"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 2 de abril de 2008

O Urânio e quem o USA

YVKE Mundial nos traz esta semana uma excelente crônica sobre o Urânio e seus usos no mundo. Tomamos o artigo de YVKE e o reproduzimos textualmente, dada sua importância.

Por YVKE Mundial/Luigino Bracci Roa


O Ministério de Defesa de Colômbia emitiu esta quarta um comunicado afirmando que as Farc haveriam adquirido “urânio empobrecido”, isso “de acordo com a informação contida nos computadores de Raúl Reyes”.

Segundo o ministério liderado por José Manuel Santos, uma amostra de urânio entregue por ‘informantes’ foi enviada à especialistas em energia nuclear, que confirmaram que “tratava-se de urânio empobrecido”. Afirmam que, com os ‘informantes’, localizaram o sítio onde estava todo o material químico, extraindo-se uns 30 quilos do material. Não foi especificado quem foram os informantes.

Urânio empobrecido: dupla moral

Caso fosse comprovado que as Farc realmente adquiriram 30 quilos de urânio empobrecido (apresentando provas mais convincentes que os “computadores indestrutíveis”de Raúl Reyes), sem dúvida seria uma atitude condenável por parte do grupo guerrilheiro.

Mas é lamentável que tenha ‘passado embaixo da mesa’ o uso que os Estados Unidos e outros países continuam dando ao urânio empobrecido em armas convencionais que afetam a população civil do Iraque e do Afeganistão. Também foi usado na guerra dos Balcãs entre 1995 e 1998, afetando não só a cãoulação civil, mas soldados britânicos e espanhóis.

O website canadense GlobalResearch explicou em um artigo escrito em 2006: "O Pentágono tem usado armas com urânio empobrecido há pelo menos quinze anos com cumplicidade de, pelo menos, três administrações da Casa Branca e congressistas republicanos e democratas. Pelo menos 300.000 quilos de urânio empobrecido foi usado na Guerra do Golfo em 1991 e 1.700.000 quilos de urânio empobrecido foram usados na invasão atual no Iraque (até 2006). Isso equivale a 70 gramas de urânio empobrecido para cada cidadão iraquiano, e caso seja ingerido ou inalado, é suficiente para matar a todos.”

O que é urânio empobrecido

O urânio empobrecido é um metal que fica como resíduo do enriquecimento de urânio. Pelo fato de ser um metal muito pesado, 70 por cento mais pesado que o chumbo, é utilizado nas pontas das munições para aumentar seu poder de penetração em blindagens de tanques e veículos armados. Um informe das Nações Unidas explica que o urânio empobrecido também é usado na blindagem de tanques e veículos blindados.

O livro "The International Legality of the Use of Depleted Uranium Weapons: A Precautionary Approach", por Avril McDonald e outros, afirma que o urânio empobrecido é manufaturado em 18 países, entre eles os Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia, Grécia, Turquia, Israel, Arábia Saudita, Bahrein, Egito, Kuwait, Paquistão, Tailândia e Taiwan. Apenas os Estados Unidos e a Grã-Bretanha admitiram usar armas com urânio empobrecido.

Em contrapartida, o urânio enriquecido, é o que se utiliza em centrais nucleares para fabricar armas nucleares; no processo de obtenção de urânio enriquecido, fica como sobra o urânio empobrecido. É menos radioativo que o urânio que se encontra na natureza, mas pode ser tóxico para os humanos.

É necessário relembrar que o urânio empobrecido não pode ser utilizado para fabricar armas de fissão nuclear, como as que explodiram em Hiroshima e Nagasaki em 1945. Nesse casos deve-se usar plutônio ou urânio enriquecido, que contém o isótopo U-235, vital para realizar as reações em cadeia que produzem uma explosão nuclear ou que, ao serem controladas, permitem que uma central de energia nuclear alimente turbinas que produzam eletricidade.

Usos do urânio empobrecido em armas convencionais

A enciclopédia Wikipedia em inglês, citando diferentes fontes, explica que o urânio empobrecido é utilizado em munições de 30 milímetros no canhão Avenger do avião A-10 Thunderbolt II e no canhão M230 do helicóptero Apache, usados atualmete pelos Estados Unidos. Usa-se em munições de 25mm em canhões M242 do veículo de artilharia Bradley e no LAV-ET. Os Marines usam em munições de 25mm do canhão do avião AV-8B Harrier e em canhões do helicóptero AH-1. Também usa-se em munições anti-blindagem, pois, ao atingir o alvo, se desfaz em fragmentos afiados eu penetram melhor a blindagem.

