"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 28 de março de 2008

Desinformam sobre a derrota dos EUA na OEA

As grandes agências internacionais e seus curiosos silêncios sobre a recente vitória diplomática do Equador. Quando querem, a notícia deixa de ser notícia.

Por Victor Ego Ducrot / Agência Prensa Mercosur


Um percorrido pelos portais eletrônicos de algumas das mais influentes agências internacionais de notícias, na primeira hora da manhã do passado 18 de março, lançou uma conclusão surpreendente: na contramão do que dizem seus próprios manuais de estilo, os fatos (“just the facts”) deixam de estar no centro da atividade informativa e são substituídos por meras interpretações.

“A OEA aprova resolução sobre Equador-Colômbia (terça-feira 18 de março de 2008 08:59).
WASHINGTON (Reuters) – Ministros do Exterior e embaixadores da OEA chegaram na madrugada da terça-feira a uma resolução que busca reparar as prejudicadas relações entre Colômbia e Equador, após as feridas que deixou uma crise regional desatada por um bombardeio a um acampamento das FARC em solo equatoriano.

Após longas e árduas negociações, os diplomatas reunidos na Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovaram finalmente um documento que foi recebido com reservas pelos Estados Unidos.

O documento enfatiza os pontos acordados pelos presidentes de Colômbia e Equador na reunião do Grupo do Rio na República Dominicana em princípios de março.

O texto busca “assegurar a paz e a segurança do continente”, “assegurar a solução pacífica das controvérsias que surjam entre os Estados membros”, e foi aclamado e aplaudido de pé pelos diplomatas.

Militares colombianos atacaram em inícios de março um acampamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), onde morreu um dos líderes dessa guerrilha conhecido como Raúl Reyes, o que desatou uma profunda crise, à qual se somaram Venezuela e Nicarágua em apoio ao Equador.

Estados Unidos apoiou o texto, porém expressou reservas sobre um ponto que rechaça o bombardeio colombiano a um acampamento das FARC no Equador. Para Washington, Colômbia atuou em legítima defesa.

Os chanceleres de Equador e Colômbia aprovaram o documento de nove pontos, o que para países como Brasil e Venezuela reforça a autoridade dos países latino-americanos no marco do Grupo do Rio – no qual não participa Estados Unidos – para solucionar problemas.

O documento reafirma o respeito à soberania territorial dos Estados, registra as desculpas de Bogotá pelo bombardeio e reitera o “firme compromisso” dos 34 países da OEA de combater a ação de “grupos irregulares” na região, como buscava Bogotá.

“(A OEA) reitera o firme compromisso de todos os Estados membros de combater as ameaças de segurança provenientes da ação de grupos irregulares ou de organizações criminais, em particular aquelas vinculadas a atividades do narcotráfico”, disse o documento.

A resolução “Toma nota” dos trabalhos de uma missão da OEA em ambos os países, liderada pelo secretário-geral do organismo, José Miguel Insulza, a quem se pede que “exerça seus bons ofícios” para que a resolução se cumpra e para restabelecer a confiança entre Bogotá e Quito.
O texto pede, ademais, que Insulza apresente um informe sobre avanços no tema na próxima Assembléia Geral da OEA, na cidade colombiana de Medellín em junho.

Os diplomatas chegaram a um acordo depois de horas de estancamento pela pressão do chanceler brasileiro, Celso Amorim, que expressou que uma resolução de chanceleres não poderia desautorizar as declarações dos presidentes colombiano e equatoriano no marco do Grupo do Rio.

Na segunda-feira causou agitação nos corredores da OEA uma suposta foto do ministro de Segurança Interna e Externa de Equador, Gustavo Larrea, publicada pelo diário colombiano “El Tiempo”, junto ao falecido guerrilheiro Raúl Reyes. Quito esclareceu que não se tratava de Larrea, mas sim do secretário-geral do Partido Comunista argentino, Patrício Echegaray. O diário admitiu o erro.

