu-nos a Enron.
A desregulamentação das companhias de aviação destruiu nomes americanos famosos como a Pan Am, encolheu o números de companhias e provocou um declínio no serviço. Quando as companhias estavam regulamentadas, elas podiam permitir-se ter equipamento de reserva de prontidão e os voos cancelados eram raros. Hoje, as condições financeiras proíbem ter equipamento standby e problemas mecânicos resultam em cancelamento de voos. Quando economistas calcularam os benefícios da desregulamentação eles deixaram de lado muitos dos seus custos.
Já não há mais companhias blue chip , o que significa que investir para a aposentadoria tornou-se um jogo de dados. As pessoas percebem isto; portanto, a privatização da Segurança Social não tem apoio.
Se olharmos de forma realista para a economia dos EUA, veremos que aquilo que não foi movido para o offshore está a precisar de salvação. No ano passado, o Departamento da Energia foi autorizado a efectuar empréstimos de US$25 mil milhões a indústrias fabricantes de automóveis e fornecedores de peças. Na semana passada o secretário do Tesouro pôs debaixo da sua US$5 milhões de milhões em hipotecas habitacionais da Fannie Mãe e do Freddie Mac. O Gabinete de Orçamento do Congresso diz que esta acção do Tesouro significa "que as operações da Fannie Mãe e do Freddie Mac deveriam ser incorporadas directamente no orçamento federal". ( http://cboblog.cbo.gov/ ) Suas receitas seriam tratadas como receitas federais, e suas despesas como despesas federais. Se as últimas fossem maiores do que as primeiras, não haveria razão para a tomada.
A questão em aberto é: como estes novos passivos afectam a capacidade de crédito do próprio Tesouro?
Por enquanto, esta questão está submersa. A prática tradicional de fugir para o dólar americano e os títulos do Tesouro dos EUA durante períodos de stress financeiro e de incerteza promoveu o dólar e manteve baixas as taxas de juro. Mas mais cedo ou mais tarde o défice do orçamento dos EUA, agravado pela recessão e por salvamentos, e ainda pelo grande défice comercial que exige a constante reciclagem de dólares possuídos por estrangeiros nos activos reais e financeiros estado-unidenses, resultará em esforços renovados da parte dos estrangeiros para aligeirar seus haveres em dólares.
Quando chegar este momento, as taxas de juros estado-unidenses terão de ascender em conformidade para o governo ser capaz de continuar a apoiar-se nos estrangeiros para reciclar os dólares adquiridos no comércio a fim de financiar o défice do orçamento anual do governo dos EUA.
Os atuais problemas financeiros empurraram para os bastidores os problemas maiores do orçamento e do défice comercial dos EUA. Bens e serviços para mercados americanos que as corporações dos EUA deslocalizam offshore retornam como importações, as quais alargam o défice comercial estado-unidense. Transferir produção para o estrangeiro reduz o PIB e o emprego dos EUA e aumenta o PIB e o emprego no estrangeiro. Transferir produção para o estrangeiro reduz a capacidade exportadora da economia dos EUA ao mesmo tempo que aumenta a conta da importação.
Portanto, como é que o défice comercial será colmatado? Um dos meios é através da perda do valor de troca do dólar, a qual reduziria os rendimentos reais dos consumidores americanos e deixa-los-ia demasiado pobres para comprarem bens e serviços deslocalizados.
Como é que o défice orçamental será fechado quando empregos estão a desaparecer e o PIB (base do fisco) está a ser relocalizado offshore?
Não através de impostos mais altos. Impostos mais altos são problemáticos para uma economia recessionária na qual o emprego, medido correctamente, já está em dois dígitos ( http://www.shadowstats.com/ ).
Algumas pessoas têm especulado que o défice orçamental será colmatado pelo desmantelamento de programas de promoção social tais como o Medicare. Contudo, considerando o custo dos seguros médicos, isto seria catastrófico para dezenas de milhões de americanos mais idosos.
A via mais provável será uma incursão nas pensões privadas. Alicia Munnell, nomeada pela administração Clinton como secretária assistente do Tesouro para Política Económica, argumentou que fundos privados de pensões deveriam enfrentar um gravame fiscal pelo facto de que a sua acumulação ter sido livre de impostos. Espero que o governo federal, confrontado com a sua própria bancarrota, ressuscitará este argumento, pois será preferível imprimir dinheiro como uma república de bananas ou a Alemanha de Weimar.
No século XXI, a economia dos EUA tem estado a manter através da expansão da dívida, não pelo crescimento real do rendimento. Economistas têm louvado o crescimento da produtividade estado-unidense, mas não há sinal de que a produtividade acrescida tenha ascendido rendimentos familiares, uma indicação de que há um problema com as estatísticas da produtividade. Com consumidores super carregados de dívidas e o valor do seu activo mais importante – habitação – em queda, o consumidor americano não será levado a uma recuperação.
Um país que tivesse líderes inteligentes reconheceria suas aflições, travaria suas guerras gratuitas e cortaria seu orçamento militar maciço, o qual excede aquele de todo o resto do mundo somado. Mas um país cujo objectivo de política externa é hegemonia mundial continuará no caminho da destruição até que o resto do mundo cesse de financiar a sua existência.
A maior parte dos americanos, incluindo os candidatos presidenciais e os media, estão inconscientes de que o governo dos EUA hoje, agora neste minuto, é incapaz de financiar suas operações diárias e deve confiar em estrangeiros que comprem seus títulos. O governo pagar os juros aos estrangeiros vendendo-lhes mais títulos, e quando os títulos têm de ser pagos, o governo resgata-os vendendo-lhes novos títulos. O dia em que os estrangeiros não comprarem será o dia em que o povo americano e o seu governo será trazido à realidade.
Isto não é a posição financeira de uma super-potência.
Será que aquilo que hoje aconteceu à Lehman Brothers será amanhã o destino da América?

[*] Ex-secretário assistente do Tesouro na administração Reagan. Foi Editor Associado da página editorial do Wall Street Journal e Editor Colaborador da National Review. É co-autor de The Tyranny of Good Intentions. Email: PaulCraigRoberts@yahoo.com
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