"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Gotas homeopáticas para Uribe


Álvaro Uribe, um cruzado da guerra. O jornalista Michel Peyrard, do Paris Match, acompanhou por dois dias o “Padrinho” da Casa de Nariño – como o chamara o presidente Chávez –, por um périplo que o levou ao departamento de Nariño. Foram os dois dias prévios a sua visita à Europa.



A entrevista em si não tem nada de particular, é o mesmo livreto aprendido de memória, porém, nos chamou a atenção as impressões que o jornalista fez do triste personagem. É interessante – e é o primeiro que vamos ressaltar – as duas imagens que o jornalista outorga ao presidente, uma imagem do suposto presidente plebiscitado na Colômbia – (digamos, a ponta de pesquisas Gallup, de falsos positivos, a reeleição, a imagem tropero de escritório) e a outra, a imagem do Uribe desacreditado no estrangeiro por seus laços narco-paramilitares. (Digamos, o não poder explicar que fazia o helicóptero de seu pai num laboratório de cocaína, situação que, por outro lado, explica que foram os mafiosos os verdadeiros assassinos de seu pai, morto numa vindita por seus próprios sócios, a criação dos paramilitares, com o sustento legal das “Convivir”, sua gloriosa passagem pela Aerocivil, onde choveram licenças aos mafiosos, segundo o confirma a amante de Pablo Escobar, etc etc). É um homem de duas caras. Diz o jornalista que, quando Uribe vê uma lente fotográfica, faz esforços por conservar a calma (Toma suas gotas homeopáticas, faz mentalmente a ioga) e, assim, não se lhe nota seu ódio doentio para com a insurgência. No exterior, segundo Peyard, Uribe é visto como um homem com sede de vingança, incapaz de gerenciar o problema do intercâmbio humanitário (até ao ponto que teve que pedir ao presidente Chávez e à senadora Córdoba que lhe dessem uma mãozinha.) O jornalista detecta em Uribe um homem de guerra (diríamos, um Cruzado da guerra), que sonha em pôr de joelhos a insurgência e, humilhada, levá-la à mesa de negociação, “para desacreditá-la ele é capaz de pagar qualquer preço”. (Inclusive mentir, dizer que a insurgência tem 698 seqüestrados, que tortura crianças, que mata anciãos e que, no ano 1983, matou seu pai.) Se a insurgência está tão frágil como diz Uribe, que passou de ter 18.000 homens a ter só 8.000, e não controla nenhum território, como faz a guerrilha para esconder 698 pessoas retidas e, ao mesmo tempo, fazer frente a planos de guerra, tais como o Plano Colômbia, Patriota e o agora Consolidação. A sede de mentir tem uma dívida com o sentido comum. Uribe reconhece que, apesar “da fragilidade da guerrilha, esta conserva sua capacidade desestabilizadora”. Ante esta evidência do sentido comum, Uribe não negou, desta vez, nem o mencionou, que na Colômbia não há conflito. Se a guerrilha está tão frágil, “por que o presidente se mobiliza com uma guarda pretoriana”, “se a segurança democrática é tão eficiente e é um presidente tão querido”, “por que nos tem revistado tanto”, nos contava a negra Carabalí, quem viu o Padrinho na festa da música em Tumaco. “Está cagado de medo”, intervém o velho Juan Caldas. Segundo Peyard, “Uribe tem desconfiança dos jornalistas estrangeiros”. (Talvez, todos lhe recordem a Josep Contreras, o jornalista que se atreveu a perguntar-lhe o que ninguém ousa perguntar na Colômbia sobre seu passado cheio de sombras e amizades nada reputáveis.) Sabemos que Uribe neste giro condicionou as entrevistas a conhecer previamente as perguntas. Seus assessores de cabeceira José Obdulio e Túlio Chinchilla lhe recomendaram que nada de responder perguntas sobre narcotráfico ou paramilitares, que se dedicasse a falar de “seu compromisso com a paz”. E agora nos sai El Tiempo que o giro presidencial foi um êxito, porque ninguém lhe falou de seus laços paramilitares e de suas relações com o cartel de Medellín. Uribe viajou à Europa com uma imagem que nunca poderá olvidar, as cadeiras vazias do parlamento europeu, e, ainda que a imprensa do regime não tenha noticiado os protestos que lhe fizeram à sua passagem, estes voltaram a fazer-se presentes nos lugares que visitou. Uribe disse ao Paris Match que a oposição tem a faculdade de desprestigiá-lo no estrangeiro. Porém, na realidade, o que é certo é que o regime que preside se desprestigia sozinho, agora, já quase somos o primeiro país em deslocamento, segundo os dados do CODHES. O jornalista pergunta a Uribe se não lhe incomoda que os familiares dos prisioneiros em poder das FARC-EP se dirijam, em vez de a ele, a Chávez para sua libertação, e que o presidente venezuelano tem demonstrado mais iniciativa que ele no tema. A resposta é bem uribiana, diz que libertou a 177 insurgentes das FARC-EP e que seu governo é o mais comprometido com a libertação. (Onde estão esses supostos 177 insurgentes libertados, omite dizer que os funcionários da presidência ingressaram nos cárceres, como em qualquer mercado persa, a rifar liberdades, para justificar a lei de justiça e paz e a impunidade paramilitar.) Uribe diz ao jornalista “que seu governo veria com bons olhos mais gestos positivos da guerrilha”.


Segue acreditando, ingenuamente, que vão ocorrer mais libertações enquanto os insurgentes detidos seguem apodrecendo nos cárceres do país. Outra pergunta que o presidente responde com sofismas próprios dele foi aquela relacionada com a liberdade de Granda, “por que concedê-la, se não contribuiu em nada com o processo”, lhe indaga o jornalista, “foi um gesto para Sarkozy”. (Se isso faz com uma nação como a França, nos imaginamos como se porá Uribe quando Bush, seu amo do Norte, lhe pede algum favor, cremos que as “razões de lacaio” superam com sobras “as razões de Estado”.) Quando é perguntado pela declaração de Beligerância que o presidente Chávez e a Assembléia Nacional Venezuelana reconhecem à insurgência, Uribe continua como se nada, e saca a reluzir os supostos apoios da Comunidade internacional.

Logo – conseqüente com a guerra – termina com seu compromisso com o resgate militar, a opção do regresso em bolsas plásticas dos prisioneiros do conflito colombiano. “É nosso dever”, diz, “o governo não pode renunciar ao resgate militar”.

Uribe termina a entrevista com um suspiro, pondo uma cara de mãe própria do mal de vertigem que o aqueja. Quer que o registro da foto o imortalize um pouco humano, enquanto suporta os ultra-sons para suas dores do corpo e da alma. Sua guarda pretoriana mira ao seu redor, paranóica, enquanto alguns tumaquenhos se acercam – requisição prévia – a saudar o Messias, ele finge sorrir como político em campanha.