Colômbia insistiu em que os computadores de Reyes, expropriados depois do bombardeio, mostram vínculos entre as FARC e o Governo equatoriano, e também entre a guerrilha e o presidente venezuelano, Hugo Chávez. Ambas informações foram categoricamente rechaçadas pelos países mencionados”.

Deveríamos deter-nos na ordem narrativa deste cabograma da agência Reuters, e assinalar que a aplicação dessa ordem é uma das técnicas mais eficazes para marcar Intencionalidade Editorial (posicionamento político ideológico do meio ou do jornalista ante o fato noticiável).

Recém no terceiro parágrafo se faz menção a que a Organização dos Estados Americanos (OEA) se pronunciou em concordância com o documento do Grupo do Rio, subscrito a 7 de março, em Santo Domingo, pelos mandatários latino-americanos dos países que integram a OEA, sem fazer menção de seus conteúdos: apoio ao Equador na defesa de sua soberania frente a ataques da Colômbia, desculpas expressadas do presidente Álvaro Uribe e compromisso deste a não reiterar esses comportamentos condenados pelo direito internacional.

No quarto parágrafo se destacam fatos derivados (“assegurar a paz...”) sem mencionar ainda o centro da questão: que a OEA rechaçou a conduta da Colômbia e não subscreveu uma das doutrinas centrais da política externa estadunidense – a da guerra preventiva –, encoberta detrás do véu discursivo da “segurança dos povos”, tal qual o formulara Uribe sem êxito em Santo Domingo.

Outro dado curioso. Para Reuters a vergonhosa manobra do diário colombiano “El Tiempo”, tendente a desqualificar ao Equador através de uma fraude informativa – técnica comunicacional e de inteligência prevista e aplicada conforme a doutrina da guerra preventiva – só merece ser mencionada nos últimos parágrafos do despacho noticioso.

A atitude da agência AFP foi ainda mais chamativa. Para a abertura de sua página digital nesse mesmo dia, a reunião da OEA nem sequer existiu.

Reproduzamos, a seguir, o resumo informativo de primeiras horas do 18 de março.

“O Dalai Lama se demitirá se se degrada a situação no Tibete: O Dalai Lama renunciará a sua função como chefe espiritual dos tibetanos se a situação no Tibete se degrada, afirmou nesta terça-feira durante uma entrevista com jornalistas em Dharamsala (norte da Índia)”.

Wen Jiabao acusa ao Dalai Lama e seu “bando” dos motins no Tibete: a China tem “as provas” de que os motins de Lhassa da semana passada foram “fomentados e organizados pelo bando do Dalai Lama”, afirmou nesta terça-feira o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, que, no entanto, deixou aberta a porta para o diálogo, sob a condição de que o líder espiritual tibetano renuncie à independência”.

“Morre em Kosovo um policial ucraniano da ONU ferido em enfrentamentos: Um policial ucraniano da força da ONU em Kosovo morreu por causa dos ferimentos sofridos na segunda-feira em enfrentamentos com manifestantes sérvios na localidade de Kosovska Mitrovica, anunciou nesta terça-feira a polícia kosovar”.

Idêntica atitude adotou a agência EFE: silêncio total.

“CHINA-TIBETE Pequim detém a suspeitos casa por casa e acusa ao Dalai Lama de instigar a revolta: Pequim, 18 mar (EFE) – A polícia chinesa percorre Lhasa casa por casa para deter a suspeitos de participar nos distúrbios e manifestações dos últimos dias, denunciaram dissidentes tibetanos, enquanto em Pequim o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, acusou ao Dalai Lama de haver instigado as revoltas”.

“Última hora. Puig não descarta um pacto estável com o PSOE se Zapatero muda de atitude a respeito da Catalunha: Barcelona, 18 m (EFE) – O secretário-geral adjunto de CDC, Felip Puig, assegurou hoje que não descarta um pacto estável mais adiante entre o PSOE e CiU se José Luis Rodríguez Zapatero muda radicalmente de atitude a respeito da Catalunha, e lamentou que CiU não defendesse “com paixão” suas propostas em campanha”.

“Numa entrevista em TV3 recolhida por Efe, Puig assegurou que CiU tinha “bem orientada” sua campanha, porém que “talvez não a interpretamos com suficiente paixão”.

“Manila, 18 mar (EFE) – Ao menos quinze pessoas, entre elas estudantes, resultaram feridas hoje por causa da explosão de uma granada na entrada do colégio La Consolación de Manila, segundo a investigação preliminar da Polícia.

Fontes do Hospital Mary Chiles indicaram que quinze pessoas ingressaram no centro, enquanto a rádio filipina informava de mais feridos atendidos no ambulatório da Universidade Santo Tomás e no Manila Doctors Hospital.

O envio de remessas superou os 8.100 bilhões de euros em 2007 e 19,5% mais que em 2006. Madri, 18 mar (EFE) – As remessas dos imigrantes desde Espanha para o estrangeiro de janeiro a dezembro de 2007 alcançaram os 8.135 bilhões de euros, 19% mais que os 6.807 bilhões enviados no mesmo período de 2006, segundo os dados publicados hoje pelo Banco de Espanha.

A cifra alcançada supera amplamente os 5.500 bilhões de euros que o Governo espanhol destinará este ano à dotação dos créditos do Fundo de Ajuda ao Desenvolvimento (FAD).

Ciudad Real-Hamburgo e Kiel-Barcelona, serão as semifinais da Liga de Campeões de handebol:

Redação esportes, 18 mar (EFE) – Os duelos hispano-alemães Ciudad Real-Hamburgo e Kiel-Barcelona serão as semifinais da Liga de Campeões de handebol, cujo sorteio teve lugar esta manhã em Viena.

Ademais, na Recopa o Valladolid ficou emparelhado com o Rhein-Neckar Lowen, também alemão, e na Copa EHF o CAI Aragón com outro conjunto germânico, o HSG Nordhorn.

Botticelli e Giordano abandonam Itália para viajar a Caixaforum: Madri, 18 mar (EFE) – O percorrido pela espiritualidade do Ocidente em torno à idéia de que o sacrifício de Jesus Cristo redime do pecado original guia “O pão dos anjos”, a exposição que hoje se inaugura em Caixaforum e que permite ver por primeira vez fora da Itália obras-mestras de Botticelli e Giordano.

Caixaforum logrou que a Galeria dos Uffizi, em Florença, permita a saída da Itália de 45 obras realizadas entre os séculos XV e o XVII, das quais sobressaem pinturas de Botticelli, Luca Signorelli, Parmigianino, Luca Giordano e Cristofano Allori, entre outros, peças que habitualmente nem sequer se encontram em exibição”.

Houve que se concentrar na Agência Bolivariana de Notícias (ABN) de Venezuela, por exemplo, para encontrar a informação tratada como o prescreve o próprio preceito estabelecido desde a mídia e a escolas de jornalismo: situar o dado noticioso, destacá-lo e, posteriormente, dar-lhe contexto.

“Vitória do Equador e derrota dos Estados Unidos na OEA. ABN 18/03/2008: Caracas, 18 Mar. ABN – A Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou o rechaço à violação da soberania equatoriana perpetrada por militares colombianos, porém esta resolução não contou com o acordo dos Estados Unidos.

A representação estadunidense ficou isolada frente a toda a comunidade da OEA ao expressar seu desacordo porquanto o acordo rechaça a violação da soberania dos países da região. Estados Unidos disse que não estava incluído “o direito dos países à autodefesa”, avaliação que se corresponde com seu postulado de “guerra preventiva”, um conceito que antes havia utilizado o regime de Hitler”.

O acordo da OEA, logrado quase por consenso, foi possível sobre a base da declaração aprovada pela reunião cúpula do Grupo do Rio, realizada no passado 7 de março, na capital da República Dominicana, e vale destacar que nessa ocasião a construção do consenso foi mais rápida e simples, posto que os Estados Unidos não formam parte da organização.

A resolução acordada hoje pela OEA sublinha a necessidade de respeitar a soberania territorial consagrada de maneira irrestrita pela Carta do organismo continental, e a necessidade de resolver os conflitos de maneira pacífica, sem o uso ou ameaça do uso da força.

Os países do continente também receberam as “plenas desculpas da Colômbia” e seu compromisso de que fatos similares não se repetirão sob nenhuma circunstância.

O secretário-geral da OEA recebeu o mandato de exercer seus bons ofícios para observar o cumprimento da resolução e do restabelecimento da confiança entre os governos de Equador e Colômbia.

A chanceler equatoriana, María Isabel Salvador, destacou que esta é uma vitória da diplomacia de seu país e que recebeu o respaldo de todos os países membros da OEA”.

A sorte de exercício que propõe esta nota não só aponta a revelar a manipulação informativa das grandes corporações – guerra midiática ou jornalismo de “baixa intensidade” – senão que permite introduzir-nos em algumas considerações teóricas em torno à prática profissional, tanto na área de produção como de análise de conteúdos jornalísticos.

Para isso, abordaremos em forma muito sintética alguns dos conceitos centrais do modelo teórico desenvolvido desde a Faculdade de Jornalismo e Comunicação Social da Universidade Nacional de La Plata (UNLP), da Argentina.
Em rigor de verdade, todos os meios desenrolam sua própria Intencionalidade Editorial (parcialidade e carga valorativa e interpretativa sobre os fatos da agenda – a seleção desta e de fontes também forma parte dessa opção de parcialidade ou tomada de partido por -).

E não está mal que isso suceda – não poderia ser de outro modo porque, em última instância, não há atitudes humanas parciais – dentro do jogo da democracia comunicacional. No entanto, devemos apontar o seguinte. Democracia comunicacional significa exercício efetivo do direito dos cidadãos e cidadãs a informar e estar informados e o cenário regional e global atual demonstra que esse princípio não rege, desde o momento que a propriedade e a funcionalidade dos principais meios de comunicação registram o índice mais alto de concentração da história.

As corporações unificam meios, tecnologias e discurso em torno a um só objetivo estratégico: a consolidação de sentidos convalidantes do modelo sócio-político hegemônico.

Casos concretos do reflexo desse cenário de poder sobre construções simbólicas (coberturas jornalísticas, por exemplo) podem ser constatados na produção do Observatório de Meios de APM, consultável desde a capa de nossa página eletrônica.

Por último, e aos efeitos desta nota, o outro ponto que convém ser sublinhado é a mitificação informativa como recursos sistêmicos dos grandes meios hegemônicos.

Isso implica: a) nunca admitem sua parcialidade; b) a sua própria parcialidade a qualificam de “objetividade”.

A transformação falsária da parcialidade própria em “objetividade” obedece à necessidade de eficácia para produzir e reproduzir sentidos hegemônicos; isto é, para converter uma leitura ou interesse de classe ou grupo ou interesse de validade universal.

Se voltamos aos casos das agências citadas neste artigo, poderíamos concluir que a minimização dos fatos sucedidos na OEA – mais ainda sua negação – é um requerimento desse processo de conversão da própria parcialidade em “objetividade” com possibilidades de eficácia.

Se as grandes agências reconhecessem sua parcialidade – a histórica defesa dos sentidos hegemônicos no marco do sistema capitalista-imperialista –, então estariam descobrindo seu jogo, estariam admitindo que suas “objetividades” não são outra coisa que suas próprias parcialidades.

Essa é a lógica fechada do fenômeno que qualificamos “meios e mentiras inteiras”.