As armas com urânio empobrecido são consideradas armas convencionais (não são consideradas armas nucleares) e as forças armadas as utilizam livremente, já que não há proibições a respeito. Quando uma munição com urânio empobrecido realiza o impacto ela fragmenta-se e incinera-se, contaminando a área de impacto com partículas finas que podem ser inaladas, ingeridas, ou podem depositar-se, afetando as fontes de água e o terreno.

Isto tem sido criticado por médicos e organizações de direitos humanos devido à grande quantidade de pessoas, incluindo a população civil e soldados, que pegaram câncer, leucemia e outras doenças após aspirar ou digerir pó ou partículas de urânio empobrecido.

O caso Basora, Iraque

Igualmente, afirma-se que uma elevada quantidade de crianças tem nascido com deformações no Iraque em conseqüência da contaminação com urânio empobrecido de algumas fontes de água e alimentos. A BBC explica que, após a primeira Guerra do Golfo, em 1991, se informou de um aumento significativo no número de crianças com câncer na cidade iraquiana de Basora. As Nações Unidas alegou nessa época que não haviam provas contundentes sobre o vínculo entre os casos de câncer em Basora e o uso de urânio empobrecido.

O Dr. Jenan Hassan divulgou, através da internet e de conferências, imagens de muitas das crianças que nasceram com câncer ou com sérias deformações, aparentemente como conseqüência da contaminação com urânio enriquecido. As imagens são muito fortes e podem afetar pessoas sensíveis: podem ser vistas nesta página web ou também em Argenpress. O documentário alemão "O doutor, o urânio empobrecido e as crianças que morrerm " resume muitas dessas questões.

Soldados estadunidenses, britânicos e espanhóis que participaram na guerra dos Balcãs afirmaram que diferentes efeitos cancerígenos que apareceram depois da guerra devem-se à exposição ao urânio empobrecido. Foram feitos chamados para que se efetuem estudos a fundo sobre o possível impacto negativo na saúde dos veteranos de guerra. O Pentágono sustenta que não há provas contundentes. Mas Dan Fahey, investigador da organização estadunidense Veteranos pelo Senso Comum, acusa que a falta de conclusões quanto ao possível impacto nos veteranos da primeira Guerra do Golfo, deve-se em grande medida ao fato de que o próprio Pentágono permitiu que se efetuem estudos em um amplo número de soldados.

No website das Nações Unidas pode ser encontrada ainda mais informação sobre o urânio empobrecido e seus prejuízos à saúde. Também há mais informação em International Action Center.

Manipulação midiática

É muito difícil assegurar a essas alturas se realmente as FARC-EP tentaram adquirir urânio, como o Ministro da Defesa de Colômbia tenta nos fazer acreditar. O que se sabe com certeza é que milhares de pessoas –talvez milhões- sofrem os efeitos do urânio empobrecido graças à vários países que o têm usado indiscriminadamente em armas convencionais, encabeçados pelos Estados Unidos.

Encorajamos o leitor a ser crítico e não deixar-se dominar pelas matrizes de opinião escandalosas que meios de comunicação tentam criar em torno do urânio empobrecido e as Farc. Nesses momentos, milhões de venezuelanos e colombianos estão assombrados pela notícia dos 30 quilos de urânio empobrecido supostamente pertencentes às Farc. Quantos deles sabiam sobre os 1.700.000 quilos de urânio empobrecido utilizado em civis iraquianos?

Uma pergunta final: É condenável ou não usar urânio empobrecido?

Caso seja condenável, o governo dos Estados Unidos (tanto o atual como seus predecessores) deve ser qualificado como terrorista e julgado de imediato por usar urânio empobrecido contra civis no Iraque.

Caso não seja condenável, assim como clama o governo dos Estados Unidos ao justificar o uso de munições de urânio empobrecido, então não se pode entender o escândalo que o governo da Colômbia mantém em torno dos 30kg. De urânio que presumidamente acharam em Bogotá.Você, como leitor, tem a palavra. Não se esqueça de deixar um comentário a respeito.