"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 17 de julho de 2008

Comunicado de Alfonso Cano, Comandante-em-Chefe das FARC-EP

O Comandante-em-Chefe das FARC-EP envia o pensamento da organização à todos os membros das FARC e oficializa alguns movimentos impresncindíveis no seio da organização guerrilheira, além de enviar sua saudação revolucionária a todo o povo e os povos irmãos.

Junho de 2008.

Camaradas do Estado-Maior Central, dos Estados-Maiores dos Blocos e Frentes, dos Comandos Conjuntos, das redes urbanas, colunas, companhias, guerrilhas, esquadras e comissões, guerrilheiras e guerrilheiros, comandantes e milicianos bolivarianos, militantes do Partido Comunista Clandestino e integrantes do Movimento Bolivariano: recebam nossa revolucionária saudação que extendemos a todos que trabalham junto conosco por uma Nova Colômbia.

Durante a última semana do mês de maio recebemos mensagens de solidariedade de todas as unidades farianas, onde destacam a gigantesca dimensão política e militar do Comandante Manuel Marulanda Vélez como um dos maiores revolucionários de nossa história, e também reafirmando lealdade absoluta a seu legado, ao nosso compromisso e objetivos de transformação revolucionária e brindando total respaldo às decisões tomadas pela direção das FARC nesta conjuntura.

No dia 27 de março, após o falecimento do Camarada Manuel, concordamos que apenas a partir do dia 23 de maio informaríamos sobre isso aos comandos guerrilheiros, aos amigos e conhecidos, à opinião, enquanto decidíamos o necessário para garantir a continuidade dos planos em curso, como efetivamente ocorreu.

Redistribuímos funções dentro do Secretariado e reajustamos também o Estado-Maior Central, fortalecemos os Estados Maiores dos Blocos onde foi necessário, revisamos a situação orgânica do trabalho de massas, tudo isso em meio à permanente confrontação e protegidos pela indestrutível barreira do segredo das centenas de guerrilheiros conhecedores do falecimento de nosso comandante-em-chefe.

E assim, entre outras decisões, definimos o camarada Iván Márquez como chefe das relações internacionais do Estado-Maior Central e o camarada Pablo Catatumbo como novo chefe do Movimento Bolivariano pela Nova Colômbia.

Nossa rica troca de opiniões frente a atual situação retificou o sagrado compromisso revolucionário das FARC-EP, com sua direção em mente, de manter firme e muito alto as bandeiras da Nova Colômbia, a pátria grande bolivariana e o socialismo; reafirmou a vigência de nossos planos políticos militares e de nossa condição de combatentes da paz democrática, ou seja, da paz com justiça social, sem fome, com emprego, teto, saúde e educação para todos, com soberania nacional e vigência de uma verdadeira democracia política sem violência e corrupção administrativa.

Vale recordar que as FARC nasceram há 44 anos como uma resposta popular e revolucionária ao terror institucional e para-institucional do Estado, à vergonhosa intromissão gringa em nossos assuntos internos, ao despojo das terras e sua exacerbada concentração em umas poucas mãos, às profundas injustiças sociais existentes e a voraz corrupção da oligarquia, realidade todas que hoje perduram, multiplicadas, para a desgraça de nosso povo.

Como revolucionários, queremos e lutamos pela reconciliação da família colombiana e a construção de um novo tecido social justo, mas a oligarquia, uma mescla maldita de privilegiadas fortunas, imensas fazendas, montanhas de outro e poder político, não não quiseram nem querem compartilhar um pouco de seus privilégios com as maiorias do país. Por isso frustra qualquer possibilidade sólida de acordos de paz.

Camaradas: insistiremos quantas vezes forem necessárias sobre nossa disposição em fazer o acordo humanitário que crie regras claras sobre a população civil de obrigatório cumprimento para as duas partes e que, antes de tudo, priorize a liberdade dos camaradas extraditados Sonia, Simon, Iván Vargas e de todos os prisioneiros de guerra de ambos os lados.

É claro, e isso não é segredo, que este governo não tem mostrado o menor interesse em fazê-lo, simplesmente porque seria um reconhecimento, de fato, do status beligerante de uma guerrilha revolucionária a qual querem satanizar. Por isso tanta desculpa, teorias absurdas, improvizações e armações, falsos positivos e temerárias ordens de resgate que jogam com a vida dos prisioneiros para a satisfação dos delírios de grandeza presidenciais.

O governo pensou que as decisões unilaterais das FARC-EP, quando libertamos 6 prisioneiros no começo do ano, eram um sinal de debilidade, e não demonstrações inegáveis da vontade que nos acompanha.

Apesar disso, nossa proposta de nos reunirmos com o governo para definir os termos de um acordo, continua vigente assim como a decisão de manter comunicação e redobrar os esforços para que a reiterada generosidade de inúmeros governos amigos das soluções políticas, finalmente mostrem ao regime colombiano que negar o conflito existente, tergiversar suas dimensões e esconder sua brutal realidade, não soluciona e sim agrava e incrementa os ódios e as distâncias.

