"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 22 de maio de 2007

O longo braço do narco-paramilitarismo colombiano

"Várias personalidades colombianas comprometidas” na ‘parapolítica’, como o senador Miguel de la Espriella e Carlos Ordosgoitia, alto funcionário e diretor do Instituto Nacional de Concessões, INCO, organismo de Estado, têm destacado a presença de “dois universitários da Sorbonne”, de origem argentina atuando como conselheiros políticos dos chefes das Autodefesas Unidas de Colômbia, AUC, Carlos Castaño e Salvatore Mancuso durante uma reunião ilegal e clandestina, em Railito, julho 2001”, escreve Hernando Calvo Ospina.


A Colômbia inteira semeada por valas comuns.


[Por Hernando Calvo Ospina, extraído de Rebelion.org]

'Imprudences ou connivences'' - Imprudências ou conivências - é o título do artigo escrito por Laurence Mazure, no periódico mensal francês Le Monde Diplomatique, publicado na edição de maio.

O jornalista disse que o escândalo atual sobre a vinculação de altos responsáveis políticos colombianos com o paramilitarismo, todos relacionados com o presidente Álvaro Uribe Vélez, também tem trazido à tona os possíveis “apoios internacionais dos quais se têm beneficiado os paramilitares. Incluindo a França.

No artigo diz que “Várias personalidades colombianas comprometidas” na ‘parapolítica’, como o senador Miguel de la Espriella e Carlos Ordosgoitia, alto funcionário e diretor do Instituto Nacional de Concessões, INCO, organismo de Estado, têm destacado a presença de “dois universitários da Sorbonne”, de origem argentina atuando como conselheiros políticos dos chefes das Autodefesas Unidas de Colômbia, AUC, Carlos Castaño e Salvatore Mancuso durante uma reunião ilegal e clandestina, em Railito, julho 2001.”

Continua dizendo que segundo Espriella, “os dois universitários propuseram a criação de um movimento comunitário e político que, de certa maneira, defenderia as idéias das Autodefesas e levaria a um processo de paz”. Por seu lado, o diretor do INCO teria declarado dois dias depois: “dois professores da Universidade de Sorbonne, ujos nomes não me recordo, porém que alguns deputados já haviam visto na Universidade Militar, tomaram a palavra (...) e expuseram sua visão do que para eles era o conflito colombiano (...) e explicaram como o resto do mundo vê a Colômbia. Depois, eles expuseram uma estratégia cuja finalidade era converter as Autodefesas em “um ator político reconhecido do conflito interno (...)”.

O artigo disse que curiosamente o dia anterior Ordosgoitia sabia o nome de um dos expositores, ao tê-lo mencionado durante uma entrevista à Rádio Caracol: Mario Sandoval, “relacionado com o Instituo de Altos Estúdios de América Latina, IHEAL-Paris, com a Universidade de Sorbonne, e a Universidade de Marne-la-Vallée”.

E aqui o jornalista passa a revelar que Sandoval também está vinculado aos “meios chamados de a inteligência econômica’”. Conta como “nos finais de novembro de 2006 o website da embaixada da França no Chile indicava que Sandoval “universitário encarregado da missão na direção de Inteligência econômica da ACFCI [Assembléia das Câmaras francesas de Comércio e Indústria]”, foi parte de uma “importante delegação” em torno da pessoa de Alain Julillet – sobrinho de Pierre Juillet, ex-conselheiro do presidente Jacques Chirac – grande patrão, próximo dos meios de defesa, diretor da Direção Geral da Segurança Exterior, DGSE, em 2002, e nomeado recentemente por Nicolas Sarkozy como diretor de Inteligência Econômica no gabinete do Primeiro Ministro.”

Nessa oportunidade a autora disse que foi realizado um colóquio no Museu Militar de Santiago, onde Sandoval era um dos organizadores. Nessa oportunidade a “sociedade civil colombiana” estava ‘representada” pela “organização não governamental” Verdade Colômbia. Esta organização, disse o jornalista, é uma “para-ONG”, que em seu website “retoma como seus discursos de propaganda do líder paramilitar Castaño em 1999-2000 (...)”.

Fica uma pergunta pairando no ar e necessária de se investigar: quem ou qual instituição do Estado francês introduziu esse personagem nos meios acadêmicos universitários?

Numa entrevista feita ao semanário bogotano El Espectador o 25 de fevereiro, o segundo “professor” se descobriu. Trata-se do também argentino Juan Antonio Rubbini Melato: que não tem nenhuma relação com a Sorbonne ou o IHEAL, porém , é “assessor político” de Casntaño e Mancuro desde 1999. Segundo a redatora de LMD, os textos que publica em seu blog chamado “Paz na Colômbia”, demonstram “o desprezo total pela classe política colombiana em contraste com a exaltação fascinante de um projeto onde “a visão de um [presidente] Uribe ligado a instituição política das AUC está a ponto de fazer um milagre”.

Não se esclarece qual “milagre”. Quem sabe o de ver realizado o paraestado, esse projeto que vem em desenvolvimento há mais de duas décadas?

A esse breve, porém muito importante artigo, poderiam ser acrescentados os seguintes dados:

Desde há pelo menos dez anos os próprios paramilitares, em especial os presumidamente assassinados chefes narcoparamilitares Fidel e Carlos Castaño, vinham anunciando que estavam sendo apoiados e assessorados por personagens de meios acadêmicos na Europa, principalmente na Espanha e França.

Isso nunca foi levado em conta para a mínima investigação sequer. Como tampouco aos governos da Colômbia e França interessou investigar sobre as possíveis propriedades que os Castaño possuem em Paris, “segundo fontes policiais e os serviços de inteligência”. Segundo reconhece Carlos, no início dos noventa seu irmão “pagava dois anos de aluguel por uma habitação no hotel Ritz da cidade Luz”.

Um dos hotéis mais luxuosos de Paris. E é bom lembrar que nessas datas Fidel participava do aparato militar de Pablo Escobar, porém também era peça chave dos sérvios de segurança colombianos nos massacres realizados contra camponeses nas regiões de Urabá e de Magdalena Medio, por se presumido simpatizante das guerrilhas.

Tudo indica que desde esse tempo tiveram início as aproximações dos paramilitares com certos intelectuais de direita na Europa.

Agora, considerando o informado pelo Le Monde Diplomatique, também se deve dizer que nos “corredores” do Ministério de Relações Exteriores da França sabe-se que Sandoval, aparentemente especialista em contrainsurgência urbana, se ofereceu diante a direção da guerrilha colombiana do Exército de Liberação Nacional ELN, como intermediário para que o governo francês recebesse seus altos dirigentes. Era uma armadilha? Uma forma de buscar infiltrá-la? Não se esqueça que já nessa época Sandoval assessorava a dois dos piores narcotraficantes, paramilitares e terroristas que a Colômbia já teve, Castaño e Mancuso.

Ademais seria muito importante averiguar quem ou qual instituição do estado envolveu este personagem no mundo universitário francês.

Hernando Calvo Ospina.
Jornalista e escritor colombiano residente na França. Colaborador do Le Monde Diplomatique.

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