Persistiremos em nossos esforços para alcançar a paz democrática pela vias civilizadas do diálogo tal como temos feito há 44 anos, porque é nossa concepção revolucionária, porque assim são nossos princípios. O levante armado, a guerra de guerrilhas, a clandestinidade e a atividade conspirativa respondem basicamente à violência institucional que, desde a morte do Libertador Simón Bolívar, exercem os poderosos contra as maiorias que têm lutado por liberdade, terra, trabalho, justiça, democracia e soberania.

Na busca por esses objetivos nunca desmaiaremos. Respaldamos nossa palavra com a prática diária, no seio da luta cotidiana. Assim nos ensinaram Bolívar, Manuel, Jacobo e todos os mártires e heróis de nossa pátria. Comprometemos nossa honra e vida nesse empenho porque estamos seguros da justiça e possibilidade real de materializar o sonho de uma nova Colômbia. As dificuldade não nos detém, não nos amedrontam as ameaças da oligarquia que temos escutado a vida toda, não acreditamos nos chamados ao escárnio e a indignidade, nem nos Judas que aceitam as moedas de seu oponente porque sobre esta moral nunca se construirá um melhor país, nem uma sociedade pujante nem uma família solidária. O valor fundamental como pedra angular deve ser o bem comum sustentado sobre uma ética transparente.

Camaradas: os caminhos que conduzem ao incremento da luta popular em suas mais variadas formas e a conquista do poder, nunca foram fáceis, nem em nosso país nem em nenhuma outra parte do mundo, nem agora, nem antes. Apenas a profunda convicção na vitória, a justiça, valizer e vigência de nossos princípios e objetivos e um monolítico esforço coletivo, garantirão o futuro. Aos reacionários que fazem contas alegres com as FARC lhes informamos que a intensidade da confrontação nos fortaleceu, estreitamos os vínculos com as comunidades, suas organizações e as lutas populares, elevado a disciplina e o respeito pela população civil e incrementado nossa qualificação e aprendizagem. Caíram guerrilheiros, porque assim é a luta, mas também seu generoso sangue derramado é uma evidência de nosso total compromisso com o povo, outros camaradas já cubriram a trincheira e muitos mais continuam chegando às filas, assim foi também o processo de nossa independência e todos os processos libertadores da humanidade onde se desataram os demônios da guerra.

Somos uma força revolucionária com suficiente história, solidez e consistência para superar o falecimento de nosso Comandante-em-chefe porque ele mesmo nos preparou e contribuiu no esforço coletivo de consolidação política e militar. O Secretariado, o Estado-Maior Central, os Estados Maiores dos Blocos e Frentes, os comandos de todo nível, os chefes e combatentes das FARC-EP garantiremos o triunfo.

Continuamos lutando para cumprir todos com os planos aprovados, mantendo a fundo a prática da guerra de guerrilhas móveis, incrementando nossas ligações com a população civil e com o movimento de massas que resiste à ofensiva do grande capital e dos detentores de terra, intensificando o compartilhamento de opiniões com todas as forças interessadas realmente nas saídas políticas para o conflito e por alcançar um grande acordo democrático e patriótico, diante do desmoronamento de uma institucionalidade fraturada irreversivelmente pelo narco-paramilitarismo, o autoritarismo totalitário e a subserviência perante a Casa Branca.

Devemos convidar as comunidades para denunciar a agressão militar do governo, que sob a máscara da confrontação com a guerrilha, massacra civis para apresentá-los como guerrilheiros, arrasa lavouras, camps e bosques de reserva com os bombardeios, gera deslocamentos, possibilitando o despojo de terras e aterrorizando a quem proteste, através da ameaça direta, a agressão e o crime.

E devemos nos esforçar mais para informar sobre as centenas de combates diários que acontecem nos campos e cidades porque o regime esconde a terrível realidade da guerra fatricida, suas baixas e revezes, para transmitir um inexistente ambiente de controle oficial no território nacional.

Também repudiar a mentira montada sobre os supostos computadores e arquivos do Comandante Raúl Reyes, como manobra e macabra manipulação re-eleitoreira que busca ferir a quem não compartilhe da estratégia presidencial da chamada segurança democrática sob a qual se esconde o papel de “ponta-de-lança”, designado pelo pentágono estadunidense ao nosso país em seus planos de agressão militar contra os povos da América Latina, buscando recuperar sua deteriorada hegemonia imperial.

A indignante decisão de levantar uma base militar estadunidense na Colômbia, as pretensões de uma segunda reeleição, o câncer da narco-para-política que assumiram as instituições no estado terminal, além das propostas consignadas na Plataforma Bolivariana, devem ser temas de encontro e unidade, que conscientizem os colombianos e a convergência pela construção coletiva e consensual da paz.

Camaradas: a espada de Bolívar permanece desembainhada e em mãos de todos aqueles que, assim como nós, não descansarão na busca por justiça social, a democracia e a soberania, suportes verdadeiros da convivência com a qual sonhamos todos os colombianos.

Um forte aperto de mão para todos.

Pelo Secretariado,
Alfonso